blood

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||Marie's point of view.||

Parece que o tempo diminui a cada ano, uma sensação estranha para alguém tão jovem. Entretanto, me sinto velha diante de qualquer situação. Até minhas articulações contribuem para que eu tenha esse pensamento contrário, mas creio que tudo isso seja efeito da gravidez.

As coisas se tornaram mais difíceis depois que Cecília parou de frequentar a mansão Bieber, pelo menos para mim. Procuro não pensar que outras pessoas se alegraram com sua licença súbita, já que o trabalho se tornou menor sem a governanta.

Dói não tê-la por perto, mas sei que foi por uma boa causa; ela estava doente e precisava cuidar de si mesma, exatamente como eu aconselhei.

— Marie, o senhor Bieber chegou e pediu uma xícara de café na sala dele, agora mesmo. — Avery diz com a metade do corpo para dentro do quarto, com a voz um tanto distante. Ela era mais uma das empregadas que trabalhavam aqui, não era velha nem jovem, sua idade parecia estar mediana, no centro. Não éramos amigas, mas trocávamos algumas palavras.

— tudo bem, já estou indo — digo, percebendo que ela não estava mais ali para ouvir a minha resposta.

Ergo-me do leito e a primeira coisa que vejo é o meu reflexo no espelho;  me sinto quase como um robô do destino, não sei o que irá acontecer, mas ele sabe e com certeza irá me controlar feito uma marionete. Sei que sou fácil de manipular, mas isso em algum momento pode mudar.

Me recuso a usar o uniforme. Na verdade, faz algum tempo que não uso e isso não é uma preocupação. Ao invés de preto e branco, uso uma calça jeans e uma blusa de mangas longas na cor branca. Há um volume em minha barriga, mas não me atrapalha a ponto de não vestir nada, pelo menos não agora.

Por um lado, agradeço por ter algo para fazer além de pensar nos fatos acontecidos. Por outro, gostaria de continuar na cama para não ter que encarar aquele que se julga tão superior.

Ao descer as escadas, noto a pouca movimentação de empregados. Se Cecília estivesse aqui, com certeza seria o contrário, uma vez que todos estavam cientes sobre sua obsessão por limpeza. Ignorei os olhares desprezíveis e segui até a cozinha, não demorando muito para encontrar a garrafa de café; o que nunca faltava. Peguei-a e despejei o líquido quente em uma xicára de porcelana, cujo o hábito de utilização era somente dele; o homem de olhos penetrantes e aparência tão manipuladora quanto suas palavras.

High bebia somente uma quantidade exata de café por dia, sabia disso pelo simples fato de ser a única com autorização para entrar em sua sala com a bebida típica daqueles que lutam contra o sono. Entretanto, juntando todas as minhas observações, ele nao parecia estar em conflito com o cansaço, apenas aprendeu a conviver com esse fato sem precisar parar seu serviço para fazer qualquer coisa que beneficie sua saúde e bem-estar. Evito pensar nisso, pois uma pontada de preocupação me atinge toda vez que o vejo com a aparência cansada, senão acabada.

De frente para a porta, e com o pratinho com a xícara na minha mão esquerda, dei apenas uma batida na madeira, anunciando a minha chegada e pedindo permissão para entrar. — qualquer tipo de som se tornou algo perturbador para Justin, por isso a proibição de gritar, mover criados-mudos e até mesmo bater mais de uma vez em qualquer coisa que esteja no interior da casa. — Aqui se tornou um inferno silencioso, contra a minha vontade.

Assim que ele autorizou minha entrada com um simples "entre" bem distante, pude girrar a maçaneta calmamente; talvez até aquilo poderia irritá-lo e aquele não era o meu objetivo. Fechei a porta atrás de mim e passei a segurar o pequeno prato com ambas as mãos, guiando meu corpo sobre minhas pernas bem cobertas. Como sempre, a sala estava mal iluminada e estranhamente quente, silenciosa e com um cheiro do que parecia ser nicotina.

Why should I care about you? - 𝙎𝙚𝙖𝙨𝙤𝙣 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora