where's god?

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|| Justin's point of view. ||

Ficar parado encarando os espaços ao meu redor nunca foi tão profícuo, porque além de me permitir contemplar as minudências daquele lugar de cores do mesmo matizamento, fez com que minha atenção fosse direcionada aos pensamentos confusos que minha cabeça era capaz de produzir; algo que realmente não tinha tempo ou eutimia para pensar sobre.

A ponta da faca agora entre meus dedos, brilhava contra a pouca luz acima de mim, levando-me a reflexões sobre coisas não tão importantes relacionadas ao que faria a seguir, com ou sem a lâmina.

Por mais que o barulho da porta fosse quase imperceptível quanto seu movimento, foi o bastante para que me arrancasse dos pensamentos mais profundos, e levasse meu olhar até a senhora de uniforme e um curativo no mínimo exagerado.

— o que deseja? — questiono, automaticamente, notando que aquela era uma das frases que eu mais utilizava nos últimos dias.

Deslizo a ponta da lâmina pela mesa, ocasionando um ruído fragmentado e de baixo som. A senhora toma a liberdade de adentrar minha sala de trabalho e fechar a porta atrás de si, tendo meus olhos atentos a qualquer mínimo movimento.

— o senhor não irá fazer nada em relação ao desaparecimento de Marie? — diz de forma que sua voz de idosa fosse um incômodo para os meus ouvidos. Afastei-me um pouco mais da mesa na cadeira rodativa, segurando a faca apenas com a mão direita.

— me dê uma boa razão para fazer algo à respeito — ergo uma de minhas sobrancelhas, talvez alterando a minha face monótona.

— por que eles a levariam? Por que precisariam levá-la se não fosse para arrancar informações sobre o senhor? — ela estava mais perto, e por mais que sua frase fosse bem pensada, não me incomodou ao extremo, já que a garota de olhos claros e cabelos castanhos não sabia sequer meu nome completo.

— o que sei sobre a garota é apenas o necessário para identificá-la; não sei o que ela fez em seu passado, talvez precise... prestar contas com alguém?! — meus olhos se voltam para o prata reluzente que pendia em meus dedos, e depois de um longo período de hesitação, a senhora sentou-se na cadeira vazia a minha frente.

— conheço a menina, ela não é dessa forma. A única razão que explica isso é o que eu disse: querem tirar informações sobre o senhor, pode ter sido a...

— Claire? — a corto com tal questionamento, virando meu rosto em sua direção, percebendo que o ato anterior da mulher cujo nome citei, deixou uma vermelhidão no rosto envelhecido de Cecília.

— era só uma suspeita senhor, mas acredito que... acredito que tenha alguma coisa a ver com o senhor, precisa ajudá-la, por favor... precisamos fazer algo à respeito, a menina não merece passar por algo assim — sua voz se apressa em dizer cada palavra, e um pequeno riso sai de meus lábios, seguida de uma negação constante da cabeça.

— saia — é só o que digo, analisando pela última vez, o metal tão precioso em minhas mãos pálidas e frias.

— mas senhor, precisamos...

— saia — e então, após longos segundos de relutância contra si mesma, a mulher se ergueu, dando as costas e seguindo seu caminho para bem longe de minha figura.

|| Claire's point of view. ||

O som exagerado trás alguns tremores ao meu corpo; palpitações constantes, fazendo parecer que meus batimentos cardíacos entram em seu ritmo frenético e agitado. As luzes coloridas se apagam, a música diminui, todas as atenções estão direcionadas ao palco espaçoso, onde ela em breve estaria. Sentada em uma poltrona de visão privilegiada para o espetáculo, tomei mais um gole de minha bebida, cujo o gosto era indefinido por conta da mistura de sabores em minha cavidade bucal.

Why should I care about you? - 𝙎𝙚𝙖𝙨𝙤𝙣 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora