the pain has to be felt

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||Marie's point of view.||

Estava me sentindo péssima. Apesar de não sentir dores ou algo do tipo, eu estava realmente péssima. Momentos passavam como um filme em minha mente, enquanto eu estava com as mãos presas a vassoura.

Meus prprios gritos de um dia não tão distantes ainda eram constantes em minha mente, e eu tentava milhões de vezes não pensar nisso, mas acontece que jamais esquecerei o dia em que minha inocência foi brutalmente arrancada de mim.

" dor é preciso ser sentida, para que um dia você possa desfrutar e saber lidar com os prazeres da vida" - meu pai costumava me dizer isso. Até hoje me pergunto o porquê dessa frase. Quando poderei desfrutar dos prazeres da vida? A dor tem que ser sentida, mas por que tão forte? Alguma vez eu mereci algo assim? Jamais acreditei em vida após a morte, mas será que fiz algo impróprio em minha outra vida?

- ei, menina - Cecília estala os dedos em frente ao meu rosto e eu balanço o mesmo, saindo de meus devaneios e olhando para ela. Nada de esboçar sorriso. A mulher olha-me com uma expressão interrogativa, tentando decifrar meus pensamentos antes mesmo de questionar-me.

- perdão... e-eu estava só pensando - gaguejo no momento de falar, percebendo que estava parada no centro da sala, com o grande "cabo" em mãos, não executando o meu trabalho. Limpar a casa do rei, soa patético. Volto a varrer o chão, de maneira lenta e preguiçosa. Os olhos presos no próprio.

- no que estava pensando, querida? - a senhora pergunta, logo seus dedos delicados e com a temperatura média toca a lateral de meu rosto, me fazendo encara-la gentilmente. - parece triste...- o dedo de minha amiga se move vagarosamente por minha bochecha, sinto a ardência em meus olhos, mas me contento. Precisava me manter firme por mais algumas horas. "Se você não é forte, ao menos finja ser"

- eu estou bem...- sussurro, parando os meus movimentos e pulsando ambas as minhas mãos na vassoura, com o cabo na altura de meu queixo. Encaro a expressão preocupada da mulher e isso me dá um certo desconforto. Odiava preocupar as pessoas. - eu só preciso ficar sozinha um pouco...talvez, ar livre? Eu poderia ir até o jardim e ficar lá por um tempo? É só até me recuperar...- falei com cautela, Cecília me parece ainda mais preocupada. Mas eu só precisava de um tempo para mim.

- não vai me dizer o que está sentindo? - ela escorrega a mão aos poucos do meu rosto, ombro e por fim pega em minha mão, segurando a mesma com afabilidade. Olhando-me como uma mãe verifica a ferida do filho, após cair de bicicleta.

- prometo a você que só estou cansada - digo em voz baixa, apertando um pouco mais a mão da senhora cujos cabelos eram poucos grisalhos. Recebi seu beijo em minha bochecha com um pequeno sorriso amigável, e a vi desaparecer em direção a cozinha. Deixei a vassoura em algum canto e logo caminhei em alguns longos passos até a porta principal da casa, que dava acesso ao jardim.

- onde pensa que vai? - uma voz masculina me faz parar no momento em que colocaria minha mão sobre a maçaneta da porta. Aquilo me faz estremecer e continuar imóvel em meu lugar.

- Cecília me liberou, eu vou para o jardim. Estou precisando de ar fresco. - disse de maneira rápida, sem olha-lo. Não precisava.

- pois bem, divirta-se. - ele disse, e logo ouço passos meio distantes em uma direção desconhecida para mim. Idiota. Como eu teria diversão em um lugar daquele?

Abri a porta e sai. Estava no fim da tarde e o sol já se escondia atrás das enormes casas em frente a grande mansão do rei Bieber. Era engraçado chama-lo desta maneira, mas é que ele agia, falava e se vestia como alguém da realeza. Mesmo sem o ver, sabia que estava trajado por seu terno formal e sua postura invejável. Pois era assim que, na maioria das vezes, ele estava vestido. A não ser na presença de amigos.

Why should I care about you? - 𝙎𝙚𝙖𝙨𝙤𝙣 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora