uncertain vision

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Justin's point of view.

Tudo estava meio escuro. Vozes me atormentam e eu finjo estar o mais normal possível, dando breves goles em meu café, que aos poucos morria em minha xicara. Reconheço alguns gritos em meio a tantos. Stephanie, Ashley, Blair, April...todas mortas por minhas mãos. Não me arrependo. Elas querem que eu me sinta culpado após tanto tempo sem trabalhar como matador de aluguel, recebendo altas quantias de dinheiro para executar o árduo trabalho de ver e sentir a morte arfando e me encarando nos olhos, para perceber alguma emoção em mim. Não viu absolutamente nada. Até gosto dos sons emitidos.

Papéis espalhados pela enorme sala mal iluminada, continham avisos nas quais eu precisava ler para manter minha insanidade o mais longe possível. "Tome o café", "não pense nas vozes", "não se mova", "não faça o que elas dizem", " olhe para um ponto fixo" , "evite procurar detalhes na sala"...dentre outras frases espalhadas em pequenos papéis de diferentes cores, no armário, na parede, no sofá, no espelho, até mesmo no teto. São mensagens, letras falantes, gritos visuais.

Ainda sim, os gemidos dolorosos conseguiam tirar minha atenção. "Se concentre" dizia um papel verde colado na tela do meu computador. Já era acostumado a ouvir tais coisas, eu não deveria me incomodar tanto.
Meus dedos correm pela borda do recipiente, levando junto um pequeno pano bordado ao redor do próprio. Sinto dores em minha cabeça. Ouço estalos de fogo. Chamas. Staissie Evans, morta em 27/07/2015 queimada. " me mate antes que a vida tenha o privilégio de fazer isso" sua voz ecoa em minha mente, me disse isso antes da morte a levar.

Me lavando quando o som se intensifica. Gritos agudos. Ando de um lado para outro. Bato em minha cabeça para tentar me livrar de tudo aquilo. Já não me agradava mais. Não abra os olhos. Não abra os olhos. Simplesmente, não. Abra. Os. Olhos. Cheiro de fumaça invade minhas narinas. Não é real. Nada é real. Não consigo ouvir minha própria voz, apenas gemidos e súplicas que parecem não ter fim. Sinto vontade de gritar ainda mais alto, para assusta-las ao invés de mim. assim eu faço, batendo diversas vezes seguidas em minha cabeça. Minha voz falha. Abro os olhos. Tudo está calmo novamente.

Caminho até a porta, um papel laranja grudado na maçaneta me impede de prosseguir meu caminho. "Volte para a mesa". Ainda não acabou, sei que não. Ao me virar, meus olhos se arregalam com a visão que tenho. Jeremy está sentado em meu lugar, a beber do mesmo café que antes eu desfrutava.

— aproxime-se, meu filho. — seu tom de voz é calmo. Já não sabia mais se aquilo era real ou apenas fruto da minha veneta.

— fiz tudo como me pediu. — a resposta é automática. Não faço o que ele exige, mantenho-me parado em meu lugar.

— vejo que está aprendendo a como se portar como um homem de verdade...

— sou um homem de verdade, pai. — o interrompo, alinhando minha postura.

— então não preciso mais ensinar a você? — dá mais um gole na xícara, aquilo me faz franzir o cenho. Lembro-me de ter bebido o último gole. Não é real.

Fechei os olhos diante da cena incerta, cerrando os punhos e esvaziando minha mente. Tento dizer palavras que me fazem voltar ao meu estado normal, mas meu subconsciente faz o favor de me calar. Um. Dois. Três. Quatro. Abro os olhos. Não há mais ninguém ali. Tudo foi apenas o começo de um pesadelo sem fim.

Why should I care about you? - 𝙎𝙚𝙖𝙨𝙤𝙣 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora