Wright

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Justin's point of view.

Flash back on

Estava em meu escritório a escrever as coisas que deveria fazer em meu bloco de notas. Nada fora do comum. Não costumava lembrar de coisas com facilidade, e isso era considerado uma falha para mim. Mais uma vez a voz da garota dos olhos cor de céu soa em bom som dentro de minha cabeça. Creck. Outro lápis perdido. Seu corpo partido ao meio por meus dedos grossos e pálidos se juntam aos outros na lixeira. Não me orgulho daquilo, bufo em frustração. O telefone toca a cima de minha mesa e eu imediatamente o atendo, levando até o ouvido e respirando no detectador de voz.

— senhor? Esta na linha? — ouço a voz de Tyler, um de meus seguranças. O próprio me parece preocupado com algo.

— o que é? — digo com uma calma  explícita em minha voz.

— encontramos uma caixa na porta principal da mansão. Há um cheiro estranho vindo dela e queremos saber quais são as suas ordens em relação a isso. — travo o maxilar, pensando em algo. Talvez pudesse ser alguma brincadeira das crianças daquela região, ou uma simples encomenda com algo ruim dentro. Crio coisas em minha mente e me esqueço de responde-lo. — senhor? Esta aí?

— traga até mim, Tyler. Desejo ver isso de perto. — estava entediado, talvez aquilo pudesse me fazer rir mesmo que tal proposta seja quase que inalcansada.

Não demora muito e Tyler seguido de Carl, adentram minha sala. Analiso seus uniformes negros e me mantenho taciturno enquanto pairo meu olhar sobre a caixa meio acinzentada que foi posta a cima de minha mesa.

— Carl veio por ter levantado a hipótese de isso ser uma bomba relógio. Ele sabe como mexer com essas coisas e saberia como desativa-la. — Tyler diz ao se afastar, meu olhar se volta para Carl e eu coço o meu queixo, voltando para a caixa.

De fato, um cheiro não tão agradável vinha dali. Consigo identificar o odor de sangue por toda a minha experiência, nada muito elevado. Meus pensamentos voam para um destino contrário. E se houver um cadáver aí dentro? Diz meu subconsciente. Um cadáver não caberia aí dentro. Respondo.

— senhor? — Tyler atrai minha atenção para si, travo o maxilar e coloco os dedos sobre a tampa da caixa, a removendo.

Meus olhos se arregalam em surpresa, não estavam acostumados a presenciar aquele tipo de cena. Um bebê. Seu corpo estava coberto de sangue seco; seus cabelos, não tão claros, estavam grudados em sua testa cinzenta. Seus lábios já não tinham o tom rosado e em suas pálpebras, existiam veias visíveis. Veias onde não havia mais nenhuma vibração. O íntimo do pequeno ser estava exposto, exibindo seu sexo sem cor. Acompanho o tubo preso a sua barriga, aquilo estava tão confuso que palavras pareciam não mais existir em meu vocabulário, por isso apenas franzi o cenho para expressar a minha indignação.

Procuro por respostas, minha visão relaxa sobre um pequeno papel que o garoto agarrava nos dedos, sem força alguma. O pego, abrindo no mesmo instante. Meus olhos apostam uma corrida para ver quem chega ao final da frase primeiro. Meus batimentos  aceleram ao reconhecer sua caligrafia perfeita.

Esse é seu filho, Enzo. Ou pelo menos era.
com amor, Claire.

— saiam. Os dois. — depois de um longo tempo lendo e relendo aquilo, foi só o que me permiti dizer. antes que eu pudesse dar a segunda ordem de maneira mais severa, ambos se retiraram sem questionar nada, me deixando à sós com o morto.

Diante daquela situação, sentia-me transbordando de um sentimento que jamais reconheci. Culpa? Arrependimento? Um certo carinho por um ser que jamais existiu em meus planos e naquele momento se encontrava morto?
Meus dedos o tocam, sua pele estava fria e sua expressão era calma. Não sentia mais seu cheiro, aquela era a menor das preocupações. Um longo e pesado suspiro é liberado, e uma lágrima solitária contorna meu rosto até finalmente pingar em sua pele. Toco a mim mesmo, secando-a de imediato. Aquilo já era o bastante.

Why should I care about you? - 𝙎𝙚𝙖𝙨𝙤𝙣 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora