Os pés pelas mãos

42 0 0
                                    

As folhas verdes, quase secas desprendiam-se das partes mais finas dos galhos por influência do vento. Os bancos de pedra, dispostos ao longo de toda a extensão de por onde o rio de Konoha passava estavam quase todos vazios. O entardecer chegava, trazendo consigo as baixas temperaturas do outono, e pouquíssimas crianças teimam em permanecer ali brincando apesar de suas mães já os terem chamado para o jantar.

Mais ao longe, namorados aos poucos começavam a se espalhar pelo belo local, aproveitando-se do ar romântico dado pelo rio para seus encontros. Os olhos azuis se focaram em um rosto conhecido, Kiba vinha na direção de sua irmã, acolhendo o excesso de sacos e sacolas que a mais velha trazia da feira, sorridentes, ambos seguiram o caminho da residência dos Inozuka.

A cena nostálgica trouxe um suspiro cheio de significados mudos aos lábios de Naruto. Há quanto tempo sua vida tinha mudado assim tão drasticamente? Quase um ano. Quase um ano que tinham voltado de uma missão, naquela mesma noite foi até a casa da amiga para convidá-la para ir ao Ichimaru Lamen, mas não a encontrou.

Achou estranho, mas fazia tempo que a amizade de Ino e Sakura estava forte novamente. Não eram raras as noites em que as duas amigas saíam juntas para aproveitar a noite. Mas a ausência persistiu, e do sumiço fez-se morte. Não acreditava nem um pouco nos nomes de Sakura e Ino gravados na pedra dos ninjas.

Tsunade o manteve ausente o tempo que pode, mas ele sabia que no fim, a loira apenas não o queria correndo atrás de mais uma pessoa. Naruto parecia ser simplório, mas o era em um todo. Via e ouvia sobre ninjas que saíam em batalhões de missões extremamente sigilosas, o único que pode ver pessoalmente de volta fora Kakashi-sensei; morto. Soube minutos atrás que Hinata e Shikamaru não estavam de volta junto com os últimos ninjas que voltaram para casa, mas os dois estavam na mesma situação de seu professor, mortos.

O que Tsunade diria agora para lhe justificar a morte de mais duas pessoas importantes? Para onde o mandaria para mantê-lo longe do foco principal disso tudo, que ele sabia, tinha algo haver com o sumiço chamado de morte de Ino e Sakura. Será que era isso que Jiraya estava lhe contando há horas? Ou essa historinha de personagens sem nomes que ele estava lhe contando era apenas mais um motivo para lhe manter distante?

Era irritante a forma como estavam o tratando. E por isso, sabia que sua amiga não estava realmente morta, pois se estivesse, Jiraya e Tsunade estariam consigo atrás de respostas. Porque se fosse isso, eles o trariam para perto e não o afastariam.

Naruto odiava o silencio, mas mesmo com o seu sensei ali sentado ao seu lado, era assim que ele se mantinha. O Uzumaki estava diferente, as duas pessoas que mais diziam o amar estavam escondendo coisas importantes de si, tinha certeza. Além disso, tinha a solidão que o fazia lembrar-se do tempo em que não tinha amigos. Não tinha como evitar o sentimento de que estava perdendo todos eles.

O pior é que isso não era apenas um sentimento. Estava perdendo seus melhores amigos, para morte. E não conseguia ligar a historinha sem noção de Jiraya com o que estavam vivendo. Por certo que o velho lhe passaria outra conversa e o mandaria para longe do foco principal da coisa toda. Mas Naruto não aceitaria desta vez.

– Está me ouvindo Naruto? Ou estou falando para as carpas no rio? – Perguntou Jiraya.

– Estou aqui Ero-sanin. – Disse em desanimo, se era mais uma conversa furada, nem tinha porque prestar tanta atenção.

Era estranho como o menino cheio de energias, que nunca calava a boca, nem mesmo nos momentos mais inconvenientes teimava agora em apresentar-se tão apáticos. Era impossível encontrar naquela pessoa o menino chio de empatia, que nunca desistia e nem olhava para trás.

Jiraya suspirou com preocupação, Naruto estava apresentando respostas completamente inesperadas de si diante de toda aquela situação. Ao invés de gritar, espernear e declarar para toda vila ouvir que não descasaria até encontrar o causador das mortes de Ino e Sakura, e então vingá-las, o loiro espremeu-se em uma cocha imaginária que parecia pesar toneladas sobre suas costas minguadas. Naruto havia pedido a postura, o peso, o sono, a vontade de falar e até mesmo o ânimo para batalhas.

O lugar certo para nósOnde histórias criam vida. Descubra agora