TinCan - Love Story[REVISÃO]

Segundo beijo

Chego em casa fervilhando de raiva, olho de relance e percebo que eles estão em casa hoje, com certeza querem jantar em família para fingirem que são verdadeiros pais, me poupem. Subo para meu quarto correndo e sem querer bato a porta com força. Estou a beira de explodir. Tiro meu uniforme as pressas e me jogo embaixo do chuveiro, meu corpo está queimando e preciso muito de uma ducha fria. Deixo a água escorrer pelo meu corpo inteiro, enquanto me perco em pensamentos. Depois da nossa conversa por mais que eu quisesse continuar sendo o mesmo Tin de antes, eu não conseguia. Estava ficando fraco e em meu coração já havia incerteza onde antes era pura convicção. Em tão pouco tempo, de repente todos os meus pensamentos começaram a ser povoados por esse jogador de futebol marrento. Até durante o banho e... ele me irritava, me causava desconforto e ao mesmo tempo me fazia sentir sentimentos muito fortes que até então eu desconhecia.

Eu não queria esses sentimentos ali, eu estava acostumado a viver com as paredes que eu mesmo havia criado em volta de mim, era confortável assim, eu estava protegido. Mas será mesmo? Será mesmo que eu não queria esses sentimentos, me sentir amado, confiança, lealdade, amizade? Era isso que me deixava irritado. Desde que esse jogador de futebol resolveu se meter no meu caminho, eu estava querendo coisas que nunca quis antes e não estava conseguindo fingir que não queria.

—Jovem mestre. — Estou terminando de secar meu cabelo, quando ouço a empregada bater na porta. Ela me avisa que o jantar está pronto. —Desço em um segundo. — Meu pai e minha mãe faziam esses jantares vez ou outra, para se gabarem, mostrarem estar de olho em mim e checar se estou andando na linha. Mamãe sempre fazia questão de convidar meu irmão, seu filho preferido, para esfregar na minha cara o tipo de filho que eu nunca iria ser. Mas estranhamente, Tul não estava presente. Se ela soubesse o tipo de gente que ele é... adoraria ver a cara dela descobrindo isso,seria um dos meus maiores prazeres na vida,mas sei que isso talvez nunca aconteça. Ele é muito bom no que faz, um mentiroso, manipulador nato e talvez se ela descobrisse gostaria ainda mais dele...

Nossos jantares em família eram como um funeral...mórbido e deprimente. Todos comendo como robôs, rostos sem expressão, palavras vazias e gestos falsos. A nossa sala de jantar era desprovida de qualquer felicidade, nada era verdadeiro ou feliz ali. Exceto Phul meu sobrinho e sua mãe, esposa de Tul que não sabiam de nada, eram dois ingênuos nesse lugar e eu fazia questão de tratá-los da melhor maneira possível. Eles não tinham nada a ver com tudo que me haviam feito e com o quanto de veneno era destilado nesse lugar.

—PORRA!—Tenho que descer para o jantar ou eu poderia bater o pé e dizer que não quero, mas isso me renderia várias dores de cabeça e já estou farto.

Vamos lá Tin, você consegue! 

 Dou um suspiro profundo e me preparo para entrar em combate. Chegando na sala de jantar, meu coração acelera, minha respiração falha e cerro os punhos com força, mas dou um suspiro pesado e afasto qualquer sentimento de fraqueza. Caminho sem expressão alguma e me sento na mesa.

— Oi, Tin. Faz tempo que não nos vemos.

— É mesmo? Eu nem tinha notado. — Falo isso com a voz carregada de sarcasmo. Deveria ter dito em um tom mais normal e seco, mas não consegui. Ótimo Tin, já começou errado...

—Como está indo em seus estudos?Ouvi dizer que se sai muito bem na universidade. 

—Sim. — Só digo isso e mais nada, não tenho vontade de responder, mas  repondo no automático. Como se ele se importasse...Para minha sorte, não conversamos muito. Ele me faz algumas perguntas sem muito interesse e minha mãe nem me olha... típico. Entre ouvir ela falando de tudo que meu irmão já fez e eu não, em como eu deveria seguir seu exemplo e ela nem me olhar, prefiro que ela nem me olhe.