Corte de Estrelas e Luz Solar

Capítulo 38

Cada passo doía. Era difícil manter a cadência dos movimentos para que ninguém percebesse a completa agonia em que Sky estava. A comida não tinha gosto, e o sono era preenchido por pesadelos, e até mesmo a brisa suave que tocava sua pele parecia um milhão de navalhas a ferindo. Mas mesmo assim a jovem estava de cabeça erguida quando entrou na sala de reuniões.

Todos os Grão Senhores estavam presentes, até mesmo sua mãe, parecendo magra e pálida. Isso entristecia tanto a guerreira! E ainda mais por saber que aquilo iria apenas piorar quando enfim partisse. Procurou os olhos de seu pai, implorando. O violeta parecia ter escurecido, sem aquele característico brilho que remetia às estrelas.

A conversa parou quando a viram, mas Sky ignorou os olhares consternados que recebeu. Sabia que era apenas um reflexo destruído de si mesma. Sua pele estava horrível, seca e descamando, os cabelos estavam desbotados e quebradiços, e as asas... não pensaria no que elas se tornaram.

Ela caminhou até uma cadeira livre entre Mena e Mand, sentando-se. Não pode deixar de se orgulhar de si mesma por não fazer nenhuma careta. Doía. Doía muito. Mas doeria ainda mais se ela permitisse que as pessoas que ela amava sofressem ainda mais por causa disso.

- Agora que todos estamos aqui, eu vou direto ao ponto. Clythia foi localizada. - Helion estava mortalmente sério, e quando olhava para a jovem, havia algo em seus olhos dourados, se agitando. Como se ele próprio sentisse dor. Sky não entendia o motivo, mas respeitou-o por ocultar seu desconforto.

- Aonde? - A voz de Armand parecia aço, suas mãos fechadas em punho.

- Na Corte Primaveril. Pelo que meus informantes me contaram, ela esta atrás de Tamlin. Ele foi visto por último correndo em forma de besta por lá, ferido.

O silêncio depois dessas palavras foi pesado, e quando Sky viu Armand se preparando para levantar, agarrou seu pulso. Ele olhou para ela, dor e amor parecendo tão óbvios em sua expressão que demorou um momento para a jovem conseguir encontrar a própria voz e fazê-la sair firme.

- Eu vou.

Todos pareceram aturdidos, e então começaram a falar todos ao mesmo tempo. Ela esperou e então ergueu uma mão, pedindo silêncio. Ficou surpresa ao ser prontamente atendida.

- Eu vou. O livro que ela tem, e o tipo de feitiço que pode lançar... - Acenou para si mesma com a mão livre. - Nenhum de vocês deve se arriscar tanto. - Já que ela era a mais indicada, pois já estava morrendo mesmo. Não disse isso, mas todos pareceram entender mesmo assim.

Feyre balançou a cabeça em negativa, os olhos ficando vermelhos e o rosto ainda mais pálido. Sua mão agarrava à de Rhys como se fosse a única coisa a mantendo firme.

- Não! De jeito nenhum! Estamos procurando, vamos encontrar uma forma de desfazer isso! Você só... só precisa aguentar mais um pouco. Nós vamos... - Mas a emoção a dominou, o choro a impedindo de falar.

Seu pai ficou de pé e a abraçou, apertando-a contra o peito e deixando que a parceira soluçasse. Sky também se levantou e foi até onde eles estavam. Tocou o rosto da mãe, novamente sentindo as lágrimas frias. Que coisa cruel e doentia que só o que aliviava a sua dor fossem as lágrimas das pessoas que ela amava.

- Mãe, não. Por favor, eu preciso que você entenda. Que você aceite. Não há uma forma de impedir a minha... - Mas nem a própria Sky conseguiu dizer a palavra. - Eu escolho fazer isso por vocês. Por todos vocês. Se é pra cair, então eu escolho cair lutando. - Com um esforço descomunal ela força um sorriso quando sua mãe a olha. - Eu amo vocês dois. E nunca, nunca poderia pedir pais melhores. Por favor, permitam que eu faça isso por vocês.

Ela é envolvida então pelos dois, e se permite sentir seu cheiro, seu calor uma última vez, e mais rápido do que é possível tantas lembranças felizes a invadem, momentos de sua infância, e se dá conta que são eles mostrando quanto amor e alegria e orgulho sentem. E mesmo sem lágrimas para derramar, Sky se permite chorar.