Capítulo 24

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Finn caminhava sem rumo pelas ruas da cidade, e acabou por tomar o caminho da mansão. Mas pouco antes de chegar, um jovem o chamou de longe. Parando de andar, o loiro esperou que o rapaz se aproximasse.

- Senhor Finnigan? - O recém-chegado confirmou. O outro assentiu com a cabeça e pegou a carta que lhe foi estendida então. - Uma correspondência importante para o senhor.

Finn olhou o lacre que não trazia nenhuma identificação na cera.

- Quem...? - Erguendo a cabeça ele começou a perguntar, mas o mensageiro já estava fora de vista. Estranho.

Com o envelope na mão, ele caminhou até a ampla varanda e sentou-se à uma das mesas que ficavam dispostas por ali. Quebrou o lacre e logo de cara não reconheceu a letra elegante que ocupava a folha dobrada lá dentro. Então começou a ler.

Eu não espero que você acredite nas palavras que estou escrevendo aqui. Principalmente por eu não poder me identificar; mas eu espero que você ao menos se questione sobre o que lerá a seguir. As pessoas em quem você acredita, pessoas que você tem chamado de família vêm mentindo por toda a sua vida. Há muito que você não sabe, mas eu contarei a você agora.

O seu pai é Tamlin, Grão Senhor da Corte Primaveril. Ele esta vivo e mantido acorrentado por mais de cem anos pelo pai daquela que você chama de irmã.

A sua mãe é Clythia, assassinada brutalmente duas vezes pelos 'amigos' dos Grãos Senhor e Senhora da Corte Noturna.

Nenhum deles te contou isso porque a intenção era mantê-lo dócil e bem dominado, para controlar a Corte Primaveril.

Não pense nem por um momento que há sentimentos verdadeiros para essas pessoas, só o que importa para eles é o poder, e nesse jogo você é e sempre foi um peão descartável.

Pergunte para eles, confronte-os e você descobrirá tudo. Há muito mais para você do que ser tratado como um inferior por um povo que não é seu, numa terra que não é sua. Busque a verdade e por uma vez tome suas decisões sozinho, sem se deixar manipular.

A única garantia de que o que lhe escrevo é verdade é a certeza de que nenhum deles poderá negar esses fatos.

Espero que sua vida enfim volte a ser sua.

A visão de Finn ficou ofuscada quando ele abaixou lentamente o papel. Não enxergava nada além da tinta preta em que a carta havia sido escrita. Sua respiração estava rasa e sua mente rodava um pouco.

Ficou ali sentado não sabia por quanto tempo, apenas as lágrimas escorrendo por seu rosto. Havia uma parte dele bem pequena, mas gritando de forma ensurdecedora, que sabia que aquilo tudo era verdade.

Pensou em Sky o intimando a ser seu irmão... lembrou de Cassian se ajoelhando à sua frente para atar de forma correta suas botas de treino. Pensou em Nestha com a expressão mais suave do que deixava os outros verem acariciando seus cabelos, uma vela acesa impedindo o quarto de mergulhar inteiramente na escuridão da noite. Pensou em Azriel o ensinando a voar, e na forma como Finn fazia as asas desaparecer depois de subir alto no ar e suas gargalhadas fininhas em sincronia com a risada profunda do guerreiro quando este o agarrava no ar.

Nem tudo podia ser mentira.

Por favor, que não fosse mentira.

Helion e Ignae vinham caminhando lado a lado, distraídos um com o outro, e se surpreenderam ao encontrar Finnigan sentado no chão da varanda abraçando com força os joelhos e com o rosto escondido. Se isso não fosse indicação suficiente de que algo estava errado, os balanços que seu corpo dava com os soluços que ele emitia foram o que os fez se apressar até o jovem.

Corte de Estrelas e Luz SolarOnde histórias criam vida. Descubra agora