Corte de Estrelas e Luz Solar

Capítulo 6

Sky estava com um robe preto enrolado no corpo enquanto andava em direção à porta que se abria para a biblioteca. Era madrugada e seu sono havia sumido depois de acordar hiperventilando com um sonho pra lá de constrangedor. Agradável, mais que agradável - mas constrangedor. No sonho Armand aparecia a olhando intensamente, e ia se aproximando dela mais e mais. Sky sentia as costas baterem numa parede e então ele a  encurralava. Os dois ficavam a milímetros um do outro e aqueles olhos pretos dele iam passeando lentamente por seu corpo. Começava na boca, depois para o pescoço e então os seios. Sim, ela estava completamente nua no sonho. Então descia para sua barriga e ainda mais abaixo. Ela se contorcia contra à parede, pois praticamente sentia aquele olhar como mãos explorando cada pequena parte escondida de quem ela era. Sua respiração ficava ofegante e ela separava os lábios para implorar pelas mãos e a boca dele onde seus olhos a perfuravam, mas antes de emitir qualquer palavra ele retorcia os lábios num sorriso perigoso e dizia apenas uma palavra.

— Logo.

E sumia. Simples assim ele desaparecia e a deixava lá nua, arfante e necessitada.

Se alguém lhe perguntasse ela responderia que havia sido a frustração que a fez acordar. Até mesmo em sonhos ele era irritante!

Passou pela porta e estacou, maravilhada, suspirando um “oh!” ao ver a quantidade de livros dispostos em prateleiras e forrando as paredes de um cômodo quase do tamanho do resto da mansão. Era magnífico. Tochas estrategicamente posicionadas, fixadas em suportes de ouro ornamentados se acendiam conforme ela se aproximava de cada sessão, se apagando novamente quando ela se afastava.

Pelo que pareceu horas - ou segundos - ela se perdeu no simples ato de contemplar os livros: percorrer os dedos pelas lombadas, folhear lentamente as páginas e admirar as capas e ilustrações.

Porém não estava esperando o que encontrou ao chegar ao final do amplo salão. Em uma das escrivaninhas que estavam dispostas junto com sofás estofados confortavelmente, Armand estava absorto escrevendo. Ela parou, e recostada numa das prateleiras ficou observando a forma como ele ia consultando alguns livros e anotando o que quer que estivesse encontrando. O jeito como os cabelos pendiam para frente com ele encurvado, caindo na testa, as mãos longas que deslizavam pelas páginas que ele pesquisava quase como se as acariciasse, o ligeiro franzir do cenho dependendo do que lia. Ela podia ficar ali até amanhecer o observando.

— Por que você não se senta? Vai acabar dormindo em pé aí. — Ele disse, sem erguer os olhos, surpreendendo-a.

Uma descoberta: se você ordenasse às suas bochechas que elas não avermelhem sob ameaça de as cortar fora, elas obedecem.

— O que você esta fazendo? — Perguntou num tom neutro ao se aproximar.

Deu uma boa conferida em seu peito musculoso aparecendo pela frente da camisa parcialmente aberta.

— Compilando alguns feitiços. É um projeto meu. — Ele por fim ergueu os olhos, se demorando em seu corpo ao notar o robe preto e curto que ela usava. — E você?

Dando de ombros ela se sentou no sofá mais próximo, admirada em quanto era confortável. Correndo os dedos pelo veludo comentou num tom de voz baixo, quase consigo mesma.

— Eu poderia ficar algum tempo num conforto como esse lendo… algo em torno de dez a quinze anos. — Sorriu de leve e olhou para ele, que novamente a observava com aquele ar estranho. — Tive um sonho… perturbador. — Não conseguiu dizer que o sonho havia sido ruim, não com aqueles olhos pretos reluzindo com o fogo das tochas a olhando. — Se importa se eu ficar aqui um pouco?

Ele ergueu uma sobrancelha para ela, uma pergunta não dita em sua expressão.

— Uma trégua? Apenas por esse fim de  madrugada. — Ela deu um sorriso de canto de boca para ele, tombando a cabeça de lado ligeiramente.