Capítulo 3

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PRIMEIRO DIA

Deitado em uma cama que não era sua, num quarto que não era o seu, Armand não conseguia dormir. Olhava para o teto mas a única coisa que enxergava era um par de olhos azuis que brilhava como se contivesse a luz das estrelas presa ali dentro. Por que ela tinha que ser tão linda? O que havia acontecido com a Femme Fatale que haviam descrito para ele? Certamente não era a mulher sem jóias ou maquiagem que havia se inflamado pelo mero direito de 'agradecer'. A ele, e esse era o detalhe mais irônico. Aquilo estava profundamente errado.

Sentou-se e olhou o cômodo. Maldita fosse por ter vindo parar ali. Ele poderia estar em sua cama agora, dormindo profundamente para poder levantar bem disposto e treinar os novos recrutas. Mas não, ao invés disso ele tinha que desfilar por aí parecendo um inútil.

Levantou-se e caminhou pelo quarto, abrindo a janela com brusquidão. Respirou fundo ao inalar o ar frio da madrugada, sentindo-se melhor instantaneamente. Não suportava lugares fechados, não conseguia usar roupas apertadas, não tinha nenhuma jóia que usasse ao redor do pescoço ou dos pulsos. Antes que seus pensamentos seguissem mais profundamente por esse caminho, ele se afastou, sentindo agora o vento frio nas costas nuas. Ao lado da cama suas roupas esperavam numa pilha. Vestiu-as sem saber ao certo o que faria em seguida. Se estivesse em casa iria para a escrivaninha escrever, ou então leria um pouco, ou até ouviria as músicas que ele tinha preservado em caixas encantadas. Refletiu sobre isso e acabou por escolher a única opção disponível que ele tinha ali. Saiu do quarto rumo à biblioteca.

Quando o dia amanheceu ele voltou ao quarto para se arrumar, um mal pressentimento em deu peito. Seu pai havia lhe mandado um lembrete mental durante a noite, dizendo que ele teria que se comportar e que sua missão era servir de guia para Skylar e Finnigan durante sua estadia.

Por mais que tivesse detestado a ideia, sabia que era necessário, afinal tinha que garantir que a jovem não descobrisse nada sobre ele. Embora algo lhe dissesse que ela não iria sair fofocando, não estava disposto a testar essa teoria.

Sky estava do lado de fora da casa, quase quicando de um pé para o outro enquanto esperava que o guia aparecesse para conduzir Finn e ela até onde a Vanguarda Luminífera geralmente treinava.

- Se você continuar se remexendo assim suas asas vão acabar saindo. - O amigo comentou, recebendo um mostrar de língua em resposta. Erguendo os dedos indicador e médio ele fez um gesto de tesourar com eles, fazendo a amiga rir.

- Eu não consigo ficar quieta. Eu realmente vou fazer isso, vou conhecê-los. Finn, eu ainda não estou acreditando. - Sua voz era empolgada como a de uma menininha na manhã de seu aniversário, indo abrir os presentes.

Continuaram numa conversa leve até avistar Armand se aproximando. Novamente Sky ficou sem fala com a beleza dele. Alto e de porte ereto, seus cabelos um pouco mais longos voavam de leve com a brisa. Os lábios bem desenhados eram naturamente rosados e os cílios eram longos e retos, em perfeita harmonia com as sobrancelhas grossas e arqueadas. Parecia uma versão melhorada do pai, se é que dava pra deixar Helion ainda melhor do que parecia. A única diferença realmente marcante era que os olhos do Grão Senhor pareciam mel escorrendo de uma colher, quentes e doces e gentis. Os olhos de Armand pareciam buracos sem fundo, um poço de águas do preto mais puro, fazendo com que ela quisesse pular sem medo de se afogar.

- Eu acho que vocês não se odeiam tanto assim. - Finn cochichou, um sorriso malicioso no rosto. Ela olhou para ele de testa franzida. - O jeito que vocês se olham. Chega a ser engraçado. Parece que vocês não sabem se voam um no outro para se matar ou para rasgar as roupas e t...

- Você esta delirando. - O tom de Sky saiu monótono enquanto ela virava as costas para o caminho que Armand ainda percorria. - Você andou lendo os romances de tia Nes de novo? Ou foi a Pan que mandou outra carta pra você? - Perguntou marotamente.

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