Capítulo 35

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UM MÊS DEPOIS

Até mesmo o mar parecia cinzento e sem vida. As cores da ilha de Hybern eram mortas, e refletiam as mentes e corações de seus moradores. Parado em uma grande janela que ocupava metade da parede do quarto de Clythia, Tamlin recordava dos cheiros e aromas da Corte Primaveril, que certa vez foi o seu lar.

- Você esta quieto demais. - De seu lugar mais atrás, refestelada na grande cama de dossel, Clythia o observava com olhos de falcão.

- Estava pensando na Corte Primaveril e em como ela é diferente daqui. - Ele respondeu com sinceridade enquanto dava as costas à paisagem e observava a fêmea à sua frente.

No último mês ela vinha observando-o com atenção, e o Grã-feérico poderia apostar que a rainha não havia acreditado quando o viu implorar por misericórdia e ajuda. A prova disso era que demorou mais de duas semanas para ela vir até ele durante a noite. Mas veio.

- Esta com saudade de casa, querido? - Os olhos castanhos se estreitaram minimamente quando a ruiva perguntou isso.

Meneando com a cabeça, Tamlin encolheu os ombros largos, que recuperavam a força e constituição de outrora.

- Não. Eu não consigo pensar em Prythian sem sentir ódio. - Novamente ele optou pela verdade.

O rosto desfigurado de Clyrhia se abriu num sorriso com aquelas palavras, e ela se levantou com gestos ondulantes quase reptilianos e veio ao encontro dele. Não se incomodou de cobrir o corpo nú. Passando os braços pelo pescoço de Tamlin, pousou o rosto em seu peito, a pele negra e ressecada da metade destruída pinicando a pele exposta.

- Não se preocupe. Nós os faremos pagar. Assim que você estiver totalmente recuperado nós atacaremos e reduziremos aquele continente à nada.

Respirando fundo, o macho disse baixinho.

- Sim. Todo um continente riscado do mapa. Eu gosto de como isso soa. - E passou os braços ao redor dela, a estreitando mais perto de seu corpo também despido.

Por cima do topo da cabeça da ruiva ele olhou o grande espelho que ficava do outro lado do quarto. Observou a forma como suas garras se expandiram. Teria sido fácil apenas cravá-las nas costas de Clythia. Mas não bastaria e a chance de ouro que havia conquistado seria desperdiçada.

Então retraiu aquelas garras e desceu as mãos pelas costas brancas dela, agarrando a parte de trás de suas coxas e a erguendo. Teve que reprimir a repulsa quando ouviu a risadinha que ela soltou, ou o toque de sua língua no pescoço. Carregou-a até a cama e tratou de garantir que Clythia continuasse sem desconfiar de nada.

********

A noite já havia avançado bastante e Tamlin ainda não havia conseguido dormir. Levantou devagar da cama e voltou para a mesma janela em que estivera parado mais cedo. Sua boca tinha um sabor repulsivo de bile, como se ele estivesse prestes à vomitar. Geralmente era assim que se sentia depois de satisfazer a rainha de Hybern.

A vadia de Clythia.

Fechou os olhos e voltou a reviver a mesma cena que parecia impedí-lo de dormir todas as noites.

LEMBRANÇA:

A sensação do sol em seu rosto era a coisa mais maravilhosa que já havia sentido. Ao menos essa era a impressão que ele tinha depois de ficar mais de cem anos confinado no subsolo. Havia rastejado para cima, ignorando os olhares ocultos nas sombras enquanto seguia devagar para fora de sua cova.

Não havia lhe sobrado forças suficientes para atravessar, se transformar ou usar magia de qualquer forma que fosse. Foi quando deu-se conta que provavelmente iria morrer ali no topo da montanha que Rhysand usava como casa. Curiosamente esse pensamento não o perturbava tanto. Morreria livre, sob o brilho do sol.

Corte de Estrelas e Luz SolarOnde histórias criam vida. Descubra agora