Prólogo

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- Meu tio? Você não pode ser meu tio. Tios têm que ser velhos. - Pandora respondeu, depois que Armand lhe contou que eles eram parentes, já que era irmão do pai dela, que o fazia seu tio. - Vamos fazer assim: você pode ser meu primo. Você tem cara de primo.
Sky balançou a cabeça de onde estava sentada pintando um gato numa folha de papel. Franziu o cenho, pensando que ela pintava tão bem quanto seu pai. Amassou o desenho horrível e disse:
- Não é assim qu3 funciona, boba. Além do mais, eu já sou sua prima.
- E daí? Eu posso ter mais primos além de você! - Pan balançou os ombros e voltou a olhar para Mand. - Eu aceito ser sua prima. Sobrinha não. - E cruzou os braços com teimosia.
- Esta bem, então. - O menino respondeu.
As duas olharam para ele, notando que ainda parecia meio triste. Essa última semana toda ele esteve assim, mesmo depois que saiu da cama.
- Quanto tempo você ainda vai ficar? - A ruivinha perguntou num tom mais suave.
- Eu vou pra casa com meu pai daqui a pouco.
- Oh. - Ela disse, sentida. Primeiro Finn e agora Mand.
Skylar estava quieta, e olhou intensamente o pequeno, que a olhou de volta com uma pergunta nos olhos. Levantando-se ela saiu dali sem se despedir.
- Esta na hora, Armand. - Helion apareceu então, e com um abraço de despedida entre as duas crianças, eles atravessaram para a Corte Diurna.
E essa foi a última vez em cem anos que Armand e Skylar se viram.

O acampamento illyriano ainda era meio assustador, mas ainda assim a pequena estava empolgada por ter voltado. Estava ansiosa para começar seu treinamento, e com muito custo havia convencido sua mãe a deixá-la vir.
Sua tia Nestha apareceu na porta do grande chalé em que vivia com seu tio Cassian, e soltando da mão de seu pai, a menina correu para lá.
- Azriel e Finnigan também já estão aqui. - A mulher informou ao cunhado. Rhys concordou com a cabeça e todos entraram.
Um cheiro gostoso de biscoitos e chá aquecia o interior do lugar, lhe dando um ar acolhedor. Sky e Finn já estavam sentados no sofá conversando sobre os treinos.
Colocando xícaras na mesa, Cassian ajudou a parceira a servir o lanche, já que esta estava numa fase avançada da gravidez e precisava evitar esforços. Isso era o que ele lhe dizia sempre que ela reclamava que estava sendo superprotetor.
- Os quartos de ambos já estão preparados, assim como o programa de treinamento. - O macho informou aos dois amigos. Tanto Rhys quanto Azriel concordaram enquanto bebericavam suas bebidas fumegantes.
- Eu já ajudei o Finn a criar as asas dele, e elas são tão boas quanto as de um illyriano. - O ultimo comentou. - Porém ele não quer que elas sejam pretas. São cor de mogno. Se por acaso algum dos outros lhe causar problemas por causa disso... - Ele disse, parecendo preocupado. Cassian o cortou.
- Nós vamos resolver. Não se preocupe.
- Ele disse o motivo da diferença da cor? - Rhys perguntou, pensativo.
- Ele disse que se ele colocasse asas pretas ia parecer que ele estava tentando ser um illyriano sem ser. Que poderiam ficar bravos. - Nestha respondeu então. Lançou um breve olhar para o menino que ria contente, as orelhas tendo sido substituídas por orelhinhas de gato, como sempre acontecia quando ele estava feliz. - Disse que gosta dos illyrianos, mas que tudo bem por ele ser diferente.
Os adultos ficaram em silêncio então, tomando chá e pensando. Finnigan às vezes falava e fazia coisas incompatíveis com sua pouca idade. Isso dizia muito sobre como vinha sendo tratado na Corte Primaveril.
Depois de um tempo e de o lanche ter sido tomado (as crianças preferiram se encher de bolo), Rhys se levantou para partir.
Sky veio correndo e se atirou sobre ele.
- Você vai vir me ver, não vai? E a mamãe, e os bebês, e o Roran, e a Bron, e a tia Mor, e... - Sua lista foi aumentando enquanto seus lábios tremiam, mas seu pai a conteve.
- Viremos todos vê-la, meu bem. E no solstício você vem pra casa, não se preocupe.
A pequena concordou com a cabeça e enlaçou os braços ao redor do pescoço do pai, num abraço surpreendentemente forte.
Com mais um beijo em seus cabelos ele então saiu e se foi, deixando a filha para começar essa nova fase em sua vida.

Já era noite e o acampamento parecia sossegado. Sky já estava deitada, assim como Cassian e Nestha, mas Finn não conseguia dormir.
Ainda pensava em quando Az apareceu e lhe explicou que seu pai estava longe numa viagem e que ele teria que ficar ali até que este voltasse. No fundo ele não acreditou realmente naquilo, mas estava feliz. Tinha amigos, brincava e sorria, podia correr e pular e rir alto e bater portas sem ser repreendido. E havia pessoas que olhavam para ele como se o menino fosse importante. Ninguém nunca o olhava com aqueke rosto serio que seu pai sempre tinha. Não conseguua lembrar de vê-lo sorrir para Finn nenhuma vez.
Ele também pensava em Pandora e em como havia sido difícil se despedir dela. Sentia mais saudades da menina que do próprio pai.
- Por que você esta acordado? - Sky perguntou com voz sonolenta.
Estava parada na entrada da sala, os cabelos pretos desgrenhados, um bicho de pelúcia debaixo do braço e um pijama amarelo.
- Não consegui dormir. - Ele respondeu, encolhendo os ombros. - Sky, e se eles não gostarem de mim?
- Ah, eles não vão mesmo. - Quando viu os olhos do amigo se arregalarem, ela explicou, vindi se sentar ao seu lado. - Eles nunca gostam de ninguém diferente. Não vão gostar de mim também, porque eu sou menina. Mas eu nem ligo. E você não tem que ligar também.
O pequeno ficou pensativo, admirado pela coragem e determinação da amiga.
- Estou feliz por você também ter vindo, Sky. - Ele admitiu. Ela concordou com a cabeça.
Levantou e parou na frente dele, e depois de um grande bocejo falou.
- Vamos fazer assim: você quer ser meu irmão? A Pan escolheu que o Armand vai ser primo e não tio dela. Então eu também posso escolher que você seja meu irmão. O que você acha?
- Não acho que dê pra eu ser seu irmão assim, Sky. - Finn respondeu com cautela.
- Não interessa! Você quer ou não quer? - Ela retrucou com intensidade, colocando as mãos na cintura e nem se importando quando seu urso caiu no chão.
- Esta bem então. Eu não tenho irmãs, mesmo. Mas se tivesse iria gostar que ela fosse como você. - Ele por fim concordou.
Balançando a cabeça de novo, Skylar então explicou.
- Então nos treinos eu te ajudo e você me ajuda, e pronto. E como meu irmão você ten que ne obedecer em tudo também. - Ela acrescentou a últimanparte depois de pensar um pouco. Ao notar a expressão meio duvidosa do menino ela disse.
- Vai ser divertido! Agora anda, vá pro seu quarto dormir, senão amanhã nós vamos apanhar muito no treino por causa do sono.
E pela primeira vez (a primeira de muitas!) ele a obedeceu, mas seu coração estava mais leve. Dormiu sorrindo ao pensar que tinha uma irmã aqui ao seu lado e uma verdadeira amiga o esperando lá fora.

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