Capítulo 8

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Andando pelo corredor, Armand acabou parando na frente da porta de Aaron. Hesitou por um instante, sem ter certeza se deveria bater, mas ouviu a voz do amigo falar lá de dentro.

— Entre de uma vez ou vá embora. Me irrita você plantado aí fora.

Soltando uma risada baixa, ele abriu a porta e entrou.

Aaron estava jogado na cama, um braço cobrindo os olhos e os cabelos ruivos caindo sobre o torço sem camisa. Continuou assim mesmo depois que Armand se sentou na cadeira ao seu lado.

— Você não pode ficar trancado no quarto para sempre. — Ele disse com suavidade.

Os lábios bem desenhados do ruivo retorceram em escárnio.

— Espero que eu não vá precisar. Ou eles de fato vão ficar aqui para sempre?

O outro ficou em silêncio, soltando apenas um suspiro cansado em resposta. Isso atraiu a  atenção do mais velho, que por fim abaixou o braço e o olhou.

— Eu não consigo. Não posso simplesmente ficar ali ao lado dele. Os dois se parecem tanto que a bíle sobe pela minha garganta só de o olhar.

Armand cobriu o rosto com as mãos e apoiou os cotovelos nos joelhos, os ombros curvados para frente. Essa postura surpreendeu Aaron, que se aprumou na cama, ficando recostado nas almofadas para falar com o amigo.

— O que esta realmente acontecendo? — Perguntou com cautela.

O moreno balançou a cabeça, descartando a pergunta. Olhou para Aaron e disse.

— Talvez na aparência se pareçam sim, mas na personalidade eles não têm nada em comum.

O ruivo se enrijeceu, apertando os lábios e olhando para frente com raiva. Armand voltou a falar.

— Eu preciso que você tente, Ron.

O outro se sobressaltou ao ouvir aquele apelido. Fechou os olhos e a lembrança clara como se tivesse acabado de acontecer lhe voltou à mente.

Estava deitado numa cama estranha, num lugar estranho, e um adolescente com idade inferior a sua estava ao seu lado. Segurava sua mão. Dois curandeiros lhe examinavam o corpo, expressões martirizadas no rosto. Ele queria gritar que partissem, que parassem de lhe olhar com pena. Mas um puxão em sua mão desviou sua atenção.

Olhou nos olhos pretos de seu acompanhante e suspirou alto com o alívio. Não havia pena ali, apenas compreensão e empatia.

— Eu me chamo Armand. Qual o seu nome?

Depois de lançar mais um olhar cauteloso para os curandeiros, ele voltou a olhar para Armand e sussurrou.

— E-eles me chamavam d-de Aaron. — Sua voz gaguejou por pura falta de uso. Todas as vezes que a usava era para gritar e suplicar.

Depois de uma longa pausa em que Armand apenas olhou para ele longamente, este voltou a falar.

— Vou te chamar de Ron então. Tudo bem?

Aaron arregalou os olhos, engoliu em seco e reprimiu as lágrimas. Não mais Aaron, não mais se encolher ao ouvir esse nome, não mais antever o que lhe seria feito depois de ouvir essa pequena palavra. Apertou os dedos de Armand com toda a força que se corpo esquálido e atrofiado conseguiu produzir e concordou com a cabeça.

— Ron. — Disse, testando a palavra na língua. Gostou. Ron. — Repetiu. Sua voz saiu um pouco mais forte, e ele desejou de coração saber como retribuir o sorriso que recebeu.

Esfregou a nuca nervosamente, abaixando a cabeça, sem nada responder.

Mas Armand viu algo ali, pois apesar da própria disposição de humor, deu um sorriso pequeno e respirou fundo, mais aliviado.

Corte de Estrelas e Luz SolarOnde histórias criam vida. Descubra agora