Capítulo 17 - O garoto que é tratado como um lixo

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Nós ouvimos um grito e ficamos atentos. À essa altura, meus amigos e eu já estávamos fora da área comercial do bairro onde situava-se a Lanchonete Lendária. Havia milhares de prédios velhos por ali. Um lugar provavelmente macabro à noite. Eu definitivamente não passaria por aquela rua sozinho.

- SOCORRO! - A mesma voz que gritara momentos antes, pediu.

- O que foi isso? – Joe estremeceu completamente.

- Vem dali – eu apontei para uma das ruas adjacentes à nossa frente. Olhei para Natsuno, que assentiu com a cabeça. Precisávamos estar preparados.

- Odeio quando isso acontece – o grandalhão murmurou, quando corremos naquela direção.

Assim que dobramos a esquina me surpreendi: Iago e Léo estavam prestes a se matar! A cena ocorria de uma forma muito rápida, porém eu a assistia como se estivesse passando em câmera lenta: meu amigo caçador esperava o garoto-cachorro com a sua espada de esgrima em mão, para então se defender atacando. O único problema era que Léo simplesmente estava pulando para a morte.

- Punho de fogo! – embora estivesse do outro lado da rua, consegui golpear somente a Takohyusei. No mesmo instante, Joe apressou-se e agarrou Leonardo por trás numa agilidade incrível, o imobilizando com força.

Soltei um longo suspiro de alívio

- Diogo? Natsuno? – Iago nos encarou.

Até pensei que seríamos atacados pelo Cordeiro, mas Iago apenas recolheu seu sabre, que estava no meio do asfalto. Enquanto isso, Léo tentava soltar-se do grandalhão feito um animal louco, rosnando enquanto se debatia. A nossa sorte era que Joe tinha superforça.

- O que está acontecendo aqui? - perguntou um rapaz que estava por perto. Vestia camiseta simples e bermuda jeans, aparentemente um pedestre comum. Ocorreu-me que fora ele o autor dos gritos, o que me fez perceber por que Leonardo e Iago estavam a ponto de se matarem.

- Não o machuque - pedi ao grandalhão. Joe o trouxe para a calçada, com olhos tão esverdeados quanto confusos. Iago disse para o homem ir embora e Natsuno olhou para o garoto-cachorro com curiosidade.

Leonardo continuava descontrolado. Estava da mesma forma que o vi pela primeira vez. Seus cabelos negros desciam até o pescoço numa bagunça imensa. Ele era magro, e um pouco menor do que eu. Fedia a cachorro molhado. Tinha dentes caninos, assim como o focinho. Pelos brotavam de sua pele, seja nos braços, seja no rosto. E seus olhos pareciam ainda mais selvagens do que os de um simples cão enfurecido.

- O que eu faço? - Joe parecia impaciente.

Pensei. Leonardo claramente estava fora de si. Da outra vez que o encontrei, tive que nocauteá-lo com o meu Gancho-faísca – golpe que surgiu na época, até. Parece que foi há um milhão de anos, mas faz apenas uma semana. Tecnicamente, oito dias.

Como pará-lo sem machucá-lo?

- Você o conhece? – Iago me perguntou, reunindo-se a nós na calçada. Ele vestia camiseta simples, um short verde-escuro e chuteiras. Acho que vinha de um treino.

- Conheço – respondi, atraindo o olhar de Natsuno. – O encontrei esses dias, por aí. É um místico que possui o Modo Ataque.

- Que mal consegue se controlar – ironizou o Kogori, voltando a encarar o garoto-cachorro.

- Longa história – falei.

- Entendo – disse Iago, fitando Leonardo com uma calmaria estranha.

Caçador Herdeiro (2) - Trevas Silenciosas | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora