Capítulo 33 - Viagem no tempo: o amor de uma verdadeira mãe

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Estávamos num templo repleto de ninjas e vendo o parto de uma mulher. Até aí tudo bem, tudo ótimo, uma maravilha. Mencionei que viajamos no tempo? Não? Pois é, estávamos simplesmente no ano de 1982 – não que isso fosse importante.

Eu analisei melhor o cenário à minha volta. O templo parecia a lavanderia de um prédio, porém mil vezes maior. Digo isso porque à minha frente o terreno estendia-se em casas e colunas enquanto às minhas costas encontrava-se um pequeno gradil que separava o topo da montanha do despenhadeiro lá embaixo. Era provavelmente a altura das Torres Gêmeas.

Apesar da chuva e da ventania, eu não sentia nada, apenas... respirava. Era como se meu corpo não estivesse ali, apenas a minha alma, ou o meu espírito, ou sei lá. Nem eu e nem meu Guardião nos molhávamos. Mas os ninjas sim. As crianças e mulheres também. Pelo menos a metade dos habitantes dali tinha a pele pálida do clã e os olhos escuros que eu conhecia bem. A outra metade era mestiça. E a minha atenção foi chamada para mais um grito da mulher que estava dando à luz:

- AAAAAAAAAAAIII!!

O idoso e algumas mulheres ajudavam no parto, e o suposto marido demonstrava ansiedade, agarrado na perna pelo filho, uma criança branca de uns três ou quatro anos que provavelmente não entendia o que estava acontecendo. Reparando melhor, tanto o marido quanto o parteiro vestiam a mesma blusa de pano que os ninjas, expondo apenas o rosto de pele pálida. Eu me perguntei se havia alguma mulher ninja também.

Finalmente o bebê foi tirado do ventre da mulher. O parteiro cortou o cordão umbilical com a faca e enrolou o recém-nascido numa toalha, para o proteger do frio, tudo muito rapidamente.

A criança berrava. Todos os olhares voltaram-se para ela. Tanto os ninjas quanto as mulheres encaravam com curiosidade o bebê, mesmo sem se moverem, mesmo ainda prostrados. E a mãe chorava. Não um choro de dor, nem de sofrimento, mas sim de emoção. Seu marido também mostrou-se emocionado, e abaixou-se para beijar a esposa, que o envolveu num abraço suave.

Eu não entendia ainda por que estava ali. Olhei para Hara, que também estava bem atento à cena, e ele permanecia imóvel. Ele gesticulou para que eu voltasse a olhar, e quando olhei para frente novamente, o parteiro gritou, assumindo uma expressão perplexa:

- É uma menina!

Imaginei que ele referia-se à criança, só não imaginava que essa afirmação causaria tantos comentários entre os ninjas e as mulheres. A mãe da criança pareceu apavorada, assim como as outras mulheres, que se levantaram prontamente. O pai dizia algo que soava como "isso só pode ser um engano".

Percebi o parteiro lamentando algo, descontente. Ele sacou a mesma faca, que agora notei ser uma adaga, e fez menção de atacar a pobre criança. Eu corri para impedir, mas a mão de Hara segurando firme o meu braço me impediu.

- Me solta! - gritei.

- Não podemos mudar a história - disse ele.

- Mas ele vai matar ela! – eu berrei, completamente desesperado. Ainda assim meu Guardião continuou imóvel, apenas de olho na cena. Ele não me soltaria.

Voltei meus olhos para o velho com a adaga na mão, prestes a enfiá-la no bebê, e foi aí que a mulher agiu. Mesmo tendo acabado de sair de um parto, a mãe agarrou o bebê com agilidade e derrubou o idoso num empurrão usando o ombro direito, em seguida correndo em direção à extremidade do templo, onde Hara e eu estávamos. Ela aproximava-se em velocidade e, claramente, não nos via, talvez por conta da situação perigosa, uma vez que os ninjas levantaram-se rapidamente e correram em sua direção.

Caçador Herdeiro (2) - Trevas Silenciosas | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora