Capítulo 28 - Eu conheço o lado ruim de ser caçador

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Era quinta-feira.

Acordei cedo e tomei café, enquanto pensava no pesadelo que tive na noite anterior. Havia tempo que eles não me atormentavam, e meu medo maior era a volta contínua deles.

- O que foi? - estranhou minha mãe, quando estávamos na mesa.

- Nada não - respondi, mentindo, algo que não a convencia.

- Pode me contar o que quiser, filho.

- Foi só um pesadelo, mãe. Nada demais.

Sarah parecia preocupada comigo, e eu sentia que algo muito ruim iria acontecer. E isso me dava medo.

Depois do almoço, tomei coragem para ir a um certo lugar.


- Diogo! - Sophia mostrou-se feliz ao me ver, assim que abriu a porta de sua casa. Ela tinha ficado mais alguns dias no Canadá, portanto chegara ontem à noite.

- Oi, Soph... – eu tentei dizer, no entanto fui interrompido por um abraço muito forte.

Um abraço maravilhoso.

Quando me soltou, me perguntou:

- O que veio fazer aqui?

- Vim, hã... te ver - respondi, completamente sem jeito; Sophia sorriu.


Se você já assistiu a filmes americanas cujo ambiente são os bairros nobres de Los Angeles ou de outras cidades e gostaria de ter uma ideia de como é andar por lá, acho que posso tentar explicar.

Tudo começa com as casas, que são verdadeiras mansões. Eram pouco distintas umas das outras, uma vez que todas tinham um pequeno jardim na fachada marcado por uma estradinha que leva à porta de entrada. Assim era a casa da Sophia e as demais da vizinhança. O tráfego de carro era raro, e quando aparecia um, tinha que ser um carro de luxo. Se havia buracos nas ruas? Que nada. O asfalto era simplesmente liso e perfeito, livre do movimento de carros, como mencionei, contudo os moradores daquela região caminhavam apenas pelas calçadas. Ah, e lembrando que as calçadas eram decoradas com árvores belas e de copas bem aparadas.

E agora vai uma coisa surpreendente: todos os vizinhos se cumprimentavam. Pessoas passeavam com seus cachorros – ou gatos, como vi uma senhora de idade carregando -, além de pais que andavam segurando a mão dos filhos e jovens que conversavam. Ainda assim eu ouvi inúmeros "boa tarde", de pessoas bem vestidas e com postura digna de gente milionária. Pois é, nem todos os ricos são tão soberbos assim. Na verdade, parecem mais descontraídos do que aqueles que se dizem humildes.

Enfim. Sophia e eu caminhamos pelo seu bairro de mãos dadas, como verdadeiros namorados, conversando sobre tudo. Ela falava bastante, sempre contando histórias do seu passado e do seu cotidiano – embora eu percebesse que ela evitava falar sobre coisas tristes. Também contei-lhe sobre meu passado, onde meus pais e eu nos divertíamos bastante quando ele vinha nos visitar. Era realmente tranquilizador conversar com a Sophia, pois os assuntos nunca tinham fim. E o melhor era que um gostava de ouvir o outro – e aos poucos a nossa vergonha ia embora, o que era uma coisa ótima.

Quando nos demos conta, estávamos no campus do colégio Martins. Nos sentamos num dos bancos de pedra e ficamos de frente para o edifício verde da escola – e ocorreu-me que foi ali que encontrei Yasmim pela segunda vez, quando ela me deu uns conselhos amorosos.

- Às vezes eu me pergunto se estou sonhando – disse Sophia, encostando a cabeça no meu peito, enquanto meu braço ficava em torno de seu pescoço, suavemente. – Sempre esperei pela pessoa certa, e nunca imaginei que viria de outro lugar.

Caçador Herdeiro (2) - Trevas Silenciosas | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora