Capítulo 34 - Viagem no tempo: a história de uma família unida

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Meu coração ainda estava acelerado, observando aquela cena que envolvia meus avós-jovens com brilho nos olhos, minha mãe-bebê berrando e meu tio-criança quietinho, quando Hara tocou nos meus ombros, fazendo tudo apagar. Quando acendeu, me vi num quarto rosa, muito bem arrumado e delicado, onde a minha avó arrumava uma garotinha de uns cinco anos.

Era a minha mãe.

Ela estava muito linda, vestindo seu uniforme escolar bem passado, uma camiseta branca e um short curto, vermelho igual ao boné que havia por cima de seus cabelos negros - uma roupa que eu nunca usaria, sinceramente, mas era algo de época, portanto poderia ser normal naquela década. Minha avó terminava de ajeitar uma Sarah bem alegre, que tinha o mesmo sorriso familiar de hoje em dia.

- Está muito ansiosa, filha? - perguntou a mulher, sentada na cama atrás da menininha.

- Muito, muito, muito! - respondeu minha mãe, como se fosse a criança mais feliz do mundo.

E a atração das duas foi chamada pela porta, que abriu-se de repente após um garoto emergir no quarto, também uniformizado, mas com os cabelos bagunçados. Parecia uma criança bagunceira, e de cara notei que era o meu tio Michael.

- Vamos logo, a perua já vem - apressou ele, com sua bolsa nas costas e um sorriso no rosto. Então ele correu para fora do quarto e minha mãe o seguiu, ansiosa.

- Não corram na escada! - gritou minha vó, vendo os dois se distanciando, e abriu um sorriso sincero, como se também estivesse feliz.

Eu corri na direção dos dois, descendo a escada e saindo da casa. E então pude ver Michael e Sarah na calçada, esperando a perua escolar, juntos, bem felizes.

- É o primeiro dia de aula dela - explicou Hara, aparecendo atrás de mim.

Sorri, vendo as crianças bem alegres. Se a minha mãe tinha cinco anos, meu tio Michael deveria ter uns nove.

Hara tocou no meu ombro novamente.

Estávamos, agora, na saída da escola. Mas percebi que não era o mesmo dia. Meu tio estava encostado na parede do prédio escolar, onde vários garotos o cercavam.

- Você é uma aberração! - gritavam alguns.

- Vá embora dessa escola! - gritavam outros; todos aparentavam ter raiva dele, o insultando de forma agressiva.

- Eu não sou uma aberração! - protestou Michael, num grito. - E não vou embora daqui!

- Você tem que ir embora mesmo! - disse um dos garotos, provavelmente o mais velho.

- É um perigo para nós!

- Não sou não! - defendeu-se meu tio, demonstrando raiva apesar das lágrimas de choro.

- Lógico que é!

- Seu lixo!

- Seu monstro!

Olhei para Hara, que apenas observava aquilo. Eu já sabia que não poderia ajudar. Aqueles garotos eram muito maldosos. Então era assim a infância do meu tio?

- Todos os dias a mesma coisa - disse o Guardião, sério. – Seu tio era perseguido por toda parte.

Fiquei ali, apenas o observando, Michael chorando, com os garotos rindo de sua cara.

Caçador Herdeiro (2) - Trevas Silenciosas | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora