Caçador Herdeiro (2) - Trevas Silenciosas | COMPLETO

Capítulo 35 - A dignidade do Clã Vinográdov

No dia seguinte, domingo, acordei como se estivesse muito cansado. Acordei cedo, umas oito da manhã, e logo desci para tomar café. Como a minha mãe ainda estava dormindo, decidi ir comprar pães.

Assim que abri a porta, ouvi latidos às minhas costas; era o Billy, barrando meu caminho.

- Já acordou? - perguntei, me abaixando e fazendo carinho no cãozinho vermelho.

- Au! – ele latiu, abanando o rabo.

O levei.

Eu estava caminhando pelas ruas do meu bairro tomado por milhares de pensamentos. Uma neblina intensa estendia-se à minha volta, branca como a neve, uma vez que fazia frio em Honorário. Eu torci para não chover. Segundo o meu amigo Riku, quando chove durante uma neblina matinal é sinal que um Herói Herdeiro foi morto. Ocorreu-me que já notei esse clima antes, quando ainda morava em Belém, e não foram poucas vezes.

De qualquer modo, eu pensei em diversas coisas, principalmente nas cenas que vi ontem graças ao Hara. Pude ver gente que eu nunca imaginei que veria. Vi coisas que me deixavam curioso também. E descobri outras um tanto inimagináveis – como foi tenso para que minha mãe pudesse chegar em Belém em segurança, a forma como ela viu meu tio Michael se transformando, e a despedida do meu pai quando viajou aos Estados Unidos.

Hara queria mostrar que meu pai não havia traído a minha mãe? Provavelmente. Tony conheceu outra mulher após terminar o namoro com a minha mãe, portanto isso não é uma traição. Mas ainda assim meu pai não poderia esconder que tinha outro filho. A não ser que ele não soubesse.

Tudo parecia tão complicado. Decidi que falaria com ele, precisava fazer algumas perguntas, tirar dúvidas, saber o que realmente aconteceu. E contar-lhe sobre a verdadeira família da minha mãe: os Ninjas da Noite.

Billy rosnou.

- O que foi? – eu estranhei. O cachorrinho olhava para todos os lados, como se estivesse temendo algo, deixando-me muito assustado. E só piorou quando senti algo estranho, como se o perigo estivesse se aproximando. A essa hora?

- Precisamos falar com você - disse alguma voz atrás de mim, num tom ligeiramente russo. De imediato, Billy saltou do meu colo para a minha retaguarda e transformou-se no cachorro gigante. Eu saquei a minha Takohyusei e me vi cercado por três indivíduos, todos possuindo pele muito pálida e olhos inteiramente negros, assim como os cabelos. E não pareciam ter medo do meu cão de guarda, que era facilmente maior do que um leão feroz.

- O que vocês querem? – eu perguntei, deduzindo que eles faziam parte do clã dos ninjas.

- Calma, só queremos conversar - disse um deles.

O segundo inseriu:

- Somos do clã Vinográdov.

Apertei forte meus dedos contra o cabo da minha espada, mais preparado do que nunca, muito embora os três esquisitos não demonstrassem nenhuma expressão de preocupação.

- O que vocês querem?!

- Conversar - lembrou o primeiro, ainda imóvel, tão calmo quanto sério.

- Conversar? Não pensem que sou tão idiota assim!

Billy rosnava furiosamente à minha frente. Os homens me observavam parecendo estátuas, e não pareciam que queriam me atacar.