Epílogo - O lago da amizade

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De alguma forma, o sol conseguiu uma maneira de brilhar mesmo diante de nuvens pesadas e cinzentas.

A essa altura, eu já chegava à margem de um lago que estendia-se feito um mar, possuindo águas cristalinas e esverdeadas. Peixes nadavam de um lado a outro, solitários, assim como eu estava me sentindo. Caminhei por sobre o píer e notei alguns pequenos barcos atracados em ambos os lados, presos à ponte através de cordas bem amarradas. Eu sentei na ponta da ponte, de forma que meus pés quase alcançavam a água, e suspirei.

O céu parecia querer mudar de aparência. Assim como eu, parecia querer ficar mais alegre. Impossível, pensei.

Você gosta do mar?, uma vez o meu pai me perguntou, quando visitamos a praia da Ilha de Cotijuba.

Mais ou menos, eu respondi. Por quê, pai?

Por nada, ele riu sem motivo. Você ainda vai viver muito para então gostar do mar.

Eu fiquei sem entender, e o encarei com uma sobrancelha arqueada.

Você gosta dele?

Do mar? Mas é claro! Ele pode ser violento em algumas circunstâncias, mas quando mais precisamos, ele está sempre aqui, tranquilo e tranquilizador.

Ah.

Meu pai olhou para mim com um sorriso motivador e disse: É, você ainda é novo para entender, filho. Só vai saber do que eu falo quando for um homem. O mar é gigantesco e cheio de vida. Você pode jogar todos os problemas pra cima dele. Ele é testemunha também de muitas coisas boas – e ruins, ocasionalmente. O mar é simplesmente infinito. Ele nunca termina. Ele leva tudo embora, para bem distante, e depois nos consola de forma surpreendente. Ele assumiu uma expressão mais séria e inseriu: O mar pode ser considerado como um verdadeiro pai. Quanto mais você o encontra, maior perante seus problemas ele parece. Ele nunca vai te abandonar.

O lago parecia mesmo querer me confortar. Não era um grande mar, na verdade nem chegava perto de ser, todavia suas águas fluíam tão serenamente que senti uma calmaria surpreendente tomar conta do meu corpo.

- Posso me sentar também? – Sophia surgiu ao meu lado.

Olhei para ela e a minha tristeza voltou. Ainda assim forcei um sorriso.

- Claro – eu disse.

Sophia sentou-se segurando em minha mão. Eu estava tão deprimido que mal notei o quanto ela estava bonita. Sophia vestia roupas nada extravagantes: uma calça jeans clara e camiseta azul-bebê, sem decote. Seus cabelos castanhos desciam por suas costas em camada, balançando devido à brisa que nos envolvia, e ela não usava maquiagem. Não precisava. Era linda de qualquer jeito. E quando nossos olhos se encontraram, senti um aperto no peito. Ela disse, amaciando a voz ao máximo:

- Eu sei exatamente o que você está sentindo. Sei o quanto é difícil. Mas para pra pensar: nós vivemos dentro de um ciclo. Uns vem, outros vão. Essa é a natureza.

- O problema é que tudo é de repente – eu olhei para a dimensão de água verde à minha frente. - Quando menos esperamos acontece. Perdemos alguém que nunca imaginaríamos perder. E nunca mais os veremos de novo.

- Lógico que veremos! – Ela continuava me encarando. - Seu pai, assim como a minha mãe, partiu daqui para um lugar muito melhor. Um lugar onde só há paz, e com certeza estão nos vendo de lá de cima, torcendo pela nossa vida, nos protegendo à todo instante. Fica assim não – ela sorriu -, você verá o seu pai novamente.

Eu esperava que sim, embora parecesse algo tão distante. Pude ver o sol no fim do horizonte e imaginei o quanto eu amava a Sophia. Infelizmente, terei que me afastar dela.

Caçador Herdeiro (2) - Trevas Silenciosas | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora