– Kim, importas-te de dormir com a Rachel na mesma cama? – perguntara David, com um sorriso cansado que serviu para fazê-la concordar. Devolvera o sorriso e dissera que não se importava, mas não era verdade. Não queria partilhar a mesma cama com ela, não queria partilhar uma casa de banho com ela, não queria ficar fechada durante horas com ela numa divisão. Adorava-a, conseguia admitir. Mas não queria dormir tão perto de alguém.
Amuada, pousou a sua pequena mochila no chão e suspirou ao observar a pequena suíte. O quarto era modesto, desengraçado e com uma decoração berrante que apelava ao amor, mas estava limpo e tinha uma cama, a única coisa que interessava. Arrastou-se até à cama e lançou-se para cima do colchão, arrependendo-se no instante seguinte. O colchão era tão mole que sentia as molas, que lhe concediam maleabilidade, contra o corpo. Tentou sentar-se, desconfortável com o ranger do velho estrado de madeira e abraçou-se à almofada, que para sua sorte não parecia feita de pedras.
Jake observava-a encostado à porta com um sorriso divertido nos lábios. Já dormira em sítios piores. Na verdade aprendera a prescindir do conforto quando era preciso. E mesmo que não o tivesse aprendido, provavelmente dormiria em cima de pedras naquela noite. Estava realmente cansado. Todos estavam cansados de um dia inteiro de viagem e não podiam torturar Rachel ou o irmão pela escolha da hospedagem. Kim também não parecia contente com o conforto que o motel proporcionava, mas havia algo mais. Ela nunca se aborreceria por um motivo tão fútil como aquele.
– Vá, diz lá o que é que foi para estares a fazer birra – ele quebrou o silêncio, fechando a porta atrás de si para lhes conceder privacidade.
– Eu não estou a fazer birra – murmurou a morena contra a almofada. Não o olhou e ele ousou aproximar-se e sentar-se ao seu lado.
– E queres enganar-me a mim? Não consegues.
Kim bufou e aninhou-se mais contra a almofada, como gostaria de fazer com ele.
– Oh Jake, eu não quero ficar aqui – revelou num tom tão infantil que fê-lo rir.
– São só umas horas. É apenas para dormir.
– Eu já não tenho sono – tentou convencê-lo, apesar do cansaço e tensão serem facilmente detetáveis nos seus gestos, na sua voz.
– Mas vais ter – contrariou-a.
A rapariga olhou-o pela primeira vez e fez uma careta acriançada, acabando por erguer a mão e chamá-lo, num convite silencioso. Ele fingiu não perceber o pedido dela e não se moveu.
– Expulsa o Aidan e o David do quarto – pediu, largando a almofada. – Deixa-me ficar contigo.
Jake ergueu o sobrolho e abanou a cabeça num misto de incredulidade e negação. Não podia dormir com ela só porque ela o pedia. Não o faria quando não queria ultrapassar uma barreira que ela própria construíra entre eles.
– Tu não podes dormir comigo, Kim. Sê razoável – disse apenas, num tom sério.
– Porquê? – Ela parecia desiludida, mas ele não cederia. – Tu nem darias por mim, Jake. Eu prometo que não ressono e não me mexo muito. Por favor – pediu, colocando-se de joelhos ao lado dele e agarrando-lhe no braço com mais força do que ele esperava. Foi impelido a sorrir com a reação dela.
– Tu estás a implorar.
– Está a resultar? – testou Kim, sorrindo igualmente.
– Não – afirmou, em tom de desafio. – A Rachel vai ter de dormir aqui.
– Oh. – Largou-lhe o braço e sentou-se sobre os calcanhares, percebendo que ele estava resoluto em não lhe fazer a vontade. – Ela nem se vai importar se ficar com o David!
VOCÊ ESTÁ LENDO
UPRISING
Science FictionNum futuro não muito distante, uma nova estirpe viral ameaça exterminar a espécie humana da Terra. O estado máximo de alerta pandémico obriga ao êxodo das grandes cidades. Em Los Angeles, um grupo de amigos tenta ignorar o pânico geral da população...