49. Conspiração

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Rachel já não ouvia a discussão entre os três homens que a rodeavam na cozinha rústica. Brian, como se chamava o homem que fora mantido cativo por April, contara a sua história e então revelou a sua teoria para o ataque das gémeas. Jake imitara-o, focando-se nas tatuagens homólogas que as três raparigas partilhavam, e David mantinha-se demasiado cético para colaborar. No entanto, a loira sentia que lhes escapava algo demasiado importante.

Ela manteve-se em silêncio, sentada num dos bancos de pé alto, enquanto todos os factos vividos naquele mês se encaixavam na sua mente confusa. Talvez pudesse começar pelo homem desconhecido que Jake salvara e porque April insistia tanto na ideia de perfeição.

A gémea ofendera-a quando se permitiu reagir aos cortes infligidos no peito de Brian e Rachel percebia porquê. O homem que ela usara inúmeras vezes reunia um conjunto de características que eram cruciais para o que a loira tinha em mente e a mais evidente era a perfeição física.

Brian assemelhava-se muito a Jake, ambos partilhando de uma constituição muscular invejável, o olhar claro e a intensidade que o acompanhava, a barba rala que retirava alguma da força dos maxilares proeminentes e das feições másculas.

O desconhecido era um homem alto e forte e por isso ela não conseguia perceber como não conseguira escapar ao cativeiro e se sujeitara à tortura durante dois meses. O tronco nu, marcado por inúmeros cortes até bem próximo do umbigo, mostrava a quantidade exata de vezes que fora usado por April, os músculos longos e duros ganhando destaque por baixo das feridas, pelo peso perdido durante aquele período de tempo.

Ela também sabia que ele era um homem inteligente. Brian falara do seu percurso académico e de como fazia parte de uma empresa de sucesso na área da biotecnologia, de como criara a família perfeita nos últimos anos e ela notara de imediato como a sua expressão dura se alterara quando se referira à mulher e ao bebé, com a incerteza que acompanhava o pensamento. Ele não sabia se eles viviam, e apesar de dever a vida a Jake, queria muito terminar tudo aquilo e voltar para casa.

Ele era perfeito, concluiu Rachel. Perfeito como April.

As vozes eram abafadas pelas conclusões que finalmente conseguia tirar e, num guincho inflamado, chamou a atenção dos rapazes, batendo com o punho sobre o balcão granítico.

– Ok, vocês não estão a ir a lado nenhum – começou, finalmente captando-lhes a atenção e toda a testosterona quase palpável na divisão lhe fazia comichão na pele. – Eu não sei se vou soar demasiado louca mas depois de tudo o que o Jake disse eu acho que isto é pior do que pensávamos...

Jake concordou, comunicando com a amiga com a força do olhar azul. Rachel pensaria o mesmo que ele e então não pareceria um louco. Antes que a rapariga pudesse continuar, David acariciou-lhe as costas e retificou, descrente:

– Ou só uma grande coincidência, Rach.

– Ou só um grande plano de extermínio como não havia desde o século passado – observou, ignorando o namorado e sem conseguir desviar o olhar de Jake. A comunicação entre eles nunca precisara de grandes palavras, e ela conseguia ver o interesse dele na observação dela. Ele pensava o mesmo, só não o verbalizara. – Só temos que pensar em tudo o que está a acontecer nos últimos meses e no que se passa com aquelas duas. Sabem, quando vocês chegaram, quando eu ainda trabalhava na redação? – relembrou, obrigando-se a explicitar um pouco mais para Brian, que a olhava em puro desentendimento. – Eu sou jornalista. O diretor da redação onde trabalhei em Los Angeles recebeu uma carta suspeita dias antes de vocês chegarem. Eu sei que uma das formas mais fáceis de começar uma guerra biológica, para além de infetar tudo o que seja respirável ou para consumo, é atingir os alicerces de um país. Então pensem comigo, o que sustenta a sociedade?

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