43. Quero-te

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– Meu Deus, Kim. – Jake ergueu todo o seu peso com a força dos braços, como se de repente aquele corpo de pele sedosa estivesse coberto de espinhos. Ele acabou por rolar para o espaço vago da cama desfeita, certificando-se de que não impunha a sua vontade à rapariga.

Ela continuava deitada, sem qualquer pudor, de pernas entreabertas e olhos demasiado fechados. Como se o esperasse. Como se esperasse que ele, à força, usasse o seu corpo da forma mais vil que conhecia nas ações de um homem sobre uma mulher.   

– E-eu... devia ter parado. – Jake passou as mãos trémulas pelos cabelos revoltos, tragando a própria saliva ao observá-la erguer os punhos contra o próprio rosto. – Depois do que o Aidan te fez... Desculpa, não consegui pensar. 

Ele pensara, apesar de tudo. Pensara em como queria muito tê-la de todas as formas, fazê-la totalmente sua e certificar-se de que não era de mais ninguém. Que talvez a relação deles conseguisse suportar a intimidade que o sexo implicava.

Ficara tão cego quando ela se despira para ele e o olhara com a expressão ensonada mais sexy que ele já vira que não conseguiu pensar que colocara tudo em risco. Ele nem ao menos tinha um preservativo. Nem ao menos se lembrava de ter uma vida sexual fora daquele pesadelo doentio. Nem ao menos pensou se Kim tinha um passado que não passava por ele e por tudo o que sentia por ela.

– O Aidan meteu-me medo, mas não me magoou – ela acabou por dizer, com a voz abafada pelas próprias mãos. – Mas... – a morena debateu-se com as palavras certas, sem saber como lhe falar das memórias dolorosas que a subjugaram quando o amigo a tocara forçosamente. – Mas houve um homem.

– Um homem? – Jake não conseguiu travar a pontada de ciúme que o percorreu. – Tu lembraste-te? – perguntou, ainda inseguro de querer saber o passado da rapariga nua e imóvel ao seu lado. Por momentos sentiu um receio real de que ela não fosse simplesmente solteira, o que tornava tudo o que acontecera entre eles totalmente errado e proibido.

– Eu não sei – confessou Kim, olhando novamente para o teto. – Só não quero que tu me faças lembrar dele, porque tu não serias capaz de me ferir. Eu não quero voltar a sentir aquela dor nunca mais.

– Tu eras vi... Tiveste uma má experiência com um namorado? – Kim não teve coragem de fitar o moreno. Jake olhava-a com uma nova intensidade.

– Namorado? – Ela pensou no amor que existia entre David e Rachel, como vira nos filmes. – Não! Eu não o conhecia.

Jake sentiu as palmas das mãos humedecerem de um suor nervoso quando começou a pensar na hipótese de que Kim afinal não era apenas virgem e tivera uma experiência marcada com um namorado. Nem que reagira ao corpo dele daquela forma porque ainda estava sensível pela investida de Aidan.

– Kim... – murmurou instintivamente, cerrando os maxilares com força ao ser novamente invadido pelo sentimento que o assaltara demasiadas vezes dos últimos dias. A raiva.

– Eu lembrei-me quando o Aidan me agarrou – ela continuou, alheia a ele. – Eu sei que ele me agarrou e me bateu. E depois...

– Não precisas de dizer mais nada.

– Ele baixou as calças e eu não percebi bem porquê. Eu lembro-me que ele parecia um médico, tinha uma bata branca vestida, e esperei que me examinasse. Também me lembro de que havia raparigas mortas naquela sala e eu só queria sair dali e pedi-lhe ajuda – a voz da rapariga quebrou. – Mas depois ele tocou-me como tu. – rematou, num fio de voz, para logo abanar a cabeça em negação. – Não, nunca como tu. – corrigiu, fechando os olhos novamente ao recordar, e juntou instintivamente as coxas. – Eu não gostei, Jake. 

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