45. Afinal que merda és tu?

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Jake fechou a porta do quarto que ocupara durante a noite e procurou pelo irmão e por Rachel. Ele não sabia ao certo quantos quartos havia na mansão, nem porque duas raparigas tão jovens viviam numa casa centenária e tão imensa.

Por momentos, enquanto abria uma porta ao acaso, a sua mente confusa forçou-o a procurar por Aidan, como se ele estivesse vivo e aparecesse a qualquer momento com a boa disposição matinal estampada no rosto, algo que sempre irritou Jake de morte. Ele esboçou um sorriso fraco e nostálgico por perceber que o amigo também o procuraria em primeiro lugar, talvez para comentar a beleza das gémeas ou qualquer coisa corriqueira que fazia dele a pessoa mais divertida na sua vida.

Ele não reparou que tinha estacado no corredor imenso, absorto nas memórias que lhe faziam arder os olhos, e acabou por bater noutra porta. Não obteve resposta e resolveu entrar. Provavelmente Rachel e David ainda dormiam e cabia-lhe a ele acordá-los e relembrá-los dos seus objetivos naquela viagem atribulada.

No entanto, a surpresa que sentiu ao abrir a porta não se devia ao facto de ter o irmão naquele quarto. Muito menos Rachel. Depois de tudo o que vivenciara no último mês, nada o surpreendia mais do que a visão de um homem nu amarrado à grande cama de dossel.

Jake ainda pensou estar a interromper um fetiche sexual de uma das loiras, talvez de ambas, até o homem se aperceber da sua presença e esbugalhar os olhos vermelhos e inchados. Ele gritou contra o tecido que lhe cobria a boca ensanguentada, puxou os pulsos magoados sob as algemas improvisadas que o confinavam àquela condição tortuosa de não se conseguir mover.

Jake aproximou-se da cama para observar de mais perto os rasgões que alguém lhe infligira no tronco. A pele do homem estava marcada por dezenas de golpes superficiais. A disposição dos riscos ensanguentados fazia prever que se tratava de uma contagem, principalmente por alguns deles já estarem quase cicatrizados, outros ainda com pequenos pontos de sangue coagulado por entre as feridas.  

– O que pensas que estás a fazer? – a voz feminina não chegou para sobressaltá-lo. Não quando ele engolia em seco e tentava perceber que espécie de fetiche sexual levava àquele ponto de sadismo. Acabou por olhar para a dona da voz sensual de soslaio, que não parecia surpreendida por vê-lo.

– Eu não faço ideia de qual das duas és, mas tens problemas – disse ele, apontando para o pobre homem que agora chorava e respirava aos borbotões sob o tecido ensanguentado, enquanto ignorava a figura loira que voltara para o atormentar. – Isto é simplesmente doentio!

Ela cruzou os braços nus e semicerrou os olhos num reflexo que durou apenas breves segundos. Apesar de ela tentar omitir a surpresa com a sua pose elegante e serena, a sua voz trémula denunciou-a.

– Tem cuidado como falas, querido – avisou, aproximando-se de Jake em passos lânguidos e adotando uma expressão mais crua – Estás na minha casa. Eu só estava a ajudá-lo a sair daqui. Nem sei o que faz ali amarrado.

Quando ele achou que ela se aproximara o suficiente ao ponto de sentir nojo, agarrou-a num impulso que a fez conter a respiração e cerrar os maxilares em desafio. Jake estudou-lhe as nuances de incerteza que lhe corrompiam a expressão no rosto perfeito. Ela sorria, curvando os lábios femininos o suficiente para que qualquer homem achasse a sua inocência sensual. Os olhos fixavam-no, vazios de emoção. Então ele apertou-lhe o braço com mais força, para forçá-la a sentir algo mais do que aquele desprezo doentio.  

– Quem és tu?

– Estás a magoar-me o braço, seu brutamontes virgem! – guinchou a rapariga quando os dedos dele se tornaram brancos contra a pele sensível. Jake torceu-lhe o braço o suficiente para lhe olhar o pulso. Tal como em Kim, tal como sentira na noite anterior numa das gémeas, que ele continuava sem saber qual era, conseguia distinguir uma sigla seguida de algarismos que não lhe davam alguma pista quanto ao cariz daquela tatuagem. Ele conseguia ler HCC-A21 com total clareza por entre os rebordos da queimadura já cicatrizada. A pele em torno dos dígitos tornara-se esbranquiçada, ao contrário do que vira em Kim.

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