Capítulo 1

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Acordo de um sonho perturbador, ainda estou deitada na cama com meus olhos fechado, levanto minha mão, mas paro, pois sinto algo preso nela, meu coração dispara, estou com medo de abrir os olhos

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Acordo de um sonho perturbador, ainda estou deitada na cama com meus olhos fechado, levanto minha mão, mas paro, pois sinto algo preso nela, meu coração dispara, estou com medo de abrir os olhos.

Respiro profundamente e resolvo encarar o que está a minha frente, o que meus olhos veem os fazem se encher de lágrimas, pois o sonho que pensei ter tido é real.

Estou numa cama de hospital com várias máquinas apitando e fios ligados a mim, minha mão está com o acesso que liga até o soro que está pendurado na cabeceira da minha cama.

Olho ao meu redor procurando por alguém, mas não vejo ninguém conhecido, somente médicos e enfermeiros que passam para um lado e para o outro, estou novamente no CTI.

Encaro o teto branco enquanto as lágrimas escorrem quentes pelo meu rosto, não queria estar aqui, não queria ter mais um episódio, mas o destino tem um senso de humor estranho e aqui estou eu de novo, deitada nessa cama e perdida no meio desta tempestade.

Um moça alta e morena, vestida toda de branco se aproxima da minha cama, ela tem um sorriso simpático no rosto e uma prancheta na mão. Ela me cumprimenta e vai checar os aparelhos que não param de apitar.

- Como você está se sentindo Karina?

- Maravilhosa, pronta para sair daqui.

- Que bom que está se sentindo bem essa tarde, você quer alguma coisa? – moça não altera a sua voz carinhosa com a minha ironia.

- Estou com sede.

A mulher se prontifica em pegar um copo de água para mim, quando a agradeço e falo que não preciso de mais nada ela sai do meu leito, me deixando sozinha com meus pensamentos.

Estou revoltada de estar ali, tinha tantos planos para a semana e todos eles foram frustrados com essa condição nova. Iria numa exposição de arte contemporânea que estava no museu, prometi ajudar meu sobrinho com seu projeto de ciências, ia prestigiar Matheus na abertura do restaurante onde ele ia ser chefe.

Suspiro, não adianta eu ficar me lamentando, agora é levantar a cabeça e encara de frente essa batalha mais uma vez. Tenho vinte e sete anos, mas fui diagnosticada com Lúpus Eritematoso Sistêmico quando tinha catorze anos, desde então minha vida é uma montanha russa de entradas e saídas de hospitais.

Confesso que os primeiros anos foram os mais impactantes, descobri essa doença por pura sorte, estava fazendo um checape anual e algumas taxas estavam alteradas, minha pediatra na época me mandou procurar um reumatologista, pois eu vivia me quebrando.

Para se ter o diagnostico dessa doença precisa-se do conjunto de alguns fatores, fui sorteada com esses fatores, o primeiro fator foi desvendado num eco cardiograma, onde acusou que tenho Derrame Pericárdico, que é um aumento de um líquido no coração.

O segundo item a confirmar a doença foram minhas articulações frágeis, nunca pensei que as minhas torções, luxações e dedos quebrados se derivavam de uma doença, sempre pensei que fosse por causa dos esportes.

O terceiro fator foi acusado no exame de sangue, um item que nunca tinha escutado falar, o fator antinuclear, apelidado carinhosamente por FAN, deu reativo. Com a junção desses fatores descobri sem querer que tinha essa doença.

A pior parte não é ter a doença, a pior parte foi a entrega da noticia, me lembro vividamente quando estava no consultório médio com a minha mãe, assim que a médica explicou a junção dos fatores, eu e minha mãe ficamos sem entender muito bem o que significava aquilo.

Descobri naquele dia que o Lúpus é uma doença autoimune, ou seja, o meu corpo começa se auto-atacar, pensando que ele mesmo é uma ameaça, a maquina do corpo humano é fascinante, mas não é a prova de defeitos. Essa doença pode ser desencadeada por fatores genéticos ou por algum trauma emocional muito forte, o meu caso foi o segundo.

As notícias não tinham terminado por ali, eu tinha apenas catorze anos quando escutei pela primeira vez, que poderia morrer por causa daquela doença se não fosse controlada.

Me lembro de ficar com o choro preso na garganta e encarar minha médica, ela falava sobre como seria o tratamento, mas eu não estava com a mente mais ali.

Ela disse que por eu ter descoberto no início, as chances de controlar a doença eram muito grandes, a sim esqueci de falar, ela não tem cura. Naquele momento muita coisa rodava na minha mente, mas descobri mais tarde que tinha encontrado um anjo para me ajudar nessa jornada, sou grata até hoje por tudo que minha médica fez e faz por mim.

Quando saímos do consultório eu ainda estava atordoada com a noticia, minha mãe foi até o estacionamento pegar o carro, ela me olhava preocupada, sabia que eu não estava bem.

Assim que entrei no carro, quando estava somente eu e ela sem mais ninguém por perto, eu desabei no choro. Minha mãe me envolveu em seus braços e disse que tudo ficaria bem, que íamos passar por aquilo juntas.

Eu nunca gostei de chorar na frente dos outros, sempre fui muito orgulhosa e não queria preocupar quem estava ao meu redor. Me lembro de uma história, que minha mãe sempre contava de quando eu era pequena e lutava judô.

Durante um campeonato, na luta final eu caí de mal jeito e fraturei a clavícula, eu tinha apenas cinco anos, os mestres junto com os médicos vieram me atender, imobilizaram o meu braço e me colocaram num canto.

Quando foi a hora de entregar as medalhas, eles queriam leva-la até onde eu estava, eu no auge dos meus cinco anos, disse que queria receber no pódio como todo mundo.

Durante todo esse processo eu não derramei uma lágrima, mas quando sai na rua e fiquei sozinha com a minha mãe o berreiro veio. Essa foi a primeira vez que me lembro que minha mãe me abraçou e disse que ia ficar tudo bem, foi a primeira de muitas.

Aquele dia parecia não poder piorar, depois de termos ficado não sei quanto tempo no carro chorando, finalmente chegamos em casa. Minha mãe foi conversar com o meu pai e eu fui para o meu quarto.

Sei que no mesmo dia fui arrastada para uma semi reunião de família, onde meus pais, meu tio, minha tia e meus padrinhos se encontravam. Meu tio e minha dinda são irmãos do meu pai.

Em determinado momento da noite minha mãe contou o resultado da consulta, não foi uma cena que eu gostaria de ter visto, mas ela ficou marcada na minha memória.

Meu pai segurava minha mão e chorava, assim como meu tio, sei que podes estar pensando que minha família é muito emotiva, e sim, você provavelmente tem razão.

Meu padrinho por ser médico pediatra foi a voz da razão naquela noite e acalmou os ânimos, me lembro que trocaram de assunto em algum momento, mas a preocupação estava estampada no rosto de todos.

Tudo que eu menos queria era levar preocupação para alguém, e eu tinha falhado terrivelmente. Da mesma forma que estou falhando agora, em estar em cima dessa cama de CTI.

Estava perdida em meus pensamentos, que nem vi a hora que a enfermeira simpática entrou, ela me trouxe comida e me avisou que em uma hora as visitas iriam começar.

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