Quando acordo, me espreguiço na cama, não dormia tão bem assim a dias. Sem me preocupar com alguém no meu cangote, sem ter barulho de máquina apitando.
Sinto minhas energias renovadas, meu corpo parece estar melhor, sentindo a liberdade de não estar num hospital. A luz do sol entra pela cortina semiaberta, não vejo Nina em nenhum lugar do quarto.
Me levanto e vou até o banheiro que tem dentro do quarto, o cômodo não é muito grande, mas a decoração é em azulejos esverdeados. Me preparo para o meu dia com os produtos descartáveis que se encontravam ali.
Quando saio do banheiro enrolada na toalha quase tenho um treco do coração, quando trombo com uma Nina desavisada. Reparo imediatamente que ela andou chorando, seus olhos estão vermelhos e seu rosto sério.
- Você está bem Nina? – Falo me soltando dos seus braços.
- Tem roupa dentro do armário, alguma coisa deve te servir. – Ela foge da minha pergunta e se encaminha em direção a maleta com remédios.
A observo atentamente, vou até o guarda roupa e o abro, uma variedade de roupas se encontrava a minha frente. Roupas de diversos tamanhos, modelos, femininas e masculinas, acabo optando por uma calça jeans e uma blusa vermelha com uma estampa abstrata.
Sigo até a cama e me sento do lado da minha amiga, que está com os pensamentos longe. Fico em silêncio, não sei se palavras podem melhorar, seja lá o que tenha acontecido.
- Nina o que aconteceu? – A olho preocupada, minha voz a faz sair do transe.
- Você tem que tomar os seus remédios. – Ela me passa os comprimidos e o copo de água, eu os tomo, mas não deixo ela se safar tão fácil.
- Nina o que aconteceu? – Seguro seu pulso a fazendo me encarar.
- Não quero falar sobre isso, além do mais temos que programar a viagem. – Ela não tinha condição de fazer nada naquele estado, além do mais poderia nos colocar em risco sua falta de atenção.
- Nós não temos que fazer nada, e não adianta você vir comigo dessa forma que vai só colocar nós duas em risco! – A olho séria, pela primeira vez ela resolve absorver as minhas palavras.
- Foi uma noite difícil Karina.
A examino de cima a baixo, ela tinha duas coisas para fazer, a primeira era dar uma desculpa para o hospital, contudo mesmo que não tenha ocorrido alguma coisa bem ela não estaria nesse estado.
- O que aconteceu com meu irmão?
Seus olhos me encaram arregalados por um momento.
- Nem pense em mentir, você está um trapo, distraída, olhos vermelhos, mais lisa que sabonete e isso tem nome e sobrenome, Guilherme Mancini.
- Eu abandonei seu irmão. – Sua voz sai quase como um sussurro.
- Você fez o que? Mas porquê? – Estou incrédula.
Seus ombros se curvam e por um momento penso que ela vai desabar, mas ela não o faz, apenas fecha os olhos e respira fundo antes de voltar a falar comigo.
- A posição dele é de extrema importância caso algo aconteça com você, se a companhia descobrir que ele está envolvido....
- Vai dar um jeito de tira-lo da equação.
- Exatamente, sem falar que o que o protege e a sua família também, é o cargo que ele ocupa, se ele for derrubado essa posição não existirá mais, e eles correram perigo de vida já que não terá nenhuma barreira entre a companhia e sua família.
Ficamos em silêncio, Nina estava sacrificando sua vida pessoal para me ajudar e isso me emociona. Ela está cuidando de mim e do meu irmão, não tenho como agradece-la, mas não consigo deixar de ficar triste por ela.
- Nina, - Toco em seu ombro - sinto muito por ter te arrastado para tudo isso, se quiser desistir ainda tem tempo. – Ela dá um sorriso que não alcança os seus olhos.
- Não vou te abandonar Karina. Você é minha cunhada, e além do mais, você querendo ou não, se tornou uma grande amiga.
- Então Nina, levanta essa cabeça agora! Sua história com meu irmão ainda não acabou.
- Você não entende.... – Levanto a mão a impedindo de falar.
- Seja lá o que você tenha feito, quando isso tudo acabar tenho certeza que ele vai te perdoar!
- Não sei...
- Não seja boba mulher, meu irmão te ama, está nos olhos dele. – Consigo fazer com que um brilho volte ao seu olhar.
Me levanto da cama e fico de frente para ela, Nina me olha com uma sobrancelha levantada. Eu estendo minha mão direita para ela e dou um sorriso incentivador.
- Então se levante, porque vamos fazer aqueles filhos da puta que me caçam pagarem – Ela abre um sorriso – Posso talvez não ter muito tempo, mas te darei tudo que puder para derruba-los.
Ela agarra minha mão e se levanta, a puxo para um abraço. Quando voltamos a nos encara apoio minhas duas mãos em seus ombros, olho para cima por ela ser bem mais alta do que eu.
- Agora sim é a Nina que eu conheço, cabeça erguida, vamos passar por turbulências, mas vai dar tudo certo. – Ela assente com a cabeça.
- Precisamos ver nossa viagem. – Vejo que seu foco está de volta.
Explico para Nina aonde tínhamos que ir. Uma cidade pequena que ficava a duas horas de distância de onde estávamos, eu me escondi numa casa na serra e nela está uma pequena parte da minha pesquisa.
Quando me escondia e trabalhava na fórmula, resolvi que para uma maior segurança, não deixaria todas as informações juntas, por isso, para se fazer a fórmula final, precisaríamos reunir todas as peças que eu tinha espalhado.
Passamos a manhã planejando como iríamos para a cidade fugindo das câmeras. Procuramos roupas que não nos destacasse, após termos acertado todos os detalhes fomos para o carro.
Quando entramos dentro do carro, Nina ajeitou o espelho retrovisor, apertou o botão para ligar, o motor do carro deu um ronco alto. Ligamos o rádio que começou a tocar "I Am the Fire", dos Halestorm, um sorriso maléfico surgiu em nossos rostos, Nina olhou para mim.
- Vamos incendiar aqueles canalhas.
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Uma Vida em Uma Semana
Misterio / SuspensoKarina, uma biomédica renomada, está enfrentando um dos piores momentos da sua vida. Histórias passadas voltam para assombra-la, enquanto que a uma organização que não existe legalmente, a está caçando desesperadamente, pois ela descobriu mais do q...