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Era o terceiro corpo em uma semana. Hadij encarou seus guerreiros com o cadáver apodrecendo no chão do grande salão principal. Seu reinado nunca fora fácil, preferiu exilar-se a seguir as outras cortes. Nunca fora bem vindo. Estrangeiro. Era isso que ele era, um estrangeiro em meio aos outros Grão- Senhores. Sabia que jamais se encaixaria. A única que conseguiria fazer isso.. - Não. - Interrompeu seus próprios pensamentos. Não pensaria na sua parceira falecida a tantos séculos. Recusava-se a isso. Ele iria superar o máximo que conseguisse. Era mais uma mentira que contava a si mesmo todos os dias. Mas ela não partira e o deixara sozinho, não. Lhe deixou o melhor presente e a melhor companhia que poderia ter. Sua filha.

Senhor?
O semblante do guarda era de uma leve confusão, junto ao medo de interrompê-lo daquela forma.

Quando sua esposa morreu, sabia que só poderia governar com sucesso de uma maneira. " Que seja medo. " havia pensado na época. E desde então, ninguém jamais o desafiou. Tinha o pulso firme e a única maneira de afrouxar seria em seu cadáver, com as mãos decepadas e atiradas ao fogo.

" As criaturas partiram em busca de refúgio no leste após a guerra. Encontrarão abrigo aqui até que possam erguer forças e atacar Prythian novamente. "

O salão, naquele instante, encontrou-se em silêncio mortal. Tamborilando os dedos, o grão senhor sabia que não teria outra escolha a não ser revelar seu reino e seu povo, e seu maior tesouro. Sua filha. Teria que revelar-se e tentar construir novas alianças, antes que seu reino sucumbisse a cinzas. Os boatos já se espalhavam, e alguns féericos iam as suas tendas e casas mais cedo, com medo. Não demoraria muito para que o caos se espalhasse. E com ele, não teria mais volta. Virando-se, o féerico encarou o próprio reflexo no reflexo do mármore do chão. A pele estava em perfeito estado, aparentando ter pouco mais que 30 anos, o bronze devido ao sol escaldante permanecia, um traço marcante do seu lugar. Sua terra. Encarando os próprios olhos castanhos, ergueu-se do trono esculpido em ouro. Analisando o próprio salão uma última vez. Se desse esse passo, não teria como voltar atrás, ele sabia disso. Tentou gravar em sua memória aquele último momento, desviando os olhos do piso e passando pelas grandes colunas brancas, os vitrais coloridos e cada detalhe dourado, até que seus olhos pararam em Hakab. O tigre o encarou com compreensão, como se soubesse o que estava prestes a acontecer. Desviando os olhos negros do seu rei, saiu pelo salão calmamente, indo atrás da sua verdadeira dona.

Em outras circunstâncias, ele teria achado graça do nervosismo dos seus guardas conforme o animal passava por eles, até sumir pelos corredores. Se imaginou naquela situação, naquela posição. Certamente teria medo de um animal daquele porte com um movimento, ele tinha certeza que hakab rasgaria o pescoço de qualquer féerico despreparado ou que o subestimasse.

Qualquer guerreiro forte que subestime o outro, torna-se fraco e vulnerável.

"― Convoque as outras cortes. Mande um comunicado, exigindo uma reunião aqui, com caráter de urgência. Explicaremos quando todos chegarem. "

Os guardas se entreolharam, em choque. O sultão tinha certeza que até mesmo os pássaros pararam de cantar afim de ouvir um pouco mais. Em suas terras, até as árvores e palmeiras pareciam ter ouvidos.

Em silêncio, ambos se retiraram as pressas, como se suas vidas dependessem disso.

" Sabe que fez o certo, não sabe? Sempre há uma escolha, não importa o quão ruim ela seja. " Jorah comentou ao lado do trono, estava em pé, segurando uma parte do trono ao lado do seu rei. Jorah era seu melhor amigo, um irmão, escudeiro, guerreiro, e ele nunca se arrependeria de tê-lo colocado em seu círculo íntimo, um conselheiro, a mão de um rei. Estava apenas um patamar abaixo dele e de sua filha.

𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑾𝒊𝒏𝒅 𝒂𝒏𝒅 𝑺𝒂𝒏𝒅Onde histórias criam vida. Descubra agora