Adara não sabia quanto tempo havia se passado desde que estava nos céus. Evitava olhar para o encantador das sombras até que ele decidiu retornar, a levando até a varanda em um pouso delicado, soltando-a do abraço. Adara o encarou, fixando os olhos negros no dele enquanto ele lhe retribuía o olhar. Próximos, próximos demais.Ela se curvou em uma reverência, tentando reunir forças para se despedir. - Espião.
O guerreiro se afastou por mais alguns centímetros, desviando o olhar dela ao retribuir a reverência com um sorriso. - Espiã.
Adara engoliu em seco, contendo as próprias lágrimas ao manear a cabeça e virar-se afim de entrar no próprio quarto. Pelos deuses, era a coisa mais difícil que já fizera. Quando sua mão estava prestes a tocar a maçaneta, o encantador puxou-a pelo pulso, girando-a sutilmente até que estivesse em seus braços, roubando-lhe um beijo demorado e carinhoso. Ela retribuiu, levando uma das mãos até a nuca bronzeada, aproveitando o toque dos lábios do parceiro antes dele se afastar, a encarando. Por alguns segundos, ou minutos. Poderia ser uma eternidade, ambos ficaram em silêncio, se encarando. até que ele interrompeu, deslizando as mãos pra longe da cintura dela. - Foi um prazer. E partiu como a brisa do vento.
Adara encarou o nada, o nada absoluto. Sentia como se a parceria tivesse sido cortada naquele exato momento, não conseguia descrever a dor que lhe atormentava. Passava pelas suas veias, seu sangue, sua alma. Pelos deuses. A féerica encarou o vazio a sua frente, sem perceber as lágrimas que lhe escorriam, abrindo a boca ainda avermelhada devido ao beijo. Sem saber o que dizer. Não havia percebido quando caiu de joelhos, ou quando entrou em choque absoluto. A parceria féerica era um presente dos deuses, uma união que jamais poderia ser desfeita. Ou pelo menos, era isso que Adara achava. Sentia como se caísse num abismo profundo. E esse abismo durou dias, semanas, meses. A princesa não sabia exatamente quanto tempo havia se passado desde que o illyriano partira, mas nunca, jamais, esquecera aquela dor. Convivia com ela, toda merda de dia. Com o tempo, percebeu que a única solução era bebida. E Adara bebia, pelos deuses, bebia até que seu corpo rejeitasse tudo e vomitasse, ou simplesmente apagasse até que seus guardas a encontrassem em uma rua qualquer e a levassem pra seu pai, que a repreendia. Dia após dia, num ciclo vicioso. O encantador das sombras não estava melhor que isso, e mesmo que o sultão soubesse disso, prometera a si mesmo não mencionar o nome do illyriano em seu palácio outra vez. De acordo com os boatos, o espião se fechara ainda mais, não ousando falar nem mesmo com seus irmãos. Falava apenas o necessário, treinava e apagava todos os dias. Como grão senhor, Hadij não tinha autoridade ou poder pra resolver aquilo. Mas como pai, estava no próprio abismo vendo sua Adara daquele jeito. Nem mesmo Hakab conseguia animá-la. Cassandra parecia cada vez mais preocupada, e com o tempo, com sugestão e proteção da sua Lady, Adara partiu rumo a territórios distantes e perigosos, travando batalhas, lutando em guerras e treinando. Pois a dor de uma guerra era a única coisa que a distraía do laço interrompido, a guerra a mantinha viva, sobrevivendo, era a única faísca de sanidade que lhe restara.
• Quatro séculos após esses eventos •
- Ela virá? O grão senhor da corte oriente questionava o conselheiro, apreensivo com a possibilidade de ver sua primogênita após tantos anos. Ignorava os boatos, que vez ou outra. Espalhavam-se feito pétalas de flores pelo palácio. Que Adara havia enlouquecido, que se tornara tão calculista e violenta, que nem mesmo os Deuses poderiam domá-la.
O conselheiro permaneceu em silêncio. Quando o sultão se aborreceu perante a falta de resposta e estava prestes a bater o cajado, as portas se abriram. E lá estava ela, sua Adara.
Adara agora possuía os cabelos um pouco abaixo do ombro, com a pele absurdamente mais pálida que o normal, como se não visse a luz do sol há anos. O que era um fato. A féerica andava feito um felino, calculando exatamente por onde pisar. Usava um traje de couro preto, com símbolos gravados em prata e ouro. Deslumbrante. Mas o que mais lhe chamou a atenção, foi o colar em seu peito. Um presente que recebera antes de partir. O pingente possuía um formato de sol, que se girasse as pontas dos raios do modo correto, abriria e dentro dele, estaria uma mensagem dos seus pais. " Com amor, pra sempre. "
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𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑾𝒊𝒏𝒅 𝒂𝒏𝒅 𝑺𝒂𝒏𝒅
Fanfiction" Meu pai certa vez comprou e vendeu um pingente dourado com lápis-lazúli que vinha das ruínas de um reino árido no sudeste, onde os féericos governavam como deuses em meio a tamareiras oscilantes e palácios varridos pela areia. " [ Feyre Archeron...