𝔗𝔯𝔦𝔫𝔱𝔞

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Hadij observava o acampamento ao bebericar um pouco do vinho em sua taça. Desde os eventos anteriores com Adara, os dias passaram-se rápido o bastante para que até mesmo o féerico mais poderoso daquela corte se sentisse impotente diante daquele fato. Após o baile, a princesa havia escapado do palácio em busca de aliados, e pelo caldeirão, o que quer que tivesse feito, havia funcionado. O sultão agora observava a inusitada união entre seus prisioneiros e piores assassinos de sua corte, junto aos seus melhores soldados. Diante das dunas de areia que se extendiam a frente, o acampamento fora montado. Féericos descansavam ao lado oeste, cochilando abaixo de longas tamareiras e redes de lã enquanto alguns afiavam de longas espadas, a machados de aparência totalmente grosseira. Ao sul, feiticeiros criavam de escudos de chamas a até mesmo chicotes de areia, que se dissolviam e atacavam diretamente os olhos de seus inimigos. E Lyria.. sua senhora havia partido dias antes dos preparativos para a batalha, alegando buscar todo o reforço necessário. Onde e com quem, ele não saberia dizer. Toda a resposta que recebera ao questioná-la fora um beijo suave após uma gargalhada de divertimento. Sentia-se desesperado quando a duas noites atrás, tentara comunicar-se com sua parceira, sem sucesso. Mas ele sabia, que mesmo na pior das situações, Lyria estava viva. Tudo que ele precisava era de sua companhia. Lutariam juntos, lado a lado. E Adara.. que os deuses tivessem piedade de Devlon. Dias haviam se passado até que precisassem chegar até ali. Precisaram de insistência, firmeza. E mesmo no pilr dos cenários, o sultão via-se obrigado a curvar-se e engolir seu orgulho. Porque precisavam de aliados. O que quer que Devlon estivesse preparando, estava seguro o suficiente para não ser visto novamente. E não importava o quanto desejasse, Hadij sabia e não seria tolo o bastante para pensar que ele havia desistido. Ao entardecer, decidira esticar as próprias pernas em uma caminhada afim de observar os preparativos. Ele já estivera em muitas batalhas, é claro. E guerras tão sombrias que preferia afundá-las em sua memória, pelo bem de sua sanidade. E podia reconhecer aquele sentimento. Aquela apreensão. Pelo desconhecido, pelo que os esperava ao entardecer do próximo dia.

Hadij depositou a taça sob uma fina bandeja de ouro antes de partir, seguido pelo seu conselheiro e braço direito. Apesar da ameaça que assolava sua corte, não poderia deixar de se surpreender com o que sua filha conseguira fazer. E naquele momento, Hadij finalmente sabia que ela estava pronta. Tomaria o trono que lhe era de direito, seria uma nova grã senhora e sultana para aquele povo. E desejava piedade aos que a desafiassem. Adara não era somente forte como ele, era melhor. Conseguia visualizar um mundo sem rótulos, conseguindo reunir de féericos cheios de honra até mesmo os mais porcos ladrões daquele lugar, dispostos a defendê-la naquela causa. Ainda assim, ele se recordava. Recordava-se de quando a princesa havia chegado ao palácio com sua conselheira, a metamorfa banhada pelo sangue-vivo. Adara sequer se preocupara em propôr uma solução.

E ele não poderia culpá-la quando sua filha partiu. E nem mesmo quando entregou-se aos beijos ao espião. Espião que era tão sombrio quanto. Ele sabia sobre os rumores do que o encantador fizera com os desertores da corte noturna. No que os transformara. E apesar do monstro que poderia ser, o sultão agora havia finalmente chego a uma fogueira, onde diversos guerreiros e guerreiras faziam suas refeições. Poderiam ser suas últimas, ele pensou. Hadij sentia-se finalmente cansado. Por milênios, governara suas terras. Cuidara daquele povo, garantira a paz. Não importasse o custo. E agora..tudo que o sultão desejava era abdicar seu posto e viver o resto de sua miserável vida em paz com sua parceira.

" - E o que o impede, majestade? "

Hadij se sobressaltou, rapidamente erguendo a lâmina em direção ao féerico que sorria gentilmente antes de sentar-se ao seu lado. Rhyssand apenas deu de ombros, parecia tão exausto quanto. Apesar do pouco tempo da amizade cultivada, o féerico gostava daquele grão-senhor. Mesmo com os truques sombrios que lhe tiravam o sono.

𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑾𝒊𝒏𝒅 𝒂𝒏𝒅 𝑺𝒂𝒏𝒅Onde histórias criam vida. Descubra agora