𝔉𝔦𝔪

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" Quero que olhe para o céu, encantador. Quero que olhe para o céu e veja-me destruir tudo que mais ama. " A voz do seu superior ecoou em sua mente, seguida pela risada capaz de lhe arrancar arrepios.

Azriel despertou em um sobressalto. O illyriano levou as mãos ao próprio rosto, encharcado devido ao suor que lhe preenchia. E então as levou ao outro lado da cama, onde sua parceira deveria estar. Estava vazio, embora a temperatura ainda estivesse morna. Levantando-se, reuniu tempo o suficiente somente para vestir sua túnica e entre ela, esconder uma de suas lâminas antes de seguir pra fora de sua tenda, atrás de sua senhora.

Durante o trajeto, azriel obrigou-se a estacionar. O espião finalmente fechou os olhos, repousando o próprio rosto contra o tronco de uma árvore envelhecida. A poucos metros, conseguia distinguir a forma de dois guerreiros e uma fêmea, que se encontravam próximos a sua parceira. Devido as risadas, ele já sabia a quem pertenciam essas formas. E por hora, eram uma de suas menores preocupações. Ele finalmente abriu os olhos e abaixou seu olhar.

As mãos dilaceradas que tremiam terrivelmente, devido a ansiedade que lhe atingira em cheio. A voz ainda ecoava em sua mente, tão gélida quanto o medo que lhe invadia. Ele sabia, é claro. Que Adara era perfeitamente capaz de cuidar de si mesma. Que era forte, independente e veroz. E principalmente, intocável se assim desejasse ser. Ainda assim, não deixaria de temer pela sua vida. Porque desde que havia chegado aquelas terras, desde que havia a visto pela primeira vez.. a lembrança ainda era fresca em sua memória, como se houvesse acontecido a dias atrás.

O encantador encarava seu grão senhor, um questionamento. Rhyssand aceitaria o convite? Após tudo o que haviam passado.. Velaris ainda se encontrava frágil, e um ataque seria o bastante para derrubar aquela cidade. E ele não sabia do que seria capaz se isso lhe acontecesse. Porque Velaris ia muito além do que todos sabiam. Velaris era, entre muitas coisas, a única âncora que o féerico possuía, mantendo sua sanidade intacta. Não importava o quão destruído estivesse, se passeasse por aquelas ruas, mesmo que encontrasse um féerico bêbado e feliz tropeçando em paralelos, seria o bastante para mantê-lo vivo. Por mais um dia. Um dia de cada vez, lembrava a si mesmo.

E foi Elain quem finalmente falou. Elain encontrava-se sentada em uma poltrona ao canto da sala, tamborilando suas delicadas mãos sob a capa de um livro. E apesar do comentário se dirigir a Rhyssand, foi para Azriel que ela finalmente olhou.

" - Acho que seria.. agradável conhecer novas pessoas. É uma bela oportunidade para todos. "

O encantador abaixou o olhar, dirigindo-se aos mapas enquanto Cassian parecia cansado demais para dar alguma opinião. O treinamento com Nesta parecia esgotá-lo por completo. Embora que pra sua surpresa, o avanço fosse pequeno, mas estava ali. Há poucas semanas, conseguira flagrar ambos juntos, e apesar do escudo que a féerica parecia erguer, seu parceiro ainda conseguia lhe retirar algumas risadas. Quando o fazia, Nesta Archeron atirava migalhas de pão sobre o cabelo de Cassian, que tornava a gargalhar.

E naquele dia, Azriel sentiu pela primeira vez.. inveja. Ou talvez, dizia a si mesmo. Talvez fosse somente curiosidade. Dias depois, questionara a Rhyssand qual a sensação.. de possuir uma parceira. Seu grão senhor e irmão o observava com a mesma expressão que havia feito dias atrás. O encantador finalmente ergueu a sobrancelha, embora já soubesse a resposta. Rhyssand finalmente sorriu, erguendo as mãos em uma pose animada e divertida.

" Prepare as malas, querido. Estamos indo viajar. "

E naquele momento, sua única reação fora concordar em um movimento com a cabeça, em silêncio. Afinal, o que poderia dar errado?

E desde então, Azriel prometeu a si mesmo que jamais faria aquela pergunta novamente. Definitivamente, era uma pergunta amaldiçoada. O trajeto fora extremamente estressante, e quando finalmente chegara a Corte Oriente.. ele tinha de admitir, era um belo lugar. Ainda assim, pela primeira vez, não conseguia sequer formar um pensamento. O clima seco era absurdo, e talvez " quente " fosse leve demais pra temperatura daquele ambiente. O encantador decidira chegar antes, afim de espionar e descobrir quaisquer segredos que lhe pudessem ser úteis. Havia se instalado em um casebre nos fundos de uma taberna, e não demorou muito pra descobrir os podres debaixo daquelas dunas de areia. Naquela noite, o espião decidira mudar o traje. Era isso, ou teria de dormir sem suas roupas. E naquele lugar, definitivamente não era uma idéia a ser considerada. Já passara do toque do recolher quando Azriel seguiu pelas poucas tendas e armazéns que seguiam com iluminação, afim de encontrar uma túnica que permitisse sentir um pouco do vento sob seu corpo. Se é que isso fosse possível naquele lugar.

𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑾𝒊𝒏𝒅 𝒂𝒏𝒅 𝑺𝒂𝒏𝒅Onde histórias criam vida. Descubra agora