Azriel observava os illyrianos, que arduamente tentavam seguir as regras do capitão que agora gritava novas ordens. O encantador se encontrava recostado em uma das árvores espalhadas pelo local, observando a cena de longe em meio as sombras que lhe cercavam. Desviando sua atenção, passou a observar as fêmeas que passeavam não muito longe, carregando algumas cestas de palha e levando seus alimentos a venda ou as suas devidas casas. Ele simplesmente não conseguia olhar aquilo. Desviando o olhar, encontrou-se novamente com Cassian, que furtivamente viera ao seu lado, quase o assustando. quase. O encantador das sombras arqueou a sobrancelha, aguardando qualquer comentário que justificasse aquilo. - E então?
Cassian prosseguia com uma expressão despreocupada, dando uma mordida em uma maçã recém colhida quando ergueu as mãos em sinal de rendição. - O que espera que eu diga? A reação só fizera com que o espião revirasse os olhos, soltando um suspiro impaciente quando estava quase desistindo. - A propósito, az, ouvi um boato de que sua parceira estaria na casa dos ventos..
Apesar de ter plena ciência de que não passaria de uma isca e motivo das piadas do irmão, o illyriano já havia partido, alcançando o voo até o local. O trajeto fora tranquilo, exatamente o oposto dos seus pensamentos,e quando sobrevoava alguns metros acima do telhado da residência, já conseguia distinguir a voz de Adara. Pelo caldeirão. Era verdade, então.
A algumas semanas atrás, estava aguardando ao lado de fora de uma das salas quando ouviu seu grão senhor conversando a respeito da visita da princesa. Mas ele não imaginava que fosse acontecer até então. Em sua mente, aquela conversava ouvida as espreitadas não passaria de uma pequena hipótese. Azriel retornou ao chão antes que fosse visto pelos demais, adentrando no local. Enquanto caminhava de um lado ao outro pelo térreo, ergueu uma das mãos, observando o anel que usara desde sua última visita. A prata encaixava-se em seu dedo menor, com ondulações enroscando-se na pedra preciosa em tom de amarelo que harmoniosamente era rodeada de flores. A lembrança daquele dia ainda era fresca em sua mente, com o sorriso espertinho que ela lhe dirigia.
Quantas vezes teriam de se despedir? O encantador já estava cansado de ter sempre de dar um adeus diferente. Respirou profundamente então, recompondo-se enquanto o féerico a sua frente entrava no cômodo, empurrando as portas sem qualquer sinal de delicadeza. Os deuses estavam o testando, e Azriel sabia disso. Só não sabia quanto tempo conseguiria aguentar. Toda sua vida resumida em controle de situações que a maioria dos seres fugiriam só de pensar, toda a sua vida um passo a frente de todos. No entanto, quando a guerreira chegara nela, parecia ter virado tudo de cabeça pra baixo, fazendo questão de derrubar todas as peças que ele cuidadosamente organizara.
Afastando os pensamentos, o espião aproveitou a deixa da imedieta que estava ao seu lado. Rhyssand abraçava a féerica de longos cabelos negros, agora trançados, jogados nas costas totalmente cobertas pelo couro da armadura. Maldita que seja, pensou. Toda vez que o illyriano a encontrava, conseguia ficar ainda mais atrativa de uma maneira diferente. Como se já não bastasse o laço que parecia atraí-lo, atando-o a ela.
Azriel enfim se aproximou, percebendo enquanto ela fazia o mesmo e finalmente se encontravam. Aqui estamos novamente, concluiu. A guerreira parecia pensar o mesmo, pois retribuiu o olhar, deixando-o incapaz de quebrar o contato naquele momento. Segundos se passaram, e nenhum dos dois féericos era capaz de mover um músculo. Adara abriu um daqueles sorrisos novamente, retirando a adaga do seu parceiro e a atirando no ar, ciente das habilidades dele. O espião pegou a lâmina no ar, girando-a entre os dedos. Sabia que ela tinha sido usada, e algo dentro dele dizia, que talvez aquela adaga não pertencesse mais tanto a ele, como se pertencesse a ela também. Como se a escolhesse. Ele cedeu. Desviando o olhar afim de observá-la, tentando focar nos pontos certos a serem memorizados enquanto sua parceira sorria a sua frente, um desafio. Se aproximar ali, agora, na frente de todos. E pro inferno que fosse, pensou. O illyriano avançou alguns passos, ficando em frente a ela e lhe devolvendo o anel, recordando-se da promessa que fizeram. Foi a vez dela avançar, atraindo o olhar dele novamente conforme colocava o anel em um dos seus dedos e sorria em provocação. Maldita que fosse, ele conseguia ouvir a respiração dela a centímetros do seu rosto. - " É sempre um prazer, espião. "
Foi o suficiente para que ele se sentisse atormentado durante toda a reunião. Havia tanto o que pensar, dizer. Mas quando se tratava de Adara.. havia muito de menos o que poderia fazer. Ocasionalmente, seu olhar ia de encontro a ela, que conversava com seu grão senhor. O espião conseguia perceber a tensão em seus ombros, embora já houvesse suavizado bastante. Azriel não tinha certeza do que vira, mas por um segundo, pôde ver de relance a féerica que havia desviado o olhar de Amren a ele, com um olhar acusador. Era um território perigoso que ele preferia não arriscar passar. Azriel observava dos fios que ocasionalmente balançavam no rosto dela, até mesmo ao cheiro do mar em sua pele, acobertando o verdadeiro cheiro da princesa. Como se conseguisse perceber a situação, ela o encarou. E lá estavam eles, presos naquele jogo doentio novamente. O espião foi pego de surpresa quando as barreiras da mente dela deslizaram, cedendo e abrindo espaço a ele. Confiando nele. Um único voto. Justo, então. E retribuindo aquele voto de confiança a fêmea ao seu lado, derrubou suas barreiras também, tijolo por tijolo.
Azriel quase havia esquecido sob usar o anel, quando ela mencionara aquilo, e pelos deuses. Sentia-se.. ele não conseguia descrever. Demorou muito tempo, pra finalmente perceber que sentia-se quase envergonhado. A princesa finalmente partiu um tempo depois. Azriel decidiu não acompanhá-la. Cassian a levaria as bibliotecas, e o que quer que fosse. O comentário de Amren sobre sua parceira ainda o assombrava, de modo que o espião andasse de um lado ao outro em inquietação tão grande, que precisou dissipar-se nas sombras, atrás de respostas. Amren parecia já aguardar sua companhia, pois gesticulando com a mão, ordenou que ele se aproximasse, o observando com uma expressão curiosa. - Imaginei que cedo ou tarde, viria me perguntar. Só não imaginaria que fosse cedo assim. Sorrindo, a imediata deslizou o livro pra longe, balançando um dos pé calmamente abaixo da mesa. - Adara é um ser muito..interessante. Com a menção do nome, as narinas do espião dilataram-se enquanto ele cruzava os braços, aguardando. Amren bocejou, parecendo entediada com aquele cenário. - Deseja saber, Espião? Deseja saber a verdade sobre sua parceira? Me surpreendeu que não soubesse, até que entendi o porquê. É orgulhoso e covarde demais pra aceitar o laço. Eu não o julgo. Mas lhe darei um conselho, essa vez. Aquela criatura partindo afora de Velaris, em busca de respostas? Fique com ela. Esteja ao lado dela, porque ela vai precisar. E também, porque imagino que você mereça alguém depois de tudo. Azriel a encarava em silêncio, pela primeira vez, sem saber o que dizer. Mas Amren não desistiria tão fácil, continuando. E a imediata sempre tinha mais. Porque pra ela, nunca era o suficiente. - Sua parceira é uma mestiça. Corre sangue illyriano em suas veias, e sangue do seu grão senhor também...e algo antigo, algo antigo que não posso identificar. E mesmo se pudesse, cabe somente a ela descobrir. Por isso repito, esteja ao lado dela, ou chegará no submundo com a única lembrança de sua ausência.
O illyriano não aguardou por mais, simplesmente saiu dali. Precisava sair dali. Pelo caldeirão.. Ele sabia sobre Lyria pertencer a corte, mas uma illyriana? Um illyriana que havia fugido de Velaris, e guardara esse segredo por tanto tempo? E mais, quantas mais haviam partido junto a ela? O que poderia ser mais antigo ao ponto de ser indiferente e desconhecido a Amren? Azriel partiu rumo ao campo, onde o verdadeiro problema o esperava, prestes a explodir.
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𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑾𝒊𝒏𝒅 𝒂𝒏𝒅 𝑺𝒂𝒏𝒅
Fanfiction" Meu pai certa vez comprou e vendeu um pingente dourado com lápis-lazúli que vinha das ruínas de um reino árido no sudeste, onde os féericos governavam como deuses em meio a tamareiras oscilantes e palácios varridos pela areia. " [ Feyre Archeron...