𝔙𝔦𝔫𝔱𝔢 𝔗𝔯𝔢𝔰

1.1K 110 3
                                    


Quando Cassandra finalmente despertou, arregalou os olhos, boquiaberta com a cena diante de si conforme se esgueirava silenciosamente pra longe dos lençóis espalhados junto a um Amin extremamente sonolento e nu. Nu! Pelos deuses, o que ela estava pensando? E ainda assim, uma vozinha em sua cabeça, sabia exatamente o que ela estivera pensando. Cassandra cedeu, retirando as botas e a camisa de seu corpo antes de retornar a cama, observando o guerreiro que dormia a sua frente conforme deslizava os dedos pelos longos fios desgrenhados. E por mais que uma parte de sua mente estivesse completamente histérica com a idéia de ter ido pra cama com..

- " Seu parceiro sensual e lindo? " Amin agora cruzara os braços, com um sorrisinho exposto em seus lábios conforme seus olhos desviavam para os seios expostos de sua parceira.

No entanto, a féerica apenas revirou os olhos antes de afundar entre os lençóis, escondendo o próprio rosto entre os travesseiros. Se saísse por aquela porta, significaria encarar a ausência de sua princesa, de sua irmã. E Cassandra não suportava aquilo. Quando a dor finalmente a atingira por completo, havia corrido até o guerreiro em busca de abrigo. Em busca de qualquer um. E ainda assim, não sabia porque havia ido diretamente ao alojamento dele naquela noite. Amin avançou em um abraço caloroso, depositando alguns beijos preguiçosos e demorados em suas costas expostas, tentando animá-la. Como sempre fizera, pensou. Havia passado aquela terrível noite na cama do guerreiro, que decidira, pra sua surpresa, dormir num sofá extremamente pequeno pro tamanho do féerico. E apesar da gentileza, quando Cassandra havia despertado pela manhã, parcialmente inconsciente pelo sono que aflorava dentro de si, havia acertado um Amin extremamente gentil e sorridente com uma frigideira em sua testa. E depois disso, acabou por passar a tarde investindo em milhares de pedidos de desculpas, enquanto o féerico insistia que estava bem, apesar do inchaço em sua cabeça. Era estranho como as vezes, algo simplesmente está ali o tempo todo, e você só percebe quando finalmente está pronto para recebê-lo. Cassandra havia passado o resto do dia em seu alojamento, pedindo perdão, e até mesmo se dispondo a fazer uma xícara de chá e uma sopa, pra um Amin extremamente dramático e " doente ".

Desde que o guerreiro percebera a preocupação dela, se tornara extremamente manipulador e dramático, choramingando feito um filhotinho abandonado. E apesar disso, ela ficou. Não porque havia caído naquelas histórias esfarrapadas, ou pelo biquinho nos lábios de um féerico extremamente dramático pro próprio tamanho. Mas porque precisava de alguém. Qualquer um, pra tirar aquele peso que esmagava suas costas, ameaçando consumi-la por completo.

A noite havia finalmente caído quando a metamorfa deslizou o dedo por uma peça de xadrez. Encontrava-se parcialmente deitada entre o tapete felpudo e algumas almofadas, com um tabuleiro esculpido em madeira a sua frente, iluminado pela luz de velas presas a um longo castiçal, ao lado do macho a sua frente, com uma ruga de concentração em sua testa. Daquela forma, poderia até ser considerado " Bonitinho " pensou. Foi quando perceberam o laço entre ambos. Amin rapidamente ergueu o olhar. Estava vestido com uma longa camisa de linho em tom de marrom-escuro, com uma calça escura e os longos cabelos soltos, de modo que dois fios escapassem, um em cada lado de seu rosto. O guerreiro a encarava sem qualquer reação. Pela primeira vez, cassandra não conseguia ler a mente dele. Foi quando percebeu o laço. E piscou, uma, duas. Três, e mais centenas de vezes, tentando compreender. Estava tão atônita quanto ele. Horas haviam se passado, quando ambos bebericavam um chá gelado em meio a tempestade que assolava lá fora, pela primeira vez em séculos. - Preciso ir.

Amin ergueu o olhar pra féerica que alcançava a porta de madeira, segurando-a pelo pulso. Um movimento perigoso, mas ainda assim, extremamente calculado, percebeu. A longa mão preenchia seu pulso, me um movimento firme, mas extremamente delicado e cauteloso. Como se estivesse tão assustado quanto ela. Ainda assim.. não era hora pra aquilo, não agora. Pelos deuses. - Solte-me, ou arrancarei seu dedo em um único movimento.

E ainda assim, o olhar do guerreiro endureceu quando avançou, segurando-a por ambos os pulsos em segundos, finalmente encontrando seu olhar. - Arranque. Quebre, faça o que desejar. É tão seu quanto meu, e se precisar perder todos os meus dedos para mantê-la aqui, assim o farei. Não porque sou um tolo extremamente egoísta e não quero perdê-la, mas porque sei.. acha que não percebo? Dia após dia, vejo qualquer luz se apagando de seu olhar, vejo sua vida sendo sugada de seu corpo até as profundezas do inferno. E dia após dia, preciso provocá-la até que veja qualquer sinal de vida em seus olhos. Me odeie, se assim desejar. Eu não me importo, contanto que isso a mantenha viva. Porque não desejo que sinta nem mesmo uma parcela do que senti quando precisei partir. E sabe porque tive de retornar, Cassandra? - A voz de Amin era como uma lâmina, enquanto este avançava ainda mais, tão próximo que ela poderia sentir sua respiração. Retornei porque enlouqueci. E sabe o que me trouxe de volta a tudo isso? Quando finalmente voltei, e você foi a primeira pessoa que realmente olhou pra mim, e não me viu como o monstro que eu era. Me viu como a pessoa que eu sempre fui, a pessoa que eu era. Agiu como se eu tivesse sumido por um dia, e retornado logo pela manhã. E foi isso, que me manteve vivo. E não me importo se não quer ser minha amiga, se não quer ser minha parceira. Transe com todo o reino, se assim desejar. Mas se isso a mantiver feliz.. me fará feliz também. Concluiu antes de finalmente soltá-la. E foi a vez de Cassandra avançar, levando as mãos até o rosto de seu parceiro em um beijo desesperado. No entanto, as lembranças foram interrompidas quando o guerreiro deslizou as mãos pelos seus cabelos, exibindo o rosto de sua parceira. Ela o observou, analisando. Não sabia quanto tempo havia se passado, quando finalmente sorriu. - Será uma honra ser sua parceira, uma honra tão grande qual seria se me tornasse uma capitã. E sabe porquê? Porque apesar de ser insuportavelmente irritante, tem o coração mais puro que já conheci. Além de.. você sabe. ser bonito.. Cassandra completou antes de revirar os olhos, abrindo um sorriso generoso pro féerico que a envolvia em um abraço antes de derrubá-la da cama.

Agora, a filha do capitão encontrava-se em um armazém abandonado e empoeirado, com os braços cruzados conforme trajava uma armadura dourada, mordiscando os próprios lábios diante da ansiedade. E quando uma Adara extremamente calma e satisfeita apareceu, ela praguejou, avançando tão rápido que a princesa sequer tivera tempo de retribuir ao abraço, sendo umidecida pelas lágrimas de sua conselheira, que praguejava em uma linguagem tão suja, que ela gargalhou, finalmente retribuindo o abraço.

Quando finalmente o desfizeram, Cassandra acertou um soco no ombro de sua senhora, que gargalhou novamente, a envolvendo em um abraço carinhoso conforme alisava seus cabelos diante de um Amin extremamente irritado, rosnando de um canto a outro. Foi quando Adara finalmente percebeu, arqueando uma sobrancelha antes de levar a mão a boca, desviando o olhar de um ao outro antes de erguer o dedo em acusação. - Eu sabia! O tempo todo, eu sabia!

Foi sua vez de arquear a sobrancelha, finalmente cruzando os braços com uma carranca tomando seu rosto. - O que você quer dizer com isso? Você sabia? O tempo todo?

No entanto, a princesa apenas dera de ombros, deslizando em uma queda até o sofá extremamente velho antes de cruzar os braços e gesticular pros dois a sua frente. - Eram a única imagem de parceria que eu conhecia. Eu tinha minhas esperanças, mas achei que a melhor decisão seria não fazer nada.

- " Como uma verdadeira gênia. "

Foi quando Cassandra percebeu a presença do encantador ali, sentado a beira do sofá conforme segurava em suas mãos uma xícara de porcelana, assoprando levemente antes de entregá-la a Adara após o comentário ácido, embora que esta apoiasse o próprio braço nas pernas do espião e aceitasse a xícara sem pestanejar, com naturalidade.

A Dália arregalou os olhos, apontando pra si mesma e pra sua senhora antes de gesticular pra sacada. Eu e você. Lá fora.

E quando ambas se encontraram ali, a conselheira apenas cruzou os braços, com uma expressão cínica em seu rosto. - Então.. quando iria me contar? No entanto, a princesa apenas deu de ombros, bebericando o chá com um sorrisinho discreto. - Ele é quente. No entanto, Cassandra franziu o cenho, desviando o olhar pro recipiente antes de Adara gargalhar, de modo que a metamorfa finalmente ruborizasse ao concluir. - Refere-se ao espião, e não.. foi quando foi interrompida por uma gargalhada ainda mais alta, enquanto sua senhora levava uma das mãos ao rosto. Cassandra sorriu. Pelos deuses, como sentira falta daquilo. Foi sua vez de finalmente explodir em uma gargalhada.

𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑾𝒊𝒏𝒅 𝒂𝒏𝒅 𝑺𝒂𝒏𝒅Onde histórias criam vida. Descubra agora