𝔇𝔢𝔷𝔬𝔦𝔱𝔬

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Abrindo os olhos, Adara encontrava-se em uma cela com pedras escuras que constituíam suas paredes e o chão gélido. O local era completamente escuro, de modo que precisasse se esforçar pra ver qualquer coisa, e mesmo assim, não obtivera sucesso em distinguir o ambiente a sua volta. A única forma que conseguia distinguir era o próprio corpo. A féerica tentou se reerguer, e quando uma pontada de dor percorreu seu corpo em um alerta, decidiu rastejar até as grades de metal, sendo impedida pela cela que parecia aquecer-se com o seu toque. Um encantamento. A princesa encostou o próprio rosto no metal, deixando escapar um suspiro desesperançoso. Estava esgotada. Seu corpo todo clamava por cuidados, latejando, doendo de tal forma que as vezes, precisava de muito esforço pra que não caísse na inconsciência novamente. Com sua visão embaçando novamente, optou por procurar um canto mais aquecido, onde pudesse se aquecer. Que os deuses me salvem. Mas adara sabia, no fundo do seu coração, que se pudesse fazer tudo de novo, ainda faria. Dedicaria sua vida a todas aquelas fêmeas que eram terrivelmente torturadas, diminuídas até que se tornassem um nada. Sua mente vagou longe, de modo que seus pensamentos lhe recordassem do seu pai. Onde ele estaria agora? Adara preferia pela primeira vez, não saber. Com a memória do sultão viva em sua mente, tentava manter o rosto do pai em sua mente, permitindo que lágrimas escorressem pelo seu rosto, o máximo de limpeza que teria naquele lugar. Pensou em Cassandra, que deveria estar a sua procura, arriscando a própria cabeça se fosse preciso. Pensou em seu povo, e por fim, no espião de olhos negros que decidira lutar ao seu lado antes que as chamas a engolissem. E desde então, não se lembrara de mais nada. - " Eu sinto muito, pensou. Sinto muito por tê-lo julgado tão mal, por ter desafiado-o antes mesmo que pudesse dar explicações. Sinto muito por ter negado seu toque, e sinto muito por ser tão estúpida a ponto de fingir que não percebo o quão forte o laço se tornou. Mas não posso me desculpar por uma péssima parceira, por ter desafiado-o naquele momento, não posso me desculpar por defender aquelas mulheres. E mesmo que passe até o fim de meus dias nessa cela, não me arrependo. Garanti a liberdade que sempre almejei ter. Eu sinto muito, Az. " Pela primeira vez, sentia-se íntima o bastante pra chamá-lo daquela forma. Ele deveria odiá-la, no mínimo. Os eventos agora pareciam retornar a sua mente com mais clareza. As brincadeiras com Cassian, que havia feito tanto por ela, visitando-a e lutando ao seu lado mesmo quando seu parceiro a abandonou. Cassian que a dera esperança, que a manteve viva quando nem ela acreditava em si mesma. E ela o decepcionara, assim como havia decepcionado o espião. Havia invadido seu espaço, questionado sua honra, havia desafiado ele e por pouco, não entraram em uma luta. Tornou-se sua inimiga. E mesmo assim, o encantador havia lutado ao seu lado. Adara não era capaz de descrever a dor que a sucumbia, parecendo alimentar-se de seu sofrimento, desfazendo qualquer sinal de esperança que houvesse dentro de si. E por fim, a última chama dentro de si se apagou.

E finalmente, a princesa estava perdida. Encontrando-se dentro de uma cela vazia e gélida, deitou-se em um emaranhado de palhas, encarando o escuro a sua volta conforme as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Adara ergueu uma das mãos ao alto, imaginando que houvesse estrelas a sua volta. - " Mãe, sinto-me perdida. Sinto-me tão sozinha, tão questionada. E talvez não sobreviva a esse dia, ou a esta semana. Quando tudo que fiz foi erguer-me e lutar pelas que não poderiam. Sinto muito por não ser metade da féerica que você foi, e sinto muito.. - Adara engoliu em seco, sentindo as lágrimas aquecerem seu rosto, como um carinho que não recebia a muito, muito tempo. - Sinto muito por ser quem sou. Sinto muito pelo que me tornei. " Durante tantos séculos, havia bloqueado de si qualquer emoção, seja o amor, a alegria, o medo e até mesmo o desespero. Era a única forma que havia encontrado de sobreviver a tantas guerras, a aquele laço rompido e que estava sendo remendado pelo seu parceiro, antes dela finalmente o destruir. E pelos deuses, quando o desespero finalmente havia a encontrado, depois de tanto tempo, Adara implorou aos deuses que retirassem sua vida ali mesmo. Implorou que qualquer um, qualquer um, cravasse uma adaga em seu peito. Porque o medo e desespero que a possuíam agora, era a pior das torturas. E com a última coragem que possuía, a féerica se entregou a eles, permitindo que a destruíssem até que não sobrasse mais nada além de seus ossos.

𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑾𝒊𝒏𝒅 𝒂𝒏𝒅 𝑺𝒂𝒏𝒅Onde histórias criam vida. Descubra agora