𝔖𝔢𝔦𝔰

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O espião encarou Cassian, que parecia prestes a entrar em um ataque de pânico. Azriel estava buscando informações sobre as bestas, quando ouviu o chamado em sua mente. E quando chegaram lá, a cena era pior do que ele mesmo poderia ter imaginado. Adara estava no chão, sentada, com a barriga completamente dilacerada e aberta, os ferimentos nos braços escorriam seu sangue, enquanto as duas criaturas jaziam mortas no chão. Fúria lhe subiu, como nunca havia acontecido antes. Intocável, a princesa era intocável. Se o rei descobrisse.. ele pensou nas palavras dela durante o passeio no jardim. " Liberdade. " avançou pegando as adagas das criaturas, limpando-as do sangue ao passar as lâminas pelo couro da própria roupa antes de atirá-las pra Cassian, observando a situação em choque. No início, não entendia como seu irmão conseguia ficar tão estupefado daquela maneira, chegava a ser estúpido. Foi quando se lembrou que só ele e a Dama de companhia sabiam. Isso fez com que um pesar tomasse seu peito. Parecia que toda vida se esvaía da féerica. A pele estava pálida , a boca em um tom estranhamente azul, enquanto os olhos estavam fechados. Pelos deuses. Avançou os passos até ela, se ajoelhando e levando as mãos desfiguradas até o rosto delicado, tentando acordá-la. Pro desespero de Azriel, ela não respondia. Foi quando Cassian avançou, se ajoelhando ao lado dele e observando os cortes nos braços, examinando. - Está envenenada. Ela tem poucas horas..
O encantador das sombras o interrompeu. Não ouviria aquilo. Não suportava aquela idéia. Existiam tantos problemas se a vida deixasse aquele corpo, que ele mal conseguiria contar. Toda a corte noturna seria acusada de assassinato, enquanto as outras seriam cúmplices. O rei ficaria louco, entraria em guerra. E por hora, enquanto se recuperavam, não tinham como vencer aquela batalha.

Ele chamou Rhyssand pelos pensamentos. Cabia ao grão senhor tomar aquela decisão.

" - Não posso tomar uma decisão. " Rhyssand concluiu.

Azriel o observou com incompreensão, sem entender o que seu grão senhor dizia. - " Ela está morrendo, e você não pode tomar uma decisão? "

- " Você tem o antídoto? " Rhyssand deu de ombros, parecia tranquilo. Como se princesas féericas morressem diariamente. O espião praguejou, colocando a fêmea em seus braços enquanto tentava pensar em uma estratégia. Pelos deuses. Seria culpa dele.

- Não ouse se culpar, az. Foi tudo que Rhyssand disse, se levantando das pedras prestes a partir, quando o encantador virou o rosto, o encarando com a própria morte encarnada no olhar.

- " Dê o seu sangue a ela. " foi tudo que disse antes de partir. O encantador não pensou duas vezes, puxando a lâmina illyriana e cortando o próprio braço, abrindo um corte fundo. Quando o sangue escorreu, levou a boca da féerica adormecida em seus braços em uma falha tentativa de fazê-la beber. Estava ciente do olhar de Cassian em suas costas, o avaliando. O guerreiro tirou o couro de algumas partes do traje, amarrando nos ferimentos pra garantir. Garantir que nada sairia do lugar. Pelos deuses. O encantador fechou os olhos, encostando o próprio queixo no alto da cabeça da fêmea, paralisada no chão. Não sabia quanto tempo havia se passado, pareciam ter levado horas. Mas sentiu um tremor abaixo de si. Cassian se afastou, praguejando as mais absurdas palavras. Azriel nunca o vira tão tenso, desde que Nesta se revelara sua parceira. Não conseguia culpá-lo, e no momento, não queria pensar na possibilidade de uma guerra iminente.

Ele abriu os olhos, abaixando o olhar pra guerreira que o encarava. Ela sorriu levemente, revelando os dentes sujos de sangue - Sabia que salvaria meu traseiro. O espião riu, se afastando afim de dar mais espaço a ela, embora a mesma o puxasse com as mãos firmes. Não desistiria, como a desgraçada que era. - Eu poderia dizer, você sabe, que quero que fique aqui porque estou apaixonada, mas não consigo ficar de pé, então.. podemos fingir que é isso?

Ela sorriu novamente enquanto o espião concordava, com um sorriso no canto dos lábios. Ele apertou a apertou novamente, tomando-a nos braços. Era estranho. Não era como esperava. Azriel sempre pensara que, quando chegasse o dia de abraçar uma fêmea tão fortemente, seria sua parceira, seu mundo em suas mãos. Não uma princesa assassina que se metia em encrencas. Mas no fundo, a admirava pela coragem que possuía. Ele a encarou, sentindo seu olhar sob ele. - está fechando? Ela murmurou baixinho, desviando o olhar pra longe ao engolir em seco. Ele podia sentir o cheiro dela, medo. A féerica estava com medo. E pra ser sincero, ele também estava. Reuniu coragem, abaixando o olhar pro ferimento que estava visivelmente melhor.

Ele devia ter feito alguma expressão, porque ela parecia aliviada, relaxando nos braços dele. Cassian havia voltado, erguendo o dedo em direção ao rosto de Adara. - Nunca mais, nunca mais faça isso. Se fizer isso, a trarei de volta apenas pra arrancar sua cabeça depois, entendeu?

Adara sorriu, concordando com a cabeça antes de ficar séria, abaixando o olhar. Parecia fazer um grande esforço pro que quer que fosse fazer, Azriel encarava Cassian com um ar de irritação, em uma briga mental com o irmão quando foram interrompidos. - Sinto muito. Foi tudo que disse.

O olhar de ambos retornou pra ela, que desviava o olhar envergonhada. Se sentia responsável. Exatamente o oposto do que o encantador queria que ela se sentisse. Ele desviou o olhar pra Cassian, o fuzilando com os olhos antes de murmurar baixo. - Precisamos ir.

Ele não era bom com desculpas, ou com sentimentos. Era bom estando em silêncio, nas sombras. Mas adara tinha um jeito peculiar de o fazer falar, de viver e participar. As vezes, isso o aborrecia, percebeu. Antes que ela pudesse pestanejar, ergueu-a no colo e caminharam rumo a luz do sol.

- Cassandra -

A féerica derrubou a bandeja de bronze. O chá parecia descer em câmera lenta, enquanto o macho illyriano pegava os talheres e copos, evitando qualquer tipo de ruído que lhes denunciasse. O encantador das sombras segurava sua irmã. Pelos deuses. Cassandra tinha vontade de vomitar ao ver o estado dela. Se não fosse o movimento de vai e vem em seu peito, juraria que adara estava morta.

O encantador a colocou na cama, enquanto Cassian havia buscado uma curandeira. Não demorou muito pra que a senhora chegasse. Uma féerica de cabelos grisalhos brancos em um vestido de veludo verde, usando um cajado. Se aproximando de Adara, encarou todos silenciosamente antes de dizer " - Ela vai viver. - alívio preencheu a sala, mas logo a senhora continuou. - mas não posso fazer mais nada. "

Cassandra a encarou com raiva, erguendo-se da cadeira em um piscar de olhos. - Não pode fazer nada? A curandeira concordou. - Não, porque o parceiro dela já a curou. E saiu, deixando o encantador das sombras sem qualquer reação.

𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑾𝒊𝒏𝒅 𝒂𝒏𝒅 𝑺𝒂𝒏𝒅Onde histórias criam vida. Descubra agora