Capítulo 39

175 20 2
                                    


Tive que ficar uns bons minutos com Max para o acalmar, pois embora ele ainda fosse tecnicamente um bebê, ele já percebia certas coisas, e de algum modo Max compreendeu que Emily iria ficar um tempo longe. Quando eu consegui faze-lo não mais chorar e o levei até o carro, foi o rastilho para ele simplesmente voltar a chorar, ir para o carro sem Emily foi a confirmação para ele de que ela iria ficar por lá enquanto nós íamos embora. Eu não sabia o que fazer, já estava entrando em desespero: eu tentei lhe fazer carinho, o sacudir ninando, ofereci brinquedo, comida e tudo mais que me veio à mente, porém ele recusava tudo e apenas chorava. Max chorou até seu corpo alcançar a exaustão, ele só parou de chorar praticamente uma hora depois quando se entregou ao sono e dormiu de tão cansado que estava. Eu fiquei espantada com a atitude dele, afinal eu sempre soube que ele amava Emily e era apegado a ela, porém eu também sempre soube que ele era acostumado com pessoas que ele ama ficar longe dele por um tempo. Aria era sua tia amada, entretanto quando viemos para o Brasil ele não entrou em desespero por ficar longe dela, assim como quando ele se despedia da minha mãe e até mesmo de seu pai, ele não ficava aflito. Max não via Hudson a praticamente um mês, contudo ele não demonstrava sentir tanta falta assim do pai. Agora, com Emily, ele simplesmente não conseguiu lidar com o fato dela se afastar dele.

Emily sempre ria e zombava de mim quando eu dizia que éramos atadas por uma espécie de ligação cósmica, porém a cada dia eu tinha mais certeza que nós duas realmente tínhamos algum tipo de ligação cósmica, pois só isso explicaria esse tipo de coisa. E, evidentemente a ligação de Emily não era apenas comigo, ela também era ligada a Max, o espírito de ambos tinham uma conexão muito forte.

Dirigi até meu apartamento, agora que Emily tinha ido embora senti o peso do mundo sobre mim, eu estava assustada e com medo, se Hudson queria me coagi com as fotos ele tinha conseguido, eu fui todo o caminho desviando de rotas e olhando cada carro ou motocicleta que estava em volta, eu estava tensa e paranoica, meu único consolo é que ao menos Emily estaria segura. Estacionei o carro e subi com Max até meu apartamento, estranhamente eu não me senti segura em minha casa, ao contrário, eu estava me sentindo sozinha e vulnerável. Maldito seja Hudson que conseguiu me deixar em pânico.

Eu não consegui dormir à noite toda, fiquei no quarto de Max velando seu sono, ao menos meu bebê tinha conseguido dormir tranquilo. Eu já que eu não podia ter Emily, precisava de cigarros, porém não tinha nenhum, afinal a tempos eu não sentia a necessidade de fumar. Vi o dia clarear pela janela do quarto de Max, eu tinha decidido procurar Hudson e o questionar sobre tudo, tenta ver o que ele queria armando todo aquele circo e tentar descobrir até onde ele tinha coragem de ir para me ferir. No início, quando deixe-o no hotel ele me ligava com frequência, porém após eu ignorar todas as suas ligações ele simplesmente parou de me ligar.

Assim que a claridade natural do dia se fez presente liguei para Hudson, não eram nem 7 da manhã ainda, a ligação nem chegou a dar um toque sequer, foi direto para a caixa-postal, foi estranho. Repeti a ligação e o mesmo ocorreu, fiz novamente e apenas foi de forma igual, seu telefone estava desligado ou fora de área. Ótimo, pensei ironicamente.

Max acordou, entretanto continuou deitado, molinho, ele tinha dormido longas horas, não tinha acordado desde a hora que dormiu no carro, me aproximei dele e vi que ele estava febril, provavelmente era febre emocional. Essa semana tinha que passar correndo, era tudo que eu mais desejava. Passei a maior parte da manhã mimando Max, eu tentei de tudo para o animar, porém ele estava tristinho demais, nitidamente abatido, de tempo em tempo eu tentava ligar para Hudson, mas era em vão, sempre caia direto na maldita caixa-postal. Quando o relógio cravou em 9 horas comecei a ficar na expectativa de Emily entrar em contado comigo, seu voo partiu sem atraso as 20 horas, de modo que, as 8 horas da manhã ela tinha chegado em Londres, provavelmente ela levaria uma hora até se localizar com os tramites da imigração e com certeza em seguida me mandaria algum tipo de sinal de vida. Entretanto já passava das 11 da manhã quando ela entrou em contato comigo por mensagem de texto.

'Eu estou congelando, dizem que está muito calor e é verão por aqui, porém a temperatura está marcando 22° C e eu realmente estou sentindo meu nariz congelado' Eu ri assim que li sua mensagem, só Emily mesmo para me fazer rir enquanto o mundo desabava.

'Por que não vai tomar um chá com a rainha para se esquentar um pouco?' Brinquei com ela

'Porquê ainda são pouco depois das três horas por aqui e a rainha apenas bebe seu chá as cinco. Fazer o que? São as regras'

'Você é uma idiota hahaha como foi de voo? Você está em um hotel? Já sabe o que está fazendo aí?' Perguntei o que me interessava, pois Emily quando resolvia expor seu lado palhaça não conhecia limites, era capaz dela ficar em uma interminável conversa sem sentido comigo.

'O voo foi bom, sem atraso e apenas com turbulência quando chegamos, eu não estou no hotel e sim na casa da dona Eliana, e devo dizer que a mulher não é a rainha da Inglaterra, mas sua casa é praticamente um palácio, eu não sabia que ela tinha tanto dinheiro e não faço ideia do motivo que precisem da minha presença aqui, entretanto a noite terei de ir a um jantar e acho que posso descobrir algo por lá, Eduardo está comigo aqui, mas ele não me diz nada'

'Eduardo viajou com você?' Perguntei curiosa e um pouco enciumada, afinal ele era um homem bonito e Emily era encantadora, ele poderia acabar se interessando por ela e tentando a conquistar, ainda mais se minhas suspeitas sobre o motivo da presença de Emily por lá ser tão importante assim, se confirmasse.

'Ele não veio comigo, porém quando eu cheguei ele estava aqui me esperando no aeroporto. Como está o Max? E você?'

'Max está sentindo sua falta e eu mais ainda' Limitei-me a essas poucas palavras, não queria a deixar preocupada dizendo que Max tinha ficado doente com sua ausência e eu estava morrendo de medo de Hudson fazer algo.

Conversei com Emily um pouco mais e logo ela disse que teria de ir em algum lugar que nem mesmo ela sabia aonde era, aproveitei e vi que eram já meio dia, tentei novamente entrar em contato com Hudson, porém foi em vão. Liguei para o hotel aonde tínhamos ficado hospedados, assustei-me quando a recepcionista me disse que ele tinha deixado o hotel a uma semana. Merda, agora eu não fazia ideia de como o encontrar.

Certamente ele sabia aonde eu estava, as fotos provam que ele sabia de tudo, ele estava próximo, porém eu não fazia ideia de onde, aquilo só me serviu para dar mais pânico.

Emily contava comigo para fiscalizar se tudo ia seguindo o rumo certo na ONG, por isso gastei a tarde por lá, eu não entendia nada sobre o trabalho administrativo contábil, porém entedia sobre o mecanismo das coisas e pude ver que todos estavam cumprindo seu papel normalmente, era 17 horas quando meu Iphone vibrou em meu bolso, peguei o aparelho e vi que se tratava de uma ligação privada, estranhei, mas atendi.

"Mano, eu to muito fodida" Não sei se minha surpresa maior foi em ouvir a voz de Emily ou maior foi a surpresa de ouvir suas palavras, ela estava nitidamente afobada, com o nível de adrenalina elevado.

"O que aconteceu, Em?" Perguntei curiosa e preocupada.

"Alison, sabe porque estou aqui? Por que a mulher morreu e me deixou todo o dinheiro dela, e olha, eu nem sabia que dava para uma pessoa ter tanto dinheiro assim, é realmente muito dinheiro, e agora tudo é meu, isso só pode ser uma brincadeira, um equívoco." Ela fez uma pequena pausa, eu ia falar algo, mas antes que eu pudesse me manifestar ela voltou a falar " Isso, é um equívoco, eu vou falar com o Eduardo e dizer que é um equívoco, afinal eu não posso ter herdado todo o dinheiro dela e aparentemente o da irmã dela também, que morreu antes e deixou tudo para ela e agora como ela morreu, tudo é meu" Emily falava correndo e respondia a si própria, não me deu chance de falar, eu apenas ri, tanto pela forma engraçada que ela estava agindo e tanto por sua ingenuidade, afinal ela realmente não tinha suspeitado que ficaria com a herança da mulher? Emily era tão ingênua que não tinha percebido que sua presença era de suma importância porquê certamente ela teria herdado algo, ou aparentemente, tudo "Mano, por que você ta rindo? Eu to desesperada"

"Em, você não suspeitou disso por nenhum minuto sequer?"

"Suspeitar de que?"

"De que você seria a donatária da tal dona Eliana?"

"Mano, é claro que não, embora eu tenho certeza que é um equívoco, tem que ser"

A verdade é que não tinha equivoco nenhum nisso, a tal mulher morreu e não tinha herdeiros, de modo que deixou em testamento todas as suas propriedades, dinheiro, joias, relíquias e tudo mais que ela possuía para Emily, que segundo ela, era merecedora de cada item. Quem nunca desejou acordar em um dia e simplesmente descobrir que tinha ficado rica? No caso de Emily ela não tinha ficado rica e sim, provavelmente, milionária, bilionária talvez.

Na quinta-feira Max ainda estava tristinho, não estava mais febril, porém ele não queria se alimentar e até mesmo rejeitava assisti seus desenhos favoritos ou brincar com seus carrinhos. Na quarta-feira ele passou o dia chamando por Emily, hoje ele nem tocou em seu nome. Eu queria fazer algo para amenizar seu sofrimento, mas não sabia o que, acabei tendo a ideia de leva-lo até a casa de Emily para ele brincar com os cães dela, afinal Jack era seu melhor amigo.

Liguei para a casa de Emily e dona Pâmela atendeu, expliquei a ela sobre Max estar triste e perguntei se podia o levar para ele brincar com os cães, ela aceitou e no final da tarde levei Max para lá, seus olhos se iluminaram de imediato ao ver a casa de Emily, infelizmente ele deve ter pensado que iria ver Emily e me olhou com um doce sorriso, me partiu o coração saber que acabei criando falsa expectativa nele, infelizmente ele ficou um pouco triste ao ver que Emily não estava em sua casa, entretanto os cães conseguiram lhe entreter um pouco, dona Pâmela fez um bolo de chocolate e Max aceitou com agrado comer o bolo.

Foi um pouco estranho estar com a mãe de Emily com ela estando a milhas de distância, no entanto a senhora me deixou bastante confortável e não tocou em nenhum assunto delicado, falamos basicamente apenas de Max e como ele era bonito e agradável. Em nenhum momento ela tentou me fazer perguntas sobre minha relação com Emily e eu me senti confortável com tudo. Na hora de ir embora eu pedi ousadamente que ela me deixasse levar Cheshire comigo, o gatinho que Emily adotou para mim na feira de adoção, ela estranhou meu pedido, porém eu expliquei que na verdade o gato era meu, porém como ainda não tinha um apartamento próprio Emily o abrigou, dona Pâmela me deixou levar Cheshire e eu esperava que com um bichinho em casa, Max pudesse ficar um pouco mais feliz.

Eu fui feita pra vocêWhere stories live. Discover now