Eu fui feita pra você

Capítulo 44

"Oh, por favor mãe, você não vai querer despejar em mim toda sua merda de discurso, não agora" Falei irritada, com raiva.

"Eu não faço discursos, Alison, eu apenas tento fazer você enxergar o certo"

"Você..." Eu gritei com raiva, mas Emily não me deixou terminar de falar.

"Vocês tão loucas?" Emily gritou. Eu me assustei e vi que minha mãe também se assustou, Emily respirou fundo antes de continuar "Vocês não se dão conta que tem um bebê aqui doente? Vocês realmente vão gritar aqui?" Ela perguntou retoricamente " Não, vocês não vão. Vocês podem gritar umas com as outras e se matarem se quiserem, mas não aqui, então se quiser continuar gritando e brigando, apenas saiam daqui" Emily disse calmamente.

"Quem é você para me mandar sair do quarto do meu neto?" Minha mãe se irritou mais com Emily se intrometendo no meio da nossa conversa.

"Eu sou apenas uma pessoa que está consciente que Max precisa de tranquilidade, e a senhora ..." Ela fez uma pausa como se procurasse a palavra certa "A senhora está exaltada demais" Emily desviou sua atenção de minha mãe e me encarou "Alison, leve sua mãe daqui" Emily não pedi, ela mandava, eu sabia que ela estava certa, até mesmo porque eu estava tão irritada quanto minha mãe e só poderia me acalmar após lhe dizer tudo que estava me engasgando e não poderia fazer isso com Max a poucos metros de mim enfermo.

"Mãe, vamos" Segurei o braço dela para conduzi-la para fora do quarto.

"Eu não posso acreditar que você vai deixar essa mulher me expulsar daqui"

"Mãe, vamos conversar, Emily está certa, não podemos conversar aqui, então vamos apenas sair e conversar"

Minha mãe a contra gosto cedeu e me deixou leva-la para fora do quarto, assim que eu sai do quarto de Max me senti mais irritada, eu poderia realmente nesse momento brigar com minha mãe e nunca mais olha-la na cara, ela tinha ignorado o estado delicado de Max e brigado comigo, destratado Emily e ainda me fez ficar afastada do meu bebê, e tudo que eu queria e precisava no momento era estar ao lado de Max.

Eu não sabia aonde levar minha mãe, acabou que quando saímos do corredor da UTI vi uma plaquinha sinalizando 'capela', lá provavelmente é um lugar calmo, com sorte estaria vazio, dirigi-nos até a capela.

"Alison, por que você deixou aquela mulher expulsar a gente do quarto? Nós temos o direito de estar lá, somos a família de Max, ela não é ninguém" Respirei fundo, era inacreditável que ela realmente estava mais incomodada com Emily junto de Max, do que com a saúde de Max.

"Mãe, me escute, porque eu só vou falar uma vez, na verdade eu não quero só que você me escute, eu quero você me entenda"

Minha mãe me olhava atenta, eu tinha sua total atenção.

"Eu já estou cheia de você querendo impor o certo e o errado. A vida é minha e eu sei o que é certo e o que é errado para mim, eu já cresci e sei fazer minhas escolhas"

"Você não parece uma adulta, você age como uma adolescente ainda, não tem responsabilidade"

"O que?" Me exaltei "Isso só pode ser brincadeira. Não jogue as merdas de suas frustrações em cima de mim, e nem tirei conclusões sobre mim baseada em você." A acusei de volta "Ou você realmente acha que eu não sei o que você fazia quando era mais nova, você realmente acha que não sei? Ah, você acha" Ri sarcástica.

"Me respeite"

"Então me respeite primeiro, não é porque você é a minha mãe que tem o direito de me julgar ou dizer coisas ao meu respeito. Eu sou responsável, muito mais do que a senhora possa imaginar, sabe mãe, talvez se você fosse menos hipócrita iria me ver de outra maneira e teria orgulho de mim"

"Tão responsável que deixa seu filho conviver com sua namoradinha, você acha isso normal, isso é normal para você, Alison? Duas mulheres? Por acaso agora que você se separou vai se juntar a essa ai e criar Max como se isso fosse normal?"

"E o que é normal, mãe? Ficar com um homem que trapaceia para ganhar dinheiro e depois surta colocando a vida de pessoas em risco? Um homem que atropela o filho e foge esperando que os outros vão cuidar e arrumar a merda que ele fez, isso é normal?"

"Foi Hudson que o atropelou?" Minha mãe perguntou surpresa.

"Sim, foi ele, logo após me assustar e ficar me perseguindo, me ameaçando com um arma"

"Isso não pode ser verdade"

"Mas é a verdade" Olhei para minha mãe, ela estava agora vulnerável, perdida " Sabe o que mais é verdade? O fato de Emily e eu estarmos juntas, e também, o fato de que se depender apenas de mim, eu não me importo de morar com ela e criar o Max junto de Emily" Minhas palavras surpreenderam até mesmo a mim, eu estava dizendo a verdade, o que eu sentia, porém foi estranho eu dizer isso, ter coragem de assumir o que eu estava sentindo não só para minha mãe, mas principalmente para mim.

"Você não tem vergonha disso?" Ela me perguntou.

"Vergonha de amar Emily? Não mãe, eu não tenho. E quer saber mais? Eu teria vergonha é de não amar Emily, pois ela é incrível mãe, a melhor pessoa que eu já conheci na minha vida" um sorriso idiota veio em meu rosto e meus olhos certamente se iluminaram ao pensar em Emily "Ela é uma boa pessoa, mãe. Ela é capaz de abdicar sua vida para cuidar dos outros, ela se doa integralmente ao que ela acredita. Todos que a conhecem sabem o quanto ela é especial. E eu amo o fato dela ser ela mesma, Emily não tenta agradar ninguém, ela simplesmente age de forma natural. Ela cuida de todos, independente se a pessoa é um ser humano ou um animal, independente se é rico ou pobre, se ela conhece ou não, Emily sempre está pronta para ajudar." Desde que eu conheci Emily sempre tive orgulho dela ser como é e sempre admirei isso nela, por isso as palavras saiam de minha boca naturalmente " E eu não estou nem ai se ela é um homem ou se ela é uma mulher, se ela é verde ou rosa, eu simplesmente a amo por ela ser como ela é, e não por ela ser quem ela é. Emily cuida de mim, você não sabe o inferno que anda minha vida ultimamente e Emily dia após dia cuida de mim e de Max, ela ama meu filho e você tem que ver o quanto ele ama ela de volta" Respirei antes de concluir " Se a senhora não pode lidar com isso, se não pode lidar com o fato de que eu amo Emily, então você pode sair da minha vida, pois se você não pode conviver com Emily, você não poderá mais conviver comigo, porque eu pretendo mantê-la na minha vida para sempre" Aquilo tinha sido uma declaração muito maior do que eu pensava que seria inicialmente, porém cada palavra que eu tinha dito era verdadeira.

"Você está escolhendo ela ao invés de me escolher? Eu sou sua mãe" Minha mãe perguntou surpresa e magoada.

"Não mãe, sabe por quê? Por que essa escolha é uma escolha que não precisa existir, eu posso muito bem ter Emily em minha vida e ter você nela também. Só depende de você, mãe, não estou fazendo uma escolha, estou lhe informando meus desejos e lhe informando os rumos de minha vida, isso não impede de você estar nela"

Minha mãe ficou um tempo calada, absorvendo minhas palavras e fazendo suas escolhas

"Eu não vou me afastar de você e nem de Max" Ela disse, eu fiquei feliz com suas palavras, pois ela era e sempre será minha mãe e eu a amo, realmente ficaria mal se ela se afastasse de mim.

"Isso é bom, porque eu não quero você longe de mim ou do Max"

O clima entre nós ainda era hostil, eu tinha dado meu recado e ela tinha o compreendido, entretanto ainda estávamos longe de encontrar um equilíbrio de paz, a conversa terminou sem nenhum tipo de abraço ou contato físico, apenas ambas nos olhamos de forma desconfortável.

"Posso voltar para o quarto do meu neto?" Ela questionou

"Você é quem tem que me dizer, mãe, você pode voltar para o quarto de Max? Você pode lidar com o fato de que Emily estará lá?" Minha mãe ficou um tempo calada, provavelmente pensando em tudo, eu confesso que eu sei que ela estava lutando internamente e engolindo sua própria altivez.

"Eu quero voltar lá e ficar com meu neto" Foi o que ela disse, fiquei orgulhosa dela estar lutando e colocando Max e eu, acima de qualquer outra questão.

Aquela não era a linha de chegada, não era o fim da corrida, o caminho ainda era longo, mas definitivamente aquele era um passo, e um passo é sempre o início de tudo.