Capítulo 35

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Deus realmente as vezes é um grande brincalhão. Eu estava tensa e para completar um acidente tinha acontecido e a avenida que tínhamos que pegar estava completamente parada, de modo que, o caminho que levaria menos de uma hora iria levar praticamente uma hora e meia, ou mais tempo até, durante todo o tempo eu tentava me concentrar apenas em respirar e pensar nas palavras que iria dizer para minha mãe, ela certamente ficaria decepcionada comigo e saber disso me matava, eu queria lhe dar orgulho, mas as vezes eu sentia como se eu apenas lhe desse desgosto.


"Hey, por que está tão calada?" Emily perguntou e me beliscou a perna, já estávamos a uns 40 minutos no carro e eu ainda não tinha aberto a boca "Você sabe que vai dar tudo certo, não sabe?" Ela questionou me dando um sorriso confiante, eu queria ter essa confiança toda, porém não tinha.

"O problema é justamente o oposto, eu sei que não vai da nada certo"

"Alison, no final de tudo sua mãe sempre vai ser sua mãe e ela vai acabar te entendo e apoiando, até porque você foi uma vítima a mais, não foi sua culpa o rumo que tomou essa história"

"Mas minha mãe é tradicional demais, ela não vai gostar que agora sou uma mãe solteira vivendo com meu filho que ainda não tem nem dois anos"

"Mano, esse pensamento é tão retrógrado que nem vale a pena você ficar incomodada com ele, se sua mãe te julgar hoje, certamente vai se arrepender amanhã, então de tempo ao tempo. Fora que como ela pode julgar sua separação se ela também se separou? Isso não tem lógica, Alison."

O tempo que levamos para chegar na casa de minha mãe foi exatos duas horas, tempo suficiente para eu surtar no carro, Emily tentou me ajudar e me fazer ficar calma, porém eu era tensa, afinal eu sabia o que estava por me esperar. Como combinamos ela me deixou com Max na porta da casa de minha mãe, ela disse que não era para eu ter pressa e que ela iria procurar um lugar para ficar e assim que eu ligasse ela iria me buscar.

Toquei a campainha e quando minha mãe abriu a porta, Emily saiu de lá com o carro, minha mãe me abraçou e abraçou Max, usou nossos primeiros minutos juntas para brincar com Max e perguntar como ele estava, as coisas eram tensas, podia-se sentir o peso do ar ao respirar, entretanto estávamos fingindo que tudo estava calmo e em paz.

"Eu fiz as panquecas que você tanto ama, Ali"

"Obrigada, mãe"

Jantamos falando nada de importante, em segundo algum ela tocou o nome de Hudson ou sobre meu casamento, isso era estranho. Meu pai não estava em casa, era apenas ela, Max e eu, quando terminamos o jantar fomos para a sala e o tiro foi lançado.

"Eu falei com seu marido ontem" Minha mãe disse, eu não esperava aquilo "Você me ligou e eu te achei tão estranha, suspeitei que vocês tinham brigado e liguei para ele. Alison, porque não me disse que saiu de casa a semanas?" Minha mãe tentava manter a calma, eu podia ver que ela estava tentando me dar espaço para responder, agradeci mentalmente por isso.

"Mãe, eu não sei se Hudson te contou tudo, mas ele está sendo acusado de fraude, ele liquidou empresas e principalmente liquidou famílias."

"Ali, os problemas de trabalho devem ficar no trabalho, você não pode levar os problemas de seu marido para a relação a dois"

Jura que ela estava falando sério? Ela tinha entendido o que eu disse? Hudson tinha desviado dinheiro, se apropriado de quantias que não era sua, uma família inteira estava na miséria por sua culpa e várias outras estavam em situação de crise simplesmente porque ele era ganancioso demais, porém para ela isso era aceitável.

"Mãe, você não pode estar falando sério, ele roubou pessoas, isso significa que ele não é um bom homem. Por favor. mãe, uma pessoa que ama sua família nunca iria distrair a família de outra pessoa, Hudson é mesquinho, egoísta e eu não vou passar minha vida ao lado de alguém assim" Minha voz deve ter saído ríspida o que fez minha mãe levantar um tom a sua voz.

"Ele é seu marido e pai do seu filho"

"Ele não é meu marido e infelizmente é o pai de Max, eu gostaria de ter escolhido um pai melhor para meu filho, mas aparentemente, nem para isso servi"

"Hudson sempre cuidou bem de Max" Era inacreditável o quanto minha mãe se esforçava para defender ele.

"Sim, porém esse era o mínimo que ele podia fazer, afinal Max é seu filho, entretanto eu não quero meu filho crescendo com os valores deturpados que ele tem, Max vai ter contato com o pai, mas eu vou limitar esse contado, eu quero um filho integro e não alguém que ache que pode se aproveitar da inocência dos outros"

"Você está exagerando, Alison, eu falei com Hudson ontem e ele está muito magoado com você, tanto por tê-lo abandonado quanto por estar afastando Max dele" Revirei os olhos, agora eu era a errada? Ele estava magoado comigo? Isso era uma piada, com certeza.

"Mãe, eu não fiz nada para ele estar magoado comigo, ele quem fez tudo e eu não posso acreditar que você está o defendendo. Ele é um bandido e você deveria me proteger" Falei irritada e acima de tudo frustrada.

"Filha, ele é sua família e quando alguém da nossa família erra, devemos apoiar e não os abandonar" Engraçado como isso não se encaixava a mim, durante toda minha vida cada vez que eu errava ela nunca me apoiava, sempre me criticava ao máximo e por vezes me deixava sozinha para resolver meus erros alegando que se soube errar, tenho que saber arrumar.

"Ele não é minha família, você é minha família, Max é minha família, meus irmãos, meus tios, tias e primos são minha família, Hudson nem amigo meu é, ele me enganou mamãe e está enganando a senhora. Ele se faz de bonzinho, mas na verdade está apenas sendo um manipulador"

"Aonde você está morando?" Minha mãe desviou de assunto, respirei tentando manter a calma.

"Eu aluguei um apartamento" Eu não dei o endereço exato para minha mãe, mas falei sobre o local e sobre o apartamento.

"Por que não veio para cá? Você podia ficar aqui com Max" E ser julgada e deixar você controlar e se meter na minha vida? Não, muito obrigada.

"Eu preferi ter minha independência, viver por minha própria conta, eu sou adulta e mãe já, posso muito bem me cuidar sozinha e cuidar do meu filho" Supostamente eu tinha sido grosseira com ela.

"Não precisa ser grossa comigo" Minha mãe se defendeu "Bem que Hudson disse que você anda muito grossa e estressada"

Eu não podia acreditar nisso, ele tentou me agredir, ele gritava comigo e eu que era grossa e estressada com ele? E o pior, minha mãe tinha acreditado em cada palavra que ele tinha lhe dito e até mesmo contestava o que eu dizia o colocando como dono da verdade.

"Mãe, eu tenho que ir embora, já está ficando tarde" Eram já mais de 22 horas, era melhor eu ir embora antes que tudo acabasse mal.

"Como você vai embora? Vai com a pessoa que te trouxe?" Minha mãe indagou "Eu vi um carro saindo assim que abri o portão, você veio naquele carro, não foi?"

"Sim, foi uma amiga e ela me trouxe e vai vir me buscar"

"Alison, você não está nessa vida novamente, certo?" Eu sabia o que ela estava insinuando, se tinha um motivo para minha mãe defender Hudson tão cegamente esse motivo era por ele ser um homem, minha mãe sempre soube do meu envolvimento com mulheres e para ela isso era abominável, foi inúmeras as vezes que apanhei ou fiquei de castigo por ela descobri-me com alguma namoradinha, então quando Hudson entrou na minha vida, para ela era como se eu tivesse curada desse mal chamado homossexualidade, bissexualidade ou qualquer nome que possam dar.

"Mãe, eu já disse que sou uma adulta e sei me cuidar" Toda a tentativa de civilização e controle que ela estava mantendo caíram ao chão, minha frase entrou em sua cabeça como uma afirmação de que sim, eu estava nessa vida novamente.

"Eu não posso acreditar nisso, você simplesmente abandonou o pai de seu filho a poucos dias e está ai, desfilando com uma mulher. Isso é um absurdo" ela me atacou com suas palavras, me senti coagida por ela. Eu não sabia o que falar, não queria negar Emily em minha vida, mas tão pouco queria a assumir agora "Eu realmente errei muito na sua educação, Alison"

"Mãe, você está subentendendo coisas e fazendo acusações levianas, vamos deixar essa conversa para outro dia, já está tarde e Max daqui a pouco vai ficar chorando de sono"

"Você é inacreditável, Alison" Peguei Max e me despedi da minha mãe antes que tudo saísse de controle de vez.

"Não vai ligar para sua amiga?" Minha mãe perguntou debochada "Eu não posso acreditar que você ainda envolve Max com essas coisas, porque não sai com sua amiga e deixa meu neto comigo? Ele não precisa ir com vocês."

"Mãe, Max é meu filho e eu sei aonde envolve-lo ou não envolve-lo, eu sei cuidar dele e não precisa se preocupar com isso"

"Eu espero que você saia daqui e vá direto para seu apartamento, pois como você mesmo disse, está tarde, e tomara que sua amiguinha tenha consciência de que existe uma criança nisso tudo e não resolva ir com você para seu apartamento" Como sempre minha mãe estava sendo dura e maldosa, não se preocupava se iria se magoar ou não com suas palavras.

Me despedi de minha mãe, Max estava quase dormindo em meu colo, não liguei para Emily, eu queria sair logo daquela casa e principalmente não queria que minha mãe visse Emily.

"Alison, eu já estava me esquecendo, deixa eu ir na sala te pegar uma coisa" Minha mãe voltou para dentro e retornou pouco tempo depois com um envelope na mão e me entregou.

"O que é isso?" Perguntei curiosa olhando o envelope, visivelmente ele estava lacrado e nada tinha escrito nele.

"Como eu disse, falei com Hudson ontem e hoje mais cedo ele passou aqui e me deixou isso, falou que era para eu te entregar" Minha curiosidade foi embora, senti asco daquele envelope mesmo sem saber o que era, afinal se era coisa dele significava que não era nada de bom.

Coloquei o envelope na minha bolsa e fui andando até a esquina, lá liguei para Emily e pedi para ela me pegar na esquina e não na porta de minha mãe, ela realmente devia estar bem perto, pois foi quase instantâneo que seu carro parou frente a mim.

Eu fui feita pra vocêWhere stories live. Discover now