Capítulo 42

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"Para o homem basta um dia. Um dia de coragem. Um dia de luz. Uma atitude pode mudar a qualidade do seu trabalho, do seu cotidiano, e da sua história. O seu relógio pode ser o tempo que não desperdiça glórias, liberto de autopiedades, com faróis que o projetem para além das idades, que o homem arquitete pilares brindando à realidade vindoura. Que a chuva de aplausos ou vaias, fertilizem novos frutos seguindo a lógica da lavoura:
o que cresceu?
o que é que eu faço?
o que tenho que molhar sempre?
o que é que eu levo?
o que é que eu passo?
Não disfarço: O homem é o dono do homem, Deus é cúmplice no livre arbítrio do picadeiro desse espaço.

Escolhe o alvo, o salto e os movimentos no desprendimento que precisará para atirar-se nos braços do outro, na confiança no trapezista ao lado." Trecho do, O Maior Espetáculo da Terra de, Elisa Lucinda

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O policial repetiu o gesto. Mais um soco bruto no peito do meu filho, novamente seu corpo pulou e dessa vez quando olhei, seu peito inflou e ele então respirou. Eu não podia acreditar, Max estava novamente respirando e seu coração tinha voltado a bater, os sinais vitais eram fracos, porém eles estavam lá.

Eu não conseguia parar de rir e chorar ao mesmo tempo, abracei o policial lhe agradecendo. Uma nova sirene se fez audível, dessa vez era de uma ambulância, os paramédicos imobilizaram Max e o entubaram, fui com eles na ambulância. Eu queria dar a mão para Max, mas não me permitiram, eu fiquei de longe olhando aqueles dois homens trabalhando em Max e os aparelhos ligados a ele, um dos homens me olhou e provavelmente viu o desespero estampado no meu rosto.

"Ele vai ficar bem" O médico disse, respirei aliviada. Me assustei quando descobri que Max tinha ficado apenas alguns segundos sem respirar, eu podia jurar que tinha sido bem mais que isso, para mim aqueles segundos tinham durado uma eternidade "Você pode ligar para o pai dele ou qualquer pessoa e dizer que estamos indo para o hospital, não acho que você deva ficar sozinha por agora" O médico sugeriu, lembrei de Emily, olhei o relógio e já era perto das 18 horas, seu voo pousaria a qualquer momento e era apenas ela que eu queria ao meu lado.

Eu não estava bem, eu tinha acabado de ver meu filho morto e agora ele estava todo entubado, eu ouvi perfeitamente o paramédico falar algo sobre cirurgia de urgência, de modo que eu não medi as palavras, apenas mandei uma mensagem para Emily dizendo 'Hudson perseguiu a gente e atropelou Max, eu estou indo para o hospital com ele e acho que ele será operado assim que chegar' Foi tudo que eu escrevi, ela provavelmente iria surtar quando visse aquilo, porém eu realmente não estava em condições de ponderar e amenizar as coisas.

A ambulância chegou no hospital, Max foi encaminhado para o centro cirúrgico e não me deixaram ir com ele, tive que me limitar a ficar esperando em uma sala de espera, uma enfermeira me deu algum tipo de remédio que eu não faço ideia do que era, apenas o bebi. Fiquei sentada esperando notícias, o médico disse que iria vir alguém me atualizar de trinta em trinta minutos, porém não veio ninguém e eu só podia pensar que aquilo era um mal sinal. Meu Iphone tocou e vi que era Emily.

"Em que hospital vocês estão?" Foi a primeira coisa que ela disse quando percebeu que eu tinha respondido a ligação, eu não fazia ideia da onde estava, fui até a recepcionista e me informei, passei o endereço para Emily.

"Como ele está?"

"Eu não sei, levaram ele para a cirurgia e ninguém me diz nada" Falei e voltei a chorar, eu estava preocupada demais, não podia perder Max.

"Não chore, ele vai ficar bem" Emily tentou me acalmar, eu podia senti-la tensa, mas ela tentava me passar força.

"Em, foi horrível ..." Eu disse e meu choro se tornou desesperado, a cena veio fresca a minha mente, Max deitado ao chão, seu coração parado.

Emily levou um longo tempo para chegar ao hospital, durante todo o caminho ela foi falando comigo ao telefone, em verdade praticamente nem falamos, mas tão pouco desligamos a ligação, eu chorava e ela apenas ficava calada ou dizia para eu manter a calma que ela já estava chegando. Quando vi Emily entrar onde eu estava, simplesmente desliguei meu aparelho e corri até ela. Lhe abracei forte e ela retribuiu o abraço de forma igual, eu não sabia que era possível eu chorar mais, porém era, eu chorei mais ainda abraçada a Emily, ela não chorava, se mantinha forte me abraçando e dizendo em meu ouvido que tudo ficaria bem.

"Fica aqui que eu vou tentar descobrir algo" Ela disse assim que viu que me acalmei, porém eu neguei.

"Não, eu vou com você" Afirmei.

"Não, você não vai, você vai ficar aqui e eu vou ali, são poucos passos até o balcão, de modo que você vai me ver daqui" Eu não tinha força alguma para impor qualquer coisa, então só me restou fazer o que ela mandou. Emily foi até o balcão, eu pude ver que ela travou uma pequena briga com a mulher, porém ela venceu, pois a mulher acabou se rendendo e saindo enquanto Emily permaneceu pelo balcão, demorou um tempo e a mulher retornou indo falar direto com Emily.

Quando Emily veio até mim eu estava ansiosa e nervosa.

"O que ela disse?" Perguntei.

"Ela disse que a cirurgia está acabando, Max respondeu bem ao procedimento e ele vai ser encaminhado a UTI, por ele ser tão pequeno podemos ficar com ele na UTI, na verdade, devemos ficar com ele, ele não vai poder ficar sozinho, em todo caso dentro de pouco tempo o médico que o operou vai vir e explicar tudo e vai nos levar até ele"

"Isso é bom, não é?" Perguntei, pois eu estava tão aérea que não conseguia pensar direito.

"Sim, eu acho que é."

Emily sentou ao meu lado e segurou minha mão, ficamos caladas, apenas rezando para tudo terminar bem, um médico chegou até nós e perguntou se éramos parentes de Max, confirmamos e ele se colocou a explicar tudo.

Eu não entendia nada do que ele dizia, queria apenas ver meu filho, a única coisa que entendi que ele disse foi que Max ficaria bem e tudo tinha sido um grande susto. O médico nos levou até a UTI, assim que entramos soltei da mão de Emily e fui até meu filho, ele estava dormindo, provavelmente sedado, ele não respirava por aparelhos, entretanto medidores cardíacos estavam plugados em seu corpo.

Olhei para Emily, ela estava ainda bem próxima a porta, era como se ela tivesse com medo de se aproximar, fiz um gesto a chamando e então pude vê-la reunir uma grande quantidade de ar em seu corpo e se aproximar de nós. Se Emily tinha sido uma fortaleza até agora, ver Max debilitado, na cama, com toda aquela aparelhagem soando, lhe fez desmoronar, Emily começou a chorar.

Eu nunca tinha visto ela chorar, Emily era sempre tão forte e contida, me afastei de Max e soltei sua pequena mãozinha, fui até Emily e a abracei, agora tínhamos invertido os papeis, eu é que lhe dizia que ele ficaria bem e que o pior já tinha passado.

Demorou um longo tempo até Emily se acalmar, o médico que operou Max ficou todo o tempo no quarto, porém ele ficou tão quieto que passou despercebido, quando ele viu que ela não mais chorava se aproximou de nós.

"Vocês podem se acalmar" O médico disse transmitindo confiança "Ele realmente vai ficar bem, ele está sedado devido a cirurgia e tudo que seu corpo passou por hoje, porém isso vai durar só 24 horas, amanhã vamos tirar a sedação dele e com certeza ele vai responder bem a tudo, esse menino é forte" O médico parecia realmente muito tranquilo sobre o estado clinico de Max "Eu vou sair e deixar vocês, qualquer coisa apertem o botão ao lado da cama ou vão até o fim do corredor e chame por um médico ou enfermeiro que viremos. Agora eu aconselho a vocês a se acalmarem e descansar" O médico saiu e deixou a gente sozinha com Max, dessa vez nos duas nos aproximamos dele, cada uma de um lado seguramos sua mão, Emily fazia carinho em seu cabelo e eu na sua bochecha.

Não pude evitar de chorar ao ouvi-la falando com Max, eu estava sensível demais, ouvi-la chamando ele de repolho e dizendo que ele tinha que ficar bom para eles irem jogar bola no parque e cuidar dos cães me emocionou.

Eu fui feita pra vocêWhere stories live. Discover now