Capítulo 33

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Passamos o domingo inteiro na cama, hora ou outra um deles acordavam e eu tentava mimar ao máximo aos dois seres febris ao meu lado. A segunda feira se fez presente e os raios de sol adentravam o quarto trazendo claridade ao ambiente, Max ainda estava mal, pois ao invés de acordar com a luz e pular na cama ele começou a chorar. Emily e eu acordamos com o choro dele, o peguei no colo e o coloquei no meio de nós duas, Emily tentou fazer carinho em seu cabelo, porém ele a empurrou, definitivamente ele estava doente, pois nunca tinha rejeitado Emily antes, tentei fazer carinho nele e também fui empurrada.

"Tadinho, Alison, ele deve estar morrendo de dor na garganta, vamos levar ele ao pediatra" Emily tinha a voz rouca e fraca ainda "Eu sou péssima, por minha culpa ele está doente" Eu já tinha um dramático chorando, não podia lidar com dois.

"Em, a culpa não é sua, Max é um bebê ainda, é normal ele ficar doentinho, a gente leva no médico e com o remédio certo isso passa"

O pediatra só faltou nos matar quando descobriu que demos sorvete a noite para Max, e eu só faltei matar o pediatra por ter brigado conosco, afinal isso iria fazer Emily se sentir mais culpada ainda e eu não queria ela se sentindo assim, depois de medicado fomos com Max para casa, obviamente para a casa de Emily.

"Mano, eu nunca vou me perdoar por isso" Emily também tinha febre e sua voz falhava miseravelmente, porém nada disso parecia lhe incomodar, a única coisa que lhe incomodava era o fato de Max estar doente.

Depois dos remédios Max melhorou substancialmente, de modo que no final do dia ele já arriscava correr e brincar com os cães, Emily parecia não melhorar, porém tão pouco ela deixava se abater, se no dia anterior ela tinha ficado frágil, hoje ela tinha voltado a ser forte . Na terça mesmo com febre ela foi para ONG, eu tentei ao máximo faze-la faltar, mas ela se dizia bem e foi mesmo eu tendo lhe feito mil ameaçadas e chantagens. Como Max ainda estava com dor de garganta e enjoadinho, acabei ficando com ele na casa de Emily, era engraçado, pois eu tinha meu próprio apartamento e eu gostava dele, entretanto a casa de Emily sempre parecia mais acolhedora do que lá. Naquele dia Emily chegou em casa mais tarde do que de costume, o trânsito em São Paulo a cada dia parecia mais caótico.

A semana se passou sem muitos acontecimentos, logo chegou sábado e Emily mais parecia uma pilha de alta tensão, de tão ansiosa pelo regresso de sua família.

"Mano, eles ficaram um mês fora, você tem noção disso? Eu nunca passei tanto tempo afastada deles" Emily tentava arrumar a casa toda, eu a ajudava, porém ela acabava brigando comigo e dizendo que eu estava fazendo errado, Emily parecia ter TOC, pois tudo tinha seu modo e técnica certa para ser executado "Você sabe que vai comigo ao aeroporto buscar eles, certo?" Ela me perguntou e eu travei.

Eu sei? Não, eu definitivamente não sabia disso. Em verdade eu estava tensa com o regresso da família dela, eu tinha passado três semanas me acostumando a uma agradável rotina, em algum canto da minha mente doentia, eu até mesmo sentia essa casa como sendo minha casa, e com a família de Emily regressando é como se parte do meu mundo de fábulas fosse rasgado de mim. Eu tinha medo deles não gostarem de mim ou de Max, pois caso isso ocorre-se eu nem mais poderia ir visitar aquela casa que nós últimos dias tinha me acalentado e me escondido do mundo. Talvez eles pudessem achar Max muito bagunceiro, talvez pudessem me achar muito folgada e assim iriam me querer ver o mais longe possível dali.

"Emily, você ta louca? Nem cabe todos nós no carro" tentei arrumar uma desculpa para não ir com ela, por sorte minha desculpa era perfeita, pois acima de tudo ela era verdadeira.

"Claro que cabe mano, você é magrinha, minha mãe também é, então se meu padrasto vir dirigindo e minha tia na frente, conseguimos ir nós três mais Max atrás" Emily parecia ter tudo planejado.

"Em, não faz sentindo eu ir, é sério" Emily respirou fundo, ela sabia que eu estava dizendo a verdade "Nós iríamos todos apertados no carro e eles nem me conhecem, de modo que não é crucial eu ir. Daqui a pouco eu vou para o meu apartamento e você vai buscar sua família. " Isso era uma outra coisa que estava me deixando tensa, o fato de que agora não tinha mais como adiar eu me mudar definitivamente dali e ir para meu próprio apartamento. Eu não tinha dúvidas que essa noite eu teria que dormir sozinha com Max no apartamento, meu medo era de nem ele e nem eu conseguirmos isso, pois era apenas confortável e natural dormir com Emily, certamente eu teria uma longa noite de insônia sozinha.

"Mano, talvez você esteja certa, mas assim que eu trazer eles de volta para casa, eu passo no seu apartamento e te busco, porque eu quero muito que minha mãe conheça você e Max" Eu tinha conseguido faze-la aceitar não me arrastar para o aeroporto, porém eu ainda tinha uma nova missão, faze-la adiar esse encontro.

"Em, que tal amanhã?" Sugeri tentando adiar esse encontro, eu realmente estava me sentindo insegura sobre conhecer toda a família "Eles vão chegar cansados hoje, então amanhã eu venho e você nos apresenta" Eu lhe dei meu sorriso mais doce, aquele que quebra qualquer tipo de não.

"Alison, você ta fugindo e querendo arrumar desculpa" Aparentemente, Emily já me conhecia muito bem.

"Meo, eu só estou sendo lógica" Me defendi fingindo me ofendida.

"Sabe qual é o problema?" Emily me perguntou e se aproximou de mim, o sorriso travesso em seu rosto me denunciava que ela iria aprontar algo.

"Diga-me, qual é o problema?" Perguntei a encarando séria, minha seriedade morreu no instante em que ela me surpreendeu com um abraçou pela cintura e puxou meu corpo para mais perto do seu, dei um agudo gritinho quando ela fez isso e a olhei sorrindo.

"O problema, senhorita Dilaurentis, é que você nunca foi lógica" Dito isso Emily me beijou, abracei-a pelo pescoço e me rendi ao seu beijo, não importa quantas vezes nos beijamos, Emily sempre conseguia fazer com que eu me viciasse mais em seus beijos e nunca me sentisse saciada. Emily finalizou o beijo com um sequência de selinhos.

"Eu acho que você está fugindo de conhecer minha mãe" Ela disse e eu acabei rindo, afinal de certo modo era a verdade.

Consegui adiar aquele encontro e fui com Max para meu apartamento, foi tão estranho entrar nele e não ter Emily ao meu lado, porém aproveitei meu tempo sozinha e fui começar a arrumar minha vida, eu já tinha fugido a dias de ligar para minha mãe, da forma que, essa foi a primeira coisa que fiz.

Minha mãe era uma boa mãe, ficou feliz com minha ligação, perguntou principalmente sobre Max e sobre mim, mas é claro que ela perguntou também de Hudson e do meu casamento, eu tentei desconversar e disse apenas que precisamos conversar pessoalmente, ela me fez mil perguntas e queria que a gente se encontrasse hoje mesmo, porém eu fugi e disse para marcamos outro dia, ela tentou então marcar um almoço no domingo, mas eu já tinha me comprometido com Emily de almoçar com ela e sua família, minha mãe insistiu que ao menos eu fosse jantar lá no domingo, acabei não tendo como escapar.

Nos meus planos, esse seria meu primeiro passo para continuar organizando minha vida, depois de conversar com minha mãe e explicar tudo que tinha acontecido meu segundo passo seria procurar Hudson e tentar estabelecer algumas regras para que ele pudesse ter contato com Max, sinceramente eu não sabia o que seria mais difícil, encarar minha mãe ou estabelecer uma civilidade com Hudson.

As horas se passavam arrastadas, eu já tinha checado meus e-mails, atualizado minha playlist, entrado em contato com alguns amigos, ido ao mercado, levado Max para brincar no play, feito o jantar e ainda assim eram oito horas da noite e tudo parecia chato e monótono. Emily e eu apenas trocávamos mensagens no WhatsApp, porém ela demorava eternidades para responder.

E não era só eu que sentia o tempo se arrastando, Max parecia tão entediado quanto eu, ele também parecia sentir falta de Emily, foram várias as vezes que ele me olhava e dizia um monte de palavras sem sentido e no final falava 'Em'.

"Você também está sentindo falta dela, né, amor? Amanhã a gente vê a Em" Respondi a Max, sentei no sofá e ele deitou no meu colo, fiquei fazendo carinho nele enquanto rodava um chato desenho na televisão, me assustei com o toque da campainha, porém não levantei para atender, afinal provavelmente era engano. A campainha tocou novamente e mesmo eu sabendo que era engano levantei-me para atender.

"Sua peste, pensei que ia me deixar aqui em baixo a noite toda" A voz de Emily se fez presente pelo interfone, eu mal podia acreditar que ela estava ali, destravei o portão da rua e abri a porta do meu apartamento, demorou apenas o tempo do elevador subir para ela chegar, Max quando ouviu sua voz desceu correndo do sofá e pulou no colo dela.

"Repolho, você sentiu minha falta?" Emily o pegou no colo.

"Meo, eu pensei que você ia ficar em casa com sua família" Fechei a porta e retirei de sua mão a caixa de pizza que ela tinha trago.

"Sim, eu também pensei" Ela respondeu e brincou de sacudir Max no alto "Mas quem resiste a ficar longe dessa coisinha por muito tempo?" Max ria, ele amava essa brincadeira de Emily em sacudi-lo e jogá-lo para o alto.

"Então, só sentiu saudade de Max?" Fiz um leve drama, Emily riu.

"Mas é claro, ou eu deveria sentir saudade de mais alguém?" Ela provocou, fingi-me magoada e virei de costas indo para a cozinha, eu era boa atriz, em questão de segundos Emily apareceu atrás de mim. Ela deve ter deixado Max na sala, seus braços me envolveram e ela me abraçou de costas, sua boca foi atrevidamente até meu pescoço e ela me deu um suave beijo lá.

"Eu não senti saudades de você, eu morri de saudades suas" Emily sabia como me pegar e o que dizer para me derreter, virei-me e a abracei de frente, sorrimos uma para a outra, nossos olhos se penetravam um no outro, eu amava a olhar nos olhos e ver aquele brilho tão único. Nos beijamos longamente, Emily em um único gesto me ergueu do chão e me colocou sentada no balcão da cozinha. Envolvi minhas pernas em volta da sua cintura e a aproximei o máximo de mim, ficamos alguns minutos apenas trocando carinhos e beijos, nós sabíamos que Max logo iria vir atrás de nós e não demorou mais de cinco minutos para ele chegar na cozinha gritando, Emily apenas o pegou do chão e o colocou sentado no balcão da cozinha, ao meu lado.

"Meo, existe mesas e cadeiras nessa casa" Emily me ignorou e pegou a pizza entregando um pedaço para Max e outro para mim, acabou que Max e eu comemos sentados no balcão e Emily logo se juntou a nós e sentou no balcão, também "Você jura que vai fazer meu balcão de cadeira?" Perguntei.

"Você jura que vai ficar reclamando de tudo?" Ela me roubou um selinho e não me respondeu, vagabunda.

Depois de comermos fomos para a sala, sentamos no sofá para assistirmos desenho.

"Mano, eu acho que nem quando eu era criança assistia a tanto desenho, Max tem que aprender a ver coisas legais na televisão" Eu ri, mas concordava com Emily, porém ambas mimávamos demais ele e nunca iríamos ser capazes de trocar de canal. Meu filho acabou dormindo no sofá entre nós duas, olhei o relógio e já iria dar meia noite.

"Em, está tarde, dorme aqui" Pedi e ela me sorriu.

"E por acaso você pensou que eu iria dormir onde?"

Senti meu coração acelerar, entretanto dessa vez nada de criar expectativas, apenas deixar as coisas acontecerem sem planos, o que tiver de ser, será.

Eu fui feita pra vocêWhere stories live. Discover now