Capítulo 69

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Tanto na ONG, quanto minha mãe e Eduardo, apenas ligaram e ao não serem atendidos desligaram a ligação, contudo Hudson tinha deixado uma nota de voz, uma curta mensagem de poucos segundos.

"Se eu ligo é porque preciso falar, me atenda ou retorne"

Estranhei sua mensagem, foi curta e nenhum pouco cortês, mas ainda assim não tinha sido indelicada ou ameaçadora, eu não sei explicar, mas senti urgência em sua voz. Hudson parecia tenso, realmente preocupado e com muita pressa em falar comigo, aquilo foi estranho demais, tão estranho que liguei para ele no mesmo instante, porém ele não me atendeu, repeti a ligação por mais quatro vezes seguidas e nada dele atender, seria em vão ficar o ligando àquela hora, optei por deixar para mais tarde.

Para a ONG não adiantaria mais eu ligar, ignorei Eduardo e escolhi ligar para minha mãe.

"Até que enfim resolveu lembrar que tem mãe" Foi a forma carinhosa que ela me atendeu, ao fundo ouvi os cães latindo e minha tia mandando eles calarem a boca, me joguei ao sofá e me deitei, meu coração se contraiu em meu peito e fui invadida por uma imensa saudade de tudo ali.

"Sem drama dona Pâmela"

"Drama? A gente carrega vocês por nove meses, sofremos de dores no corpo e variações hormonais, engordamos e depois, quando vocês resolvem sair é literalmente um parto, no final ainda criamos, educamos, sustentamos e daí vocês crescem e nos chamam de dramáticas" Sorri, eu gostava do drama dela, até dele estava sentindo saudade nos últimos dias, mas ela não precisava saber disso.

"Mãe, você me ligou e agora já estou aqui, pode dizer o que você quer" Provoquei ela.

"O que eu quero?" Sua voz soou irritada "Não me obrigue ir até aí te bater, porque não me importa quantos anos você tem, eu ainda posso te bater. Eu não quero nada de você, apenas saber se está bem" Ela disse ofendida.

"Não foi isso que quis dizer" Tratei de me explicar, pois pelo que conheço minha mãe, era melhor não deixar mal entendidos e acabar com aquela brincadeira " Que tal a gente esquecer tudo isso?" Pedi.

"Só para seu próprio bem, irei esquecer isso, mas me diga, como está você, Alison e o menino?"

"Estamos aos poucos conseguindo se organizar e ir vivendo. E vocês, como estão todos? A tia? Jack, Sol, Thor, Mingau, Al..." Minha mãe me cortou.

"Já entendi Emily, não precisa falar o nome de todos" Eu ri.

Minha mãe me contou sobre todos e sobre tudo, eu aos poucos fui ponderando as coisas e contando uma ou outra coisa para ela, minha mãe amava ouvir as histórias, principalmente as peraltices de Max.

"Mãe, porque você não vai até a ONG amanhã? Eu preciso conversar com você sobre uma coisa"

"Sua voz ... essa voz" Minha mãe disse e eu não entendi.

"O que tem minha voz?"

"Essa voz é de quando você quer aprontar, Emily, o que você quer aprontar? Eu não vou te ajudar a meter-se em encrenca, lembre-se que eu ainda posso ir ai te bater" Revirei os olhos.

"Mãe, essa é segunda vez que você diz que vai me bater e, eu não vou aprontar nada, apenas quero conversar com você um assunto e vê o que você pensa e se pode me ajudar"

"Desembucha, fala logo" Ela mandou.

"Não, tem que ser pessoalmente"

"Desde quando você tem assuntos que só podem ser tratados pessoalmente comigo?" Ela exigiu "Eu juro que te bato menina, não quero saber se você é adulta ou maior que eu"

"Mãe, relaxa a gente conversa amanhã, ok?"


Quando desligamos a ligação eu não sei ao certo se meu pai tinha acabado de chegar em casa ou se tinha sido um barulho alheio na rua, entretanto novamente os cães começaram a latir, meu coração novamente imergiu-se em meu peito. Eu senti a falta deles, como não senti? Os cães sempre foram minha vida, contudo se antes eles eram minha vida de forma integral, hoje eles eram apenas parte dela, eram meus filhos amados, porém eu não poderia deixar Max ou Alison sozinhos e ir ficar com eles, pois tanto Max quanto Alison também eram parte da minha vida agora. Quando desliguei a ligação ainda fiquei um tempo ecoando os latidos em minha cabeça. Depois de um tempo apenas deitada olhando o teto resolvi me levantar e fui até o quarto de Max, ele estava dormindo, Alison tinha deixado a janela dele levemente aberta e estava bastante frio ali, optei por fechar totalmente a janela e arrumei o cobertor dele.

"Boa noite, jujuba" Sussurrei e lhe beijei o topo da cabeça. Fui até o quarto de Alison, ela estava deitada na cama mexendo em seu notebook, deitei-me ao lado dela e encostei minha cabeça em seu ombro.

"Estava falando com sua mãe?" Ela perguntou sem desviar o olhar da tela do aparelho.

"Sim" Minha voz baixa e melodramática a fez me olhar, eu ainda estava triste e sem saber como lidar com a saudade.

"O que foi, amor? Saudades?" Ela me conhecia mais a cada segundo.

"Bastante" Fui sincera.

Alison abaixou a tela do notebook e o colocou no criado mudo ao lado da cama, quando ela voltou a deitar-se na cama, aproveitei e deitei minha cabeça sobre seus seios, não foi um gesto sexual, ao contrário, foi um gesto ingênuo. Eu amava como podíamos ter nossos momentos de cumplicidade e companheirismos. Alison começou a mexer em todo meu cabelo, fazendo um leve carinho enquanto brincava com algumas mechas.

"Eu acho que sou egoísta demais, estamos aqui por minha causa, eu só pensei em mim e esqueci de pensar em você" Levantei minha cabeça e olhei para Alison, eu não concordava com sua afirmativa, beijei seus lábios levemente e voltei a deitar na mesma posição.

"Não seja idiota, você estava certa, aquela casa é uma loucura, seria muito confuso ficar lá"

"Tudo bem, mas eu quero que você saiba que se quiser, podemos ir para lá" Sorri, o fato de Alison falar 'podemos ir' incluindo a si e a Max comigo, me deixou feliz, ela não se via mais morando longe de mim, tanto quanto eu não me via mais morando longe dela.

Definitivamente em algum ponto, ou talvez, em todos os pontos, nós tínhamos virado uma família.

Levantei novamente minha cabeça de seus seios e a beijei, agora, não um beijo leve e sim um beijo apaixonado, tentei em um movimento subi por cima dela enquanto a beijava, foi inútil, me enrolei com a colcha da cama e acabei caindo de forma desastrada sobre ela, Alison riu de mim.

"Você ri né sua, cachorra?" Bati levemente em seu rosto, um misto de brincadeira e sedução, ela apenas riu mais ainda e me puxou para cima dela enquanto voltava a me beijar. A noite acabou novamente em uma prazerosa troca de carinhos, nossos corpos eram viciados demais um no outro, juntos nossos corpos eram lascivos.

Eu fui feita pra vocêWhere stories live. Discover now