Capítulo 40

171 20 29
                                    


Emily acabou tento que ficar realmente a semana toda na Inglaterra, e embora ela voltasse para casa hoje, teria de voltar a Londres dentro de duas semanas. Ao longo da semana eu tinha tentado entrar em contato com Hudson, mas o número estava sempre desligado, eu até mesmo cheguei a ligar para minha mãe e perguntar se ela tinha algum outro número dele ou se ele tinha lhe ligado de algum outro número, porém ele não tinha. Eu estava em estado de alerta sempre, entretanto ainda assim, parte minha apenas desejava e acreditava que de fato ele tivesse sumido.

Acordei animada na terça-feira, enfim eu mataria saudades de Emily, eu sentia muito a falta dela, passei sete noites sem consegui dormir direito, eu precisava olhar para ela, lhe abraçar e ouvir sua risada pessoalmente, vê-la me franzido seu nariz quando tentava fazer uma careta ou arqueando sua sobrancelha quando queria me ironizar. Resumindo, eu apenas precisava de Emily. Entretanto se meu dia iniciou animado e feliz, foi preciso apenas eu sai de casa para ser tomada por uma estranha sensação, parecia que eu estava sendo vigiada, porém eu tentava olhar em volta e nada via, fui para a ONG e passei o dia por lá, a medida que as horas passavam eu ficava mais tensa, era como se um sexto-sentido me gritasse que algo de ruim iria acontecer.

O voo de Emily chegaria as 18 horas, por isso sai da ONG quando eram 15 horas, pois assim eu poderia passar em casa e tomar banho, trocar de roupa e fazer o mesmo com Max antes de ir busca-la. Entrei no carro e dirigi até meu apartamento, eu estava sentindo uma fobia enorme, porém não sabia do que, apenas eu estava tensa e em pânico.

Estacionei o carro na garagem do prédio, o elevador parecia estar quebrado, fiquei feliz de ter escolhido um apartamento no terceiro andar, afinal subi as escadas com uma criança no colo não é fácil. Ainda sendo poucos lances de escada, cheguei na porta do meu apartamento ofegante, eu realmente tinha zero de condicionamento físico. Peguei as chaves e coloquei na fechadura para abrir a porta, estranhamente a porta já estava destrancada. Um flashback instantâneo passou em minha cabeça e, nele, eu pude ver que eu com certeza tranquei a porta antes de sair pela manhã. O pânico se instaurou em mim de imediato, alguém tinha entrado em meu apartamento, alguém ainda estava lá dentro. Max estava em meu colo, por instinto o agarrei mais forte.

O barulho de uma porta batendo me fez dar um grito alto e agudo, virei-me e vi que era apenas um vizinho saindo de sua casa, ele não entendeu nada, porém veio até mim e me pediu desculpa pelo susto e perguntou se eu estava bem, eu lhe disse que apenas estava cansada, por isso tinha me assustado com o barulho. Aproveitei que o vizinho estava saindo e fui junto dele, eu não iria entrar no meu apartamento sozinha e descobri quem estava lá ou o que tinham feito nele, até porque eu sabia muito bem quem estava por trás disso.

Desci as escadas junto do vizinho, eu estava tensa, em verdade, morta de medo. Fui até a garagem para pegar o carro e sair dali o mais rápido possível, porém assim que pisei na garagem vi que a porta do carro de Emily estava aberta. Hudson não estava longe e nem muito menos no meu apartamento, ele estava aqui, bem próximo a mim. Virei-me e corri dali, o pânico já me possuía por completo.

Corri até a rua, um táxi estava parado próximo a porta do edifício, confesso que meu primeiro instinto foi de entrar nele e mandar o motorista correr para o mais longe possível dali, porém mesmo em pânico eu não podia agir sem pensar, Hudson me conhecia muito bem, ele sabia que eu não entraria no apartamento ao ver que estava destrancado e se ele deixou a porta do carro de Emily aberta, ele sabia igualmente que eu iria entrar em pânico e correr para a rua pegando o primeiro táxi que tivesse parado, eu seria burra se entrasse naquele veículo, se ele tinha sido doentio o suficiente para armar aquilo tudo, seria também para estar dentro daquele táxi, de modo que eu corri até a outra esquina e peguei um táxi qualquer que passou na rua.

O motorista eram um homem negro de idade média, respirei aliviada, eu tinha conseguido escapar do circuito que Hudson tinha montado.

"Para aonde vamos?" O taxista me perguntou, eu não fazia ideia. Para aonde eu poderia ir? O terror corria em minhas veias, eu não podia pensar em nada.

"Apenas segue e me leve para longe daqui" Pedi, o motorista provavelmente estava mais preocupado com o dinheiro do que qualquer coisa, de modo que ele apenas fez o que eu mandei, estávamos a uns dez minutos no táxi, eu não fazia ideia de para aonde estávamos indo, eu apenas estava tentando me concentrar em respirar para não morrer com um ataque cardíaco.

"Senhora, do que está fugindo?" O motorista perguntou e eu me assustei com sua pergunta, pensei que ele não iria indagar nada, apenas iria seguir pela estrada.

"Não estou fugindo" Foi a única mentira, e frase, que consegui elaborar.

"Me desculpe minha senhora, porém tem um táxi atrás de nós desde a hora que saímos daquela maldita rua onde eu peguei a senhora" Senti meu corpo tremer com sua revelação, então realmente era Hudson naquele carro e agora ele estava vindo atrás de mim.

"Apenas continue correndo" Supliquei ao taxista, eu não sabia aonde estávamos, mas a rua parecia deserta, o motorista acelerou, olhei para trás e vi que ele dizia a verdade, tinha um táxi próximo e assim que ele acelerou o táxi atrás fez o mesmo.

Eu não sei como, porém o idiota do taxista conseguiu arrumar um lugar cheio de mato em pleno São Paulo, e ao invés dele ir para a civilização acabou entrando dentro daquele lugar que tinha poucas casas e apenas lama e capim em volta. O taxista estava assustado, com razão, porém com o susto ele acabou parando o veículo.

"Você ta louco?" Gritei "Acelera" Pedi.

"Me desculpe, eu não posso. Eu tenho família e filhos, eu não sei do que a senhora está fugindo, eu apenas não posso ficar junto" dito isso ele abriu a porta do táxi e correu. Merda, eu estava sozinha. Tentei passar para o banco do motorista, mas o pouco minuto que gastei fazendo isso o táxi atrás tomou a frente e parou fechando o veículo que eu estava.

Game over - Pensei

Hudson saiu do táxi a frente, eu não tinha o que fazer, não tinha mais como fugir, apenas sai do veículo aonde eu estava e optei por deixar Max lá dentro.

"Que merda você acha que está fazendo?" Perguntei a Hudson assim que fiquei na sua frente, eu agora já não tinha mais medo, eu tinha ódio, ira, eu sentia que poderia o matar naquele instante e comemorar em seguida sua morte.

"Vous êtes garce" Ele me disse com ódio na voz, o fato dele falar em francês e não em inglês demonstrava o quanto ele estava fora de si.

"O que você quer? Me colocar medo ou realmente você quer ferir a mim?" Perguntei.

"Você não entendeu, eu estou fodido e a culpa é sua" Ele me disse e eu tive vontade de rir, pois certamente aquilo só podia ser uma piada.

"Minha? Por acaso eu que desviei algum dinheiro? Por acaso eu é que fingia ser uma pessoa e agora sou outra? Por acaso sou eu que estou perseguindo e amedrontando pessoas? "

"O que você tem a ver com o modo que eu guio meu trabalho? Você realmente acha que tem moral pra questionar como alguém ganha dinheiro?" Eu realmente não estava mais com medo, pois se eu estivesse com medo, eu não teria coragem de lhe dar o tapa na cara que eu lhe dei, o som da minha mão batendo em seu rosto ecoou no ar, um segundo de silêncio e ele me devolveu o tapa, senti meu rosto arder.

"Seu idiota" Gritei, eu podia ouvir o choro de Max no carro, mas no momento eu apenas ignorei isso "Eu nunca ganhei um real se quer enganando alguém, eu nunca ganhei dinheiro de forma desonesta, por isso não me compare a você, você é um lixo"

"Eu quero você e Max novamente, eu estou disposto a voltarmos para Las Vegas e retornar nossa vida" Dessa vez eu ri, com sarcasmo, ele só podia estar drogado ou louco por achar que depois de tudo eu voltaria com ele.

"Hudson, você está louco"

"É por causa de Emily que você foi embora? Eu sei de tudo, vocês estão juntas e é por culpa dela que você me deixou"

"Hudson, para, isso não tem sentido algum, eu realmente estou com a Emily" Para que eu iria mentir? Ele tinha nos seguido, sabia de tudo "mas ela não foi culpada de nada, você foi culpado de tudo"

"Você não vai ficar com Emily, ou você vai ficar comigo ou você não fica mais com ninguém" De algum lugar de sua calça ele tirou aquele objeto de metal brilhante, a arma reluziu no fraco sol e brilhou sobre meus olhos, Hudson era um bom atirador, eu sabia disso, era seu hobby.

Por um segundo eu me considerei realmente morta, não tinha mais solução para mim, ouvi o choro de Max, seu choro me deu forças para lutar pela minha vida.

"Hudson, solta essa arma, não vai fazer uma besteira, talvez podemos conversa e a gente se acerta"

"Você é uma vadia, acha que sou burro? Eu sei que você só está tentando me enganar para eu não atirar em você e explodir seu lindo rostinho" Os olhos dele eram negros, seu rosto estava vermelho, definitivamente ele estava possuído por uma ira do mal.

"Você não é burro, eu não penso isso, e por isso eu tenho certeza que você não faria nada para lhe prejudicar" Apelei.

"Eu não vou me prejudicar, sabe o que é, Ali. Eu já não tenho mais nada a perder, meu nome está na lama, eu não posso mais retomar minha carreira, mesmo que eu queira me redimir e começar do zero, eu estou afundado. Quem confiaria em mim? E você foi embora, levou meu filho, eu já não tenho mais família." Ele deu um sorriso transtornado, sua arma estava direcionada para mim "Sem emprego e sem família, o que me resta? Nada, eu não tenho nada. Não vou perder nada te matando, eu já não tenho mais você e eu posso muito bem atirar em você e em seguida atirar em mim, assim morremos nós dois, juntos. Como Romeu e Julieta" Eu não sabia o que falar, de certo modo ele estava certo, não perderia nada me matando, ainda mais se depois ele realmente se suicidasse.

Em seguida tudo passou diante da minha mente como um filme em câmera lenta, porém embora tudo tenha passado lentamente, eu simplesmente não conseguia assimilar nada do que aconteceu.

Um barulho de sirene eclodiu atrás de mim, com suas luzes piscando sobre a gente, Hudson se desesperou. Aparentemente ele não era tão corajoso em matar-me e nem tão pouco em morrer, ele jogou a arma de sua mão no chão em desespero e correu até o táxi que ele veio dirigindo, eu não sei como, mas Max conseguiu abrir a porta do táxi e pulou ao chão, o motor do táxi que Hudson estava se fez audível, Max apenas correu.

Max era uma criança de menos de dois anos, pesavapouco mais de onze quilos, era pequeno, frágil, porém o barulho de seu corpocolidindo com o veículo foi o oposto disso, foi alto, forte. Eu vi meu filhoser jogado para o alto como um boneco e posteriormente cair ao chãodesfalecido, Hudson não parou, ele fugiu deixando Max no chão. Corri até meufilho, Max estava imóvel no chão, seu peito estava igualmente parado, ele nãomais respirava.

Eu fui feita pra vocêWhere stories live. Discover now