Capítulo 2 - Pipocas e um segredo

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Júlia chega em casa feliz. Aquele dia tinha sido muito produtivo. Havia passado a tarde conversando com Leandro ( e comendo! Depois iria se perguntar como estava engordando tão rápido), e conseguira fazer ele prometer que estaria em sua casa ainda naquela noite.

- Você está bem? - sua mãe Marina pergunta ao observar que a filha está parada no meio da sala olhando para o nada.

- Claro, mãe. Só estou pensando uma coisa aqui. Vou tomar um banho e fazer pipoca. Já, já o Leandro chega pra gente assistir um filme.

Ela sai e sua mãe faz uma cara de "deixa pra lá " e continua limpando a mesinha de centro.

Já dentro do quarto, Júlia suspira. Precisava tomar mais cuidado. Por pouco sua mãe não desconfia de alguma coisa. Ela sempre soube esconder muito bem o que sentia por Leandro. Mas ultimamente estava ficando mais difícil. Tinha a impressão que o amor vinha aumentando com o passar dos dias. Várias vezes tentou se declarar, mas quando abria a boca pra falar perdia a coragem. E se ele não acreditasse e levasse na brincadeira? Será que para ele, ela continuava a mesma menina de marias-chiquinhas que tanto brincaram de amarelinha? Ou  enxergava nela uma mulher que havia crescido e desenvolvido? Será que ele também gostava dela e da mesma forma disfarçava por não ter coragem de falar? Essas perguntas vinham lhe atormentando há dois anos. E Júlia nunca soube respondê-las. Sempre procurou perceber algo da parte dele que a encorajasse a falar. Mas não, tudo continuava normal. Os mesmos sorrisos, as mesmas brincadeiras, os mesmos abraços. Se ele percebeu alguma coisa, não comentou.

Leandro era muito especial para ela. Era uma mistura de amigo e irmão que ela nunca teve. E, principalmente,  tinhas todas características para um namorado ideal. Se Júlia fosse descrever um namorado ideal ele seria igualzinho ao Leandro.

Enquanto a água do chuveiro caía sobre o seu corpo, ela tentou imaginar como seria se os dois estivessem namorando. Será que mudaria alguma coisa? Descobriria  alguma coisa que não percebera ainda? Júlia achava que não. O conhecia tão bem! Era impossível descobrir algo a mais.

Ela sabia de tudo. Seus gostos, suas manias, o que gostava, o que o irritava...  Sempre que estava nervoso, ele suspirava;  quando estava impaciente, ficava batendo em alguma coisa com os nós dos dedos; quando estava preocupado ficava com a testa franzida,  e tantas outras coisas. Júlia o conhecia quase perfeitamente.  Ao pensar sobre isso ele não pode evitar um pequeno sorriso.

...

Leandro tocou a campainha no horário combinado, no mesmo instante em que Júlia desligava o fogo. "Ótimo!", pensou ela, "uma vez na vida tem que ser pontual. "

Da área de serviço Marina escutou a discussão dos dois na cozinha.

- Está do mesmo tanto.

- Não está! - teimava Leandro- sua vasilha é quadrada, cabe bem mais.

- Mas a sua é mais funda.

Eles nunca comiam pipoca em uma vasilha só. Porque segundo Leandro, Júlia era a maior devoradoras de pipocas. O que não adiantava muito, pois Júlia acabava a sua parte e sempre dava um jeito de conseguir um pouco da parte dele.

- Vocês não cresceram,  sabia? - disse Marina ao entrar- às vezes penso que ainda tem cinco anos.

Terminada a discussão foram para a sala e colocaram um filme. Júlia se sentou bem à vontade no sofá e Leandro, como de costume, no chão. Era um filme de comédia e os dois riam mais e conversavam,  ao invés de prestar atenção.

Júlia pensou em como era bom desfrutar de momentos assim. Descontraídos. Como era sortuda em convidá-lo para passar tempo como ele sem ter de explicar o motivo.

O tempo voou e quando menos esperavam o filme tinha chegado ao fim.

- A gente pode assistir outro. - disse Leandro.

- A pipoca acabou,  mas ainda tem refrigerante. - disse Júlia se levantando.

- Eu escolho o filme. De terror. - ele falou para provocá-la. Sabia que ela morria de medo.

- Nem ouse!

Júlia entra na cozinha e seus pais já estão jantando. Francisco, pai de Júlia, vendo que a filha se dirigia à geladeira comentou:

- Devia está jantando ao invés de se entupir de refrigerante.

- Ai, pai. O senhor sabe que é uma vez na vida.

Ela diz e sai antes que o discurso começasse. Seu pai vivia pegando no seu pé,  falando para ela cuidar mais de sua alimentação.

O filme, agora de ação, já havia sido escolhido. Diferente do outro, assistiram mais concentrado. Mas não impedia de vez em quando Júlia admirar Leandro, que sentado mais abaixo, nem desconfiava que era alvo dos olhares de sua prima.

Mais uma vez o tempo passou tão rápido que quando menos esperavam já eram dez horas. Hora de Leandro ir para casa.

Ele se levantou de forma preguiçosa e Júlia mesmo feliz já estava lamentando. Ela o acompanhou até a porta.

- Tchau, foi muito divertido hoje!

- Xau e até amanhã! - Ele falou e deu alguns passos para fora. De repente parou, olhou para trás e voltou.

- Eu tenho que contar uma coisa para você. - Falou chegando bem perto de Júlia e segurando suas mãos.  Aquele gesto provocou um friozinho em sua barriga.

-  O... quê? - A voz quase não sai.

- Eu estou gostando de uma pessoa...  Nossa! Em dezessete anos é a primeira vez que gosto de alguém.

Júlia temeu que Leandro escutasse o seu coração de tão forte que ele batia. Mil coisas se passaram em sua cabeça.
- E quem é essa pessoa? É da escola ou da igreja?  - ela tentou parecer indiferente.

- É da escola e da igreja ao mesmo tempo. Apesar de nos conhecermos a tanto tempo e conversarmos muito, eu nunca havia parado para prestar atenção nela.

Júlia pensou que seu coração sairia do peito. Agora estava nervosa de verdade. Será que era ela? Mas o sorriso que começou a se formar morreu no instante em que ela escutou:

-  Eu preciso de sua ajuda para conquistá-la. Apesar de achar que ela pode gostar um pouco de mim.

- Eu...  conheço? - ela pergunta sentindo o coração apertado.

- Claro!  Conhece sim. É uma amiga nossa. Mas precisa manter segredo.

- Você me conhece!

- É a Ester!

Complicado Amor (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora