Ir embora ou ficar? Eis a questão! Poucas vezes Júlia se viu tão indecisa. Queria muito ir para casa, adiar aquela conversa tão incômoda. A mão ainda pegou na maçaneta do portão, mas parou. Uma parte dela queria muito saber o que Leandro tinha para dizer. E melhor: ela mesma tinha muito o que dizer. E o que perguntar.
Resolveu voltar.
Ao entrar novamente na casa, já encontrou Leandro fora do quarto. Com cara de que nem havia sinal de dor de cabeça. Os outros estavam conversando na cozinha, onde Patrícia tinha os convidado para tomar café.
Com um gesto, Leandro a convidou para sentar no sofá, onde ela se sentou de modo a ficar bem distante dele. Cruzou os braços e ficou lhe encarando.
- O que foi? Por que está me olhando desse jeito? - Leandro lhe perguntou.
- Me diga você. Você que tinha algo a falar.
Leandro se inclinou para a frente, e baixando a cabeça falou :
- Quero lhe pedir desculpas.
- Não. Esse papo de novo, não.
- Mas dessa vez, é pelo modo de como me comportei ontem. A forma como falei com você e ainda saí de um jeito nada agradável. Por favor, me desculpa!
Júlia diversas vezes se repreendeu por ter um coração tão mole. O pedido de desculpas foi o suficiente para lhe abrandar. Mas antes de falar que o desculpava, lembrou-se de Ester. Dessa vez, não se renderia à gentileza de Leandro.
- Por que mentiu para Ester?
- O quê???
- Porque você mentiu para ela? Falou que trabalhou até tarde e passou o restante do tempo estudando. Mas não! Você estava na minha casa. Por quê?
- Ela lhe falou que eu disse isso? Não, você não está entendendo.
- Então por que você não explica? Aproveita e explica também porque ela saiu dizendo que você estava dormindo e agora você está acordado. Leandro, você sabe que eu detesto mentira.
- Espera aí, Júlia! Eu estava dormindo sim. Acordei a tempo de ver você quase saindo.
Parecia que uma mentira a mais ou uma a menos não fazia diferença.
- Pra mim, chega! - Júlia se levantou. Antes que desse o primeiro passo para sair, Leandro falou:
- Eu já sabia que você ia sair com o Danilo ontem.
Ouvir aquelas palavras, foi como se Júlia tivesse parado no tempo. Por alguns segundos, ela não conseguiu falar nada.
- Eu já sabia. - Ele repetiu.
- Quem falou pra você?
- Ninguém. Eu estava passando e ouvi o Danilo lhe perguntando se você ia. Nenhum de vocês dois me viu.
- Você estava nos espionando?
- Claro que não! Vocês estavam perto da minha classe. Eu fui até sua casa ontem para ver se impedia você de sair com ele.
- Não acredito, Leandro! Você mente pra sua namorada, e vai na minha casa pra mim não sair com o Danilo? O que você pretendia com isso?
- Eu não gosto do Danilo. Ele não é uma boa pessoa para você.
- Boa pessoa? Do que você está falando?
- Ele tem interesse em você. E quando lhe convidou para ir à igreja dele, isso ficou óbvio pra mim. E eu quis impedir.
- O que você tem contra o Danilo?
- Não vou com a cara dele.
- Leandro, você escutou suas próprias palavras? Está dizendo que não gosta de alguém porque não vai com a cara dele. Isso não faz sentido.
- Tá bom. Você quer a verdade? Vamos lá: Não gosto dele antes mesmo de ele ser seu amigo. Desde do dia em que ele chegou na escola querendo ser melhor do que todo mundo, desde o dia em que a minha classe e a sua estava na aula de Educação Física e eu o chamei para fazer parte do meu time, e ele olhou para mim e para meus amigos dos pés à cabeça, e simplesmente rejeitou. Entendeu agora porque não gosto dele?
Júlia escutou atônita aquelas palavras. Agora, mais do que nunca, precisava ir embora. Se virou para ir, quando Leandro impediu segurando seu braço :
- Júlia, entende: eu estou querendo cuidar de você.
Ai, a mania do coração querer amolecer! Foi o suficiente para ela esperar mais um pouquinho.
- Lembra quando éramos pequenos e minha mãe me pedia para cuidar de você para que não se machucasse? É isso que estou fazendo agora: não quero que se machuque.
Júlia fitou Leandro por uns momentos até ouvir a voz de sua mãe:
- Júlia, ainda está aqui?
Leandro ainda estava olhando para ela:
- Já estou de saída. - respondeu se afastando.
Antes de sair de fato, ainda escutou a mãe perguntar:
- Melhorou, Leandro?
- Sim, tia! Já estou ótimo!
Com certeza aquele dia lhe tinha rendido boas emoções!
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Complicado Amor (LIVRO 1)
RomantizmQuem já teve um amor platônico? É justamente isso que Júlia Beatriz está vivendo. E pior: pelo seu amigo de infância, que para complicar mais ainda é também seu primo. Leandro, sem desconfiar dos sentimentos da menina, começa a se interessar por Est...