Capítulo 4 - Igual às outras

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Ao chegarem na cantina (Júlia na frente e Ester um pouco atrás por não conseguir acompanhar os passos da amiga), Leandro já estava esperando as duas. Júlia sentiu uma pontada de tristeza ao vê -lo. Não conseguia entender como uma pessoa que antes a enchia de alegria, agora a fazia sofrer.

- Pensei que não viessem mais. Já fiz nosso pedido. - ele falou apontando para os sucos e sanduíches.

- Não quero sanduíche de queijo hoje. -Júlia falou já pretendendo ser bem chata. A verdade era que ela não estava nem um pouco a fim de ter a companhia dos dois naquele momento. Queria curtir sua tristeza sozinha.

- Tudo bem. Você pode ficar com o de carne. Eu não me importo. - Leandro falou enquanto eles se dirigiam para uma das mesas.

- "O Leandro é irritantemente legal demais". - Júlia pensou.

- O de presunto para você. - Leandro entregou um dos sanduíches para Ester e Júlia não pôde deixar de perceber como ele tocou a mão dela de propósito.

"Ah não! Faz menos de doze horas que descobri que ele gosta dela e a tortura já começou!"

- Obrigada!  - disse Ester.

Os poucos minutos que passaram juntos deixou Júlia muito incomodada. Leandro, que dominara a conversa, parecia se dirigir sempre à Ester e a deixara de lado. Ela se perguntava se já fazia  tempo que as coisas estavam assim e só agora ela percebia.

Com um movimento brusco ela se levantou.

- Aonde você vai? Vai já bater. - Ester perguntou.

- Eu preciso ir ao banheiro.

- E...  vai ao banheiro com o seu lanche? - Leandro estranhou o fato de ela está ainda com o sanduíche e o copo na mão.

Nem mentir ela sabia.

- Vou comendo no caminho. - E saiu antes que fizessem mais perguntas.

Não ficaria mais nem um minuto servindo de vela. Mesmo sabendo que não poderia comer na biblioteca, ela aproveitou que a bibliotecária estava distraída com alguns alunos, e deu um jeito de entrar escondida e se dirigiu lá para os fundos. Aí sim, agora teria paz. Poderia colocar os pensamentos em ordem e descobrir como lidar com o ciúme que agora estava sentindo de Leandro. Nunca antes isso a havia acontecido. Eles eram tão grudados que nunca havia passado em sua cabeça que ela poderia ser trocada um dia. Terminou o lanche e tentou se acalmar. Naquele ambiente ela podia relaxar. Ou quase...

- Sabia que não pode comer na biblioteca? - a voz interrompeu o momento de reflexão de Júlia.
Ela analisou o garoto novato de sua classe, e imaginou se era ela que havia dado a ele a liberdade de falar com ela daquela forma.

- Não estou comendo.

- Mas estava comendo quando chegou.

- Como você sabe? - nem ela mesmo entendeu porque fez a pergunta, não estava a fim de conversar com um quase desconhecido.

- Eu vi quando você chegou. Eu estava sentado ali - e ele apontou para uma das mesas mais à frente - e você se preocupou tanto em não ser vista que eu jurava que estava se escondendo de alguém.

- Na verdade eu não queria ser achada mesmo... - ela falou sem pensar, e se arrependeu no mesmo instante. O rapaz só  estava sendo legal, não merecia sua grosseria.

Ela se corrigiu:

- Bom, o que eu quero dizer é que não queria ser achada por...  esquece!

Ele não tinha nada a ver com aquilo mesmo!

- Por Leandro e Ester?

Júlia arregalou os olhos:

- Como você sabe?

- Você só anda com eles.

- E você que só está aqui há duas semanas já sabe disso e o nome de todo mundo?

- Na verdade já faz um mês. E não sei o nome de todos. Só alguns. Sei o seu nome também.

Nesse momento o sinal tocou. Júlia se levanta:

- Eu tenho que ir.

- Eu também. A propósito, meu nome é Danilo.

Mesmo sem querer, ela aperta a mão que ele estendia e responde:

- Prazer. E... você sabe meu nome.

Bem...  Ela tinha que admitir que o novato era até agradável. Sem dizer mais nada eles se dirigem para a saída da biblioteca.

Júlia chega na classe e Ester já está lá.

- Menina, onde você estava? Disse que ia ao banheiro e sumiu.

- Ah...  resolvi ir  na biblioteca.

- Biblioteca?

- O trabalho de...  história, lembra?

- Júlia, não tem trabalho nenhum.

- Ah não? Pensei que tinha!

Ester olha para ela boquiaberta. Ainda bem que nessa hora o professor chega.

A aula era de Biologia e, diferente do primeiro horário, agora Júlia estava mais concentrada. O fato de ter conhecido uma nova pessoa parecia ter lhe feito bem. Olhou para trás, e algumas cadeiras depois estava Danilo. Ele sorriu para ela. Ester percebeu.

- Pra quem você está olhando?

- Ninguem não.

- Eu vi.

- Então não era pra ter perguntado. - ela responde rindo.

- Engraçadinha. A propósito, ele mora na rua atrás da sua.

- Sério? Como não percebi?

- Porque ultimamente você vive com a cabeça nas nuvens. Não enxerga o que está há um palmo do nariz.

- Ah! Que maldade, Ester.

O diálogo acabou ali porque o professor já estava olhando feio para as duas que estavam cochichando.

Terminada a aula, elas saem juntas e esperam Leandro na saída. Era só até o momento do pai de Ester vim buscá-la e eles ganharem um carona. Leandro chega e minutos depois o pai dela também.

Os três começaram um papo animado até o momento de Júlia e Leandro descerem. Júlia notou como Leandro ficou observando o carro se afastar.

- A propósito - ele falou - A sua ideia foi muito legal.

- Que ideia? - ela perguntou sem entender nada.

- A sua ideia de dizer que ia ao banheiro e deixar eu e Ester sozinhos  - ele falou satisfeito.

Júlia sentiu seu estômago embrulhar. Ele pensou que foi de propósito? Que dizer que agora seria assim? Teria que inventar uma desculpa qualquer para deixar os dois sozinhos? Tudo aquilo estava acontecendo rápido demais e ela não estava preparada.

- É...  foi muito legal mesmo - ela viu que precisava falar alguma coisa.

- Não sei se ela percebeu ainda, mas pouco a pouco estou dando sinais de interesse.

" Ainda por cima vou ficar a par de tudo que acontece com eles. Ninguém merece! " - mas por fora apenas comentou:

- É mesmo? Que bom!

- Sabe, Júlia,  eu nunca pensei que iria encontrar uma pessoa assim como ela. Conheço tantas meninas, mas ela é diferente. Tem algo especial nela que me fascina, e que a cada dia me convida a conhecer mais.

"Conheço tantas meninas", ou seja, ela estava no meio do tantas, inclusa na maioria. Para ele, ela não era especial. Era igual às outras. Júlia virou o rosto para que Leandro não percebesse o quanto ela estava arrasada.

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Complicado Amor (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora