Capítulo 3 - A carta

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Não é possível medir o tamanho da tristeza que aquela notícia provocou em Júlia. Como assim Leandro estava apaixonado? E pior: por Ester, que era sua amiga também. E ainda pediu sua ajuda. Como seria capaz de ajudar a pessoa que amava a namorar com outra?  Ele a ouviu falar que gostava dela. Escutou isso de seus próprios lábios: O amor de sua vida amava outra! Aquilo era aterrador! Mudava tudo. Toda a convivência que tinham estaria ameaçada  a partir do momento em que ele começasse a namorar. E aquilo era só questão de tempo. E ela ainda teria que ajudar! A não ser... Júlia se senta na cama: a não ser que ela não ajudasse. Ajudar significaria entregar uma pessoa perfeita, que poderia ser dela, a outra pessoa. E talvez Ester nem merecia uma pessoa como Leandro. Apesar de serem amigas, sempre a achou um pouco enjoada.

Ester havia se mudado para o bairro há uns cinco anos e morava umas quatro ruas depois. Estudaram os três juntos por três anos. Mas agora só estudava na mesma classe ela e Júlia. Desde o começo eles três eram amigos. Mas Júlia não entendia o porquê de Leandro está gostando dela. Não que ela fosse feia ou desengonçada, mas Júlia não pensou que fosse tanto do agrado dele.

- Ela nem sabe que ele gosta de comer batatinhas com doce de goiaba...  - ela pensou em voz alta.

Ficou imaginando qual foi o momento em que ele passou a considerar Ester como uma possível namorada. Ela nem percebeu.  Deixou escapar esse detalhe tão importante. Se tivesse desconfiado talvez tivesse tomado coragem e se declarado antes.
- Eles vão casar e é  bem capaz de me chamar para ser a madrinha...  - ela continuou falando sozinha em meio à escuridão da noite.

E as lágrimas que tanto tentou reprimir desciam com facilidade. Pois naquele momento caiu a ficha de que agora não adiantava nada tentar conquistar Leandro. Seu coração já estava preenchido. Com muito pesar, ela teve que reconhecer isso. Mas que Leandro não contasse com sua ajuda. Não! Isso era demais para ela. Era a primeira vez que se recusava a ajudar o amigo.

...

Em apenas uma noite mal dormida Júlia adquiriu olheiras enormes. E o corretivo não estava ajudando muito. Levatou-se naquela manhã com uma tremenda má vontade. A sua vontade era passar o dia debaixo dos lençóis. Ia ser um dia daqueles.

Logo de cara Leandro percebeu que havia algo errado.

- Nossa!  Você está com uma cara péssima!  - ele falou mal começaram a a caminhar em direção à escola.

- Toda garota sonha em ouvir isso. - Júlia responde revirando os olhos.

- Me desculpe, mas é a mais pura realidade. - ele fala tentando conter um sorriso enquanto olha para ela com rabo de olho.

Vendo que Júlia não responde ele pergunta :

- Você está bem? Aconteceu alguma coisa?

- Eu estou legal.

Ele faz ela parar :

- Não, você não está bem. Você não me olhou nos olhos.

- Não é nada.  Por favor, não vamos nos atrasar. - ela tenta andar mas ele não deixa.

- Júlia, eu estava brincando, me desculpe.

- Já falei, o problema não é com você!!!
" Na verdade você é cem por cento do problema" - ela pensa.

- Tá  bom, tá bom - ele responde com as mãos levantadas em sinal de rendição - não está mais aqui quem falou.

- Desculpe, Leandro, eu sei que você só quer me ajudar, mas hoje não é um bom dia.

Leandro não responde mas coloca seu braço envolta de seus ombros a abraçando. Júlia ficou pensando como aquele gesto a confortava e ao meu tempo a entristecia. Ele nunca faria aquilo movido por um sentimento mais forte. E assim, calados e abraçados, eles chegaram à escola.

Júlia amava Português e a professora Sandra era maravilhosa na disciplina. Mas realmente ela não estava com cabeça para aquilo naquele dia. Quem se importa em saber o que é oração coordenada sindética ou assindética quando o rapaz que você gosta está preste a namorar com outra? Debruçada sobre os livros, era fácil  perceber que apenas seu corpo estava presente ali. Mas em um momento ela percebeu que todos estavam escrevendo e ela teria que fazer alguma coisa antes que a professora chamasse sua atenção. Abriu o caderno em uma página qualquer, e foi aí que teve uma idéia. Como não pensara naquilo antes? Iria escrever uma carta para Leandro se declarando.  Anônima,  claro. Mas ele se preocuparia tanto em saber quem havia mandado, que se esqueceria um pouco de Ester. Olhando para a própria Ester sentada ao seu lado escrevendo, ela se sentiu uma péssima amiga. Como se adivinhasse que estava pensando nela, Ester olha para Júlia, dá um sorriso e pergunta sussurrando: " Já acordou? ". Não, ela não poderia fazer aquilo! Mas já que estava com papel em mãos e uma caneta, e não fazia idéia o que os outros estavam escrevendo, achou que não seria nada mal escrever mesmo uma carta,  colocando ali todos seus sentimentos. E não seria enviada.

" Querido Leandro,

Não sei a maneira certa de falar: se querido ou amado. Por que você é muito amado. Não sei contar muito bem como aconteceu, mas em um certo dia acordei e percebi que sentia sua falta. Não era mais suficiente ter sua companhia apenas algumas horas por dia, nem em tocar suas mãos apenas por acaso, abraçar você só por impulso. Tudo que eu fazia tinha um significado maior. Passei a ver como eu lhe admirava, e nossa! O tempo passou e eu lhe admiro muito mais ainda. Eu poderia passar horas apenas olhando para você. As palavras não seriam necessárias, pois  através dos meus olhos você entenderia tudo que o meu coração quer expressar. Eu amo seu jeito, de ser, de falar, seus sorrisos...  Sim! Porque você tem um sorriso para cada ocasião e eu sei o que significa cada um deles. Eu amo quando você se preocupa comigo e cuida de mim e,  por alguns momentos apenas, eu me sinto amada por você. E, acredite, essa é a sensação mais maravilhosa do universo. Eu amo... "

- Júlia, você está chorando? - Ester pergunta.

Júlia nem percebeu que o sinal tocou e que também deixara algumas lágrimas escapar.

- Não!  - ela fecha o caderno abruptamente e enxuga os olhos.

- E aí? Vamos lanchar?

E rapidamente se dirige para sair sem se importar com Ester que fica lhe olhando esquisito sem entender nada.

Complicado Amor (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora