Capítulo 24 - Naturalmente

135 19 60
                                    

Júlia sentou-se um pouco desajeitada na cadeira. Danilo havia insistido para que eles sentassem em uma das mesas do lado de fora da sorveteria,   alegando que a noite estava um pouco quente,  mas ela pediu para que ficassem dentro mesmo. E ainda escolheu uma das mesas do fundo. Na verdade, achou que ficaria encabulada se alguém conhecido a visse com Danilo. Tudo aquilo era novidade para ela. Já havia andado naquela sorveteria um milhão de vezes, mas era a primeira vez na vida que ia com um garoto que não era o Leandro. Ainda desconfortável, pegou seu copo de açaí e olhava para todo lugar, menos para Danilo.

- Você está bem? - ele perguntou a encarando - Ainda não deu uma palavra desde que chegamos.

- Eu estou bem sim.

- Pensei que ficaria mais feliz por ter tirado a média em Química. - Ele brincou tentando quebrar o gelo por parte dela.

- Aquilo foi pura sorte! - Ela sorriu, ficando com a postura mais relaxada. Estava funcionando!

- Fez tanto drama que pensei que havia zerado a prova.

- Eu não sabia de nada. Já estava até ensaiando o que iria falar para meus pais.

- Falando nisso, aproveitei para pedir a eles para você ir ao aniversário da Dávila. Fiz isso enquanto lhe esperava.

- O quê?  Eu nem lhe disse se queria ir!

- Você não quer?

- Bom... Eu...

- É claro que você vai. - Ele parou um instante - Olha quem acabou de chegar.

Júlia olhou em direção à entrada e gelou : Leandro e Ester entravam na sorveteria. Agradeceu mentalmente por não ter ficado do lado de fora onde facilmente seria vista.

"Mas o que estou pensando? Não devo nada a ele!"

Mesmo assim foi um alívio quando eles apenas pegaram um sorvete de casquinha,  cada um, pagaram e saíram. Sem nem mesmo se dar conta da presença dela.

- Você ainda gosta dele? - Danilo perguntou enquanto observava que ela seguia o casal com o olhar.

- Um pouco. - Ela voltou a atenção para ele - Mas estou me esforçando para deixar de gostar.

- Sério? - Ele arqueou uma sobrancelha.

- Sim. É hora de deixar pra lá essa paixão boba de adolescente. Além do mais, ele é meu primo. - Ela olhou bem para ele ao dizer a última frase.

Danilo riu:

- Mas você tem que entender! Nunca vi ninguém gostar de primo assim.

- E nem vai ver mais.

- Algum motivo especial para essa decisão?

- Ele gosta da Ester. Ela me falou que ele pediu para voltar. Talvez até tenham voltado, contando com o que a gente acabou de ver.

- Tem certeza que é só por isso?

- Claro? E o que mais seria? - perguntou ela intrigada.

- Não sei... - Ele abaixa a cabeça.

- Porque faltou a aula ontem? - Ela se viu na obrigação de continuar a conversa.

- Acordei com um pouco de dor de cabeça.

- Ai! Foi horrível!

- Que foi? Sentiu minha falta? - ele perguntou com um sorriso.
Júlia não sabia se ele estava falando sério ou brincando. Mesmo assim respondeu:

- Senti sim. Ester passou o intervalo todo conversando com Leandro e eu fiquei sozinha.

Lá estava ela falando no Leandro de novo!

- Vamos mudar de assunto. - Falou ela com um suspiro.

- Vamos dar uma volta?

- Claro. Só não podemos ir muito longe. Tenho horário.

- Seu pai foi bem categórico nesse ponto.

Júlia estendeu a mão para pegar o guardanapo no mesmo momento em que Danilo fez o mesmo. Suas mãos se tocaram por uns segundos. Era o primeiro contato que tinham. E por algum momento, nenhum dos dois conseguiu falar nada. Apenas se dirigiram para o caixa, onde Danilo pagou a conta e, em seguida, caminharam até a saída.
Apesar de Júlia ter abraçado Leandro muitas vezes e ter andando de mãos dadas com ele,  aquele toque na mão de Danilo foi diferente de tudo que já havia sentido. Ela não soube explicar, mas era uma sensação totalmente nova.

- Alguma ideia de para onde devemos ir? - Danilo perguntou enquanto eles permaneciam parados em frente à sorveteria.

- Podemos ir até a praça. Nessa hora deve está bem movimentado.

- Vamos lá.

Caminharam,  ambos ainda calados. Danilo com as mãos nos bolsos da calça e Júlia perdida em seus pensamentos.

Alguns minutos depois estavam na praça. E como Júlia previu, estava cheio de gente. Entre casais de namorados, famílias com crianças que se divertiam no parquinho e tudo mais. Mesmo assim, conseguiram um banco vago para se sentar.

O silêncio já estava incomodando e Júlia resolveu falar:

- Como vai ser a festa de sua irmã? Vai ter muita gente?

- Ah, não! É uma comemoração pequena. Só a gente e alguns jovens da igreja. Na verdade o aniversário dela foi mês passado, mas como não deu pra comemorar, resolvemos fazer nesse mês.

Esse assunto deu início a outros, e Júlia ficou aliviada em Danilo voltar a falar. Já tinha percebido que, inexplicavelmente, havia momentos em que ele se calava, como se travasse.

Quando deu vinte uma horas e trinta minutos, resolveram voltar. Para Júlia, tinha sido um momento muito bom.

- Você gostou?  - Ele perguntou quando já estavam em frente a casa dela.

- Adorei!

- A gente pode ir outras vezes, se você quiser.  - Ele falou um pouco temeroso.

- Quem sabe...

- E se seus pais quiserem ir pro aniversário da Dávila, diz a eles que fiquem à vontade.

- Vou dizer sim.

Danilo parecia querer prolongar o momento.

- Eu tenho que entrar.

- Claro. Já são quase dez horas. - Ele sorriu.

- Foi muito bom,  de verdade mesmo. Tchau! - Ela se despediu e se virou rapidamente para entrar. Danilo ainda ficou parado no mesmo lugar.

"O que está acontecendo comigo? Não consigo mais agir naturalmente com o Danilo!" - se perguntou Júlia.

Complicado Amor (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora