Capítulo 12 - Como sempre

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Nunca antes Júlia esteve em uma situação assim. Se tem uma coisa que ela fez muito bem foi esconder seu sentimento por Leandro. Nem seus pais, nem seus tios, nem mesmo Leandro, jamais havia desconfiado. Agora, diante dela, está alguém com uma semana no máximo de amizade dizendo que sabe que ela gosta dele. Pensou em negar, mas viu que não adiantava muito. Então resolveu abrir o jogo:

- Está tão na cara assim? - Imagine se todo mundo já soubesse e ela iludida pensando que escondia bem? Sentiu um frio na espinha só em pensar nesta catástrofe.

- Não mesmo! Você disfarça muito bem.

- Então como percebeu?

- Digamos que eu sou um bom observador.

- Bom demais pro meu gosto...

Ele ignorou o comentário sarcástico dela:

- Por isso que estranhei vocês serem primos. Só na infância que temos paixonites por primos.

- Você gostou de alguma prima quando era criança?

- Noventa por cento das pessoas tem paixonite por primos. Quando se é criança.... - respondeu ele provocando ela.

- Ai, Danilo, pára! - ela socou ele no braço de brincadeira - nao mandamos no coração da gente.

- Mas me diz? O que fez você se apaixonar pelo Leandro?

De repente, Júlia se sentiu aliviada por finalmente poder contar a alguém sobre o que sentia por Leandro e tudo que tinha vivido nos dois últimos anos. Era ótimo ter alguém pra compartilhar isso e Danilo era um excelente ouvinte.

...

Sábado chegou. Os pais de Júlia passariam o dia todo trabalhando sem virem em casa nem mesmo para almoçar. Por isso mesmo, ela resolveu passar a tarde na casa de sua tia, mãe de Leandro.

- Julhinha, querida! Que bom que você apareceu! - ela foi abracada por sua tia assim que ela abriu o portão .

- Oi tia!

- Fazia um tempinho que você não vinha aqui. Entre. Tenho uma surpresa pra você. Veja quem está!

Ao chegar na sala, Júlia viu Ester sentada no sofá ao lado de Leandro, ambos de mãos dadas. De mãos dadas!

"Ontem estavam brigados e hoje nessa melação" - pensou ela um pouco desapontada.

Se sentiu desconfortável com a presença da amiga e deu uma vontade absurda de voltar para casa. Mas não tinha nenhuma desculpa boa no momento para fazer isso.

- Esterzinha veio almoçar com a gente. - sua tia falava naquele seu jeito que fazia os adolescentes parecerem crianças de quatro anos de idade.

- Oi Júlia! Senta aqui. Estamos vendo um filme. - Ester apontou um lugar ao lado dos dois.
Leandro se limitou a sorrir e continuou concentrado no filme. Que ironicamente era de comédia.

" Ele nunca assiste um filme de comédia calado. Ele comenta o filme todo!" - ela fez questão de perceber a diferença da forma que ele se comportava com ela e com Ester.

Assistiu boa parte do filme ao lado dos dois, ainda de mãos dadas, mesmo com a sensação de que estava sendo um incômodo para eles . Agradeceu o momento em que João, irmão de Leandro, chegou e pulou no colo dela. Daí teve um motivo para sair e foi brincar com o menino na área.

Momentos depois Leandro chegou onde os dois brincavam:

- A gente está indo tomar um sorvete na praça. Você quer ir?

Antes que respondesse, João gritou:

- Eu quero! Eu quero!

- Eu estava pensando em voltar para casa. - Não estava sentindo a mínima vontade de ir.

- Vamos por favor! - João fez cara de choro e Júlia não teve outra oportunidade a não ser ir com eles.

Ester e Leandro caminhavam abraçados mais à frente, enquanto ela vinha atrás conforme os passos de João. Ficou lembrando que inúmeras vezes eles iam ali para tomar sorvete e levavam o menino para brincar. Um momento que não aconteceria mais.

Quando chegaram na praça, João quis ficar brincando no parquinho, enquanto o casal, sentado em um banco, tomava sorvete (que Júlia gentilmente recusou).

" Aposto que se fôssemos mais velhos, todo mundo pensaria que o João era filho deles e eu a babá. Foi pra isso que o Leandro me chamou: pra vigiar o João e eles namorarem em paz. " - enquanto observava a peraltice do pequeno, ela tinha total certeza de que estava certa. Tentou se distrair, mas era difícil não prestar atenção em cada sorriso que Leandro oferecia a Ester.

"Eu não entendo o Leandro! Ontem mesmo Ester falou que ele estava todo estranho. Já hoje, está aí todo bobo com ela. "

Ficou pensando o que Ester poderia ter feito para atraí-lo. Muito quieta, era a que falava menos no trio e a que menos participava das brincadeiras de Leandro. Não pôde evitar de observar no quanto Ester
estava impecável, com seu vestido florido e sapatilha vermelha. Não tinha um fio de cabelo fora do lugar e a maquiagem leve no rosto a deixava perfeita. E ela? Estava com uma blusa sem graça, uma saia mais sem graça ainda, os cabelos presos de qualquer forma e com areia do parquinho nos pés. É claro que Leandro escolheria Ester. Ester sempre estava linda e arrumada, enquanto ela não ligava muito para a aparência e nem para o que estava vestindo. Embora sempre achou que sua amizade e companheirismo falariam mais alto do que a beleza de sua amiga, tudo indicava que Leandro pensava diferente.

- Eu vou deixar a Ester. Você leva o João para casa? - Leandro estava em frente a ela, e ela nem havia reparado na proximidade dele.

- Claro!

Chegando à casa de sua tia, resolveu demorar mais um pouco. Sem Leandro e sem Ester, se sentia mais à vontade. Embora aquela casa fosse o segundo lugar mais agradável para ela, o namoro de Leandro havia mudado muita coisa. Ester não era de frequentar a casa dele. Quando tinham trabalho em grupo, se reuniam na casa de Júlia. Por isso mesmo, foi grande a surpresa de encontrá-la ali. O almoço que houve naquele dia, foi para declará-la namorada oficial, pelo visto.

Estava indo embora, quando Leandro chegou.

- Já vai?

- Já está escurecendo. Meus pais devem ter chegado.

- Eu vou te deixar.

- Não precisa. Só tem dez casas entre a minha e a sua. - ela disse brincando.

- Claro que precisa! Você veio aqui e a gente nem conversou. - Aquela frase mexeu com Júlia.

Caminharam conversando, e ao chegar à casa de Júlia, embora ele não quisesse entrar, ainda se demorou um pouco falando com ela no lado de fora. Júlia lembrou que ele havia prometido contar o que houve entre ele e Ester no dia anterior, mas não sentiu a mínima vontade de perguntar. Estava sendo ótimo a forma como eles conversavam, rindo descontraídos. Como sempre havia sido.

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Olá leitores! Mais um capítulo para vocês. Deixem o votinho e comentem!

Complicado Amor (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora