Os dias da semana estavam passando rapidamente. Leandro, vendo que não adiantava em nada implicar com Júlia por causa de Danilo, passou a ir para a escola sozinho todas as manhãs. No intervalo, continuava junto de seus colegas de classe. E,consequentemente, acabou se afastando de Júlia.
Ela sentiu um pouco sua ausência no início, mas com o passar dos dias, começou a se acostumar. Às vezes, quando se esbarravam pelos corredores, ainda trocavam algumas palavras, mas só até o tempo de Ester ou Danilo chegar. Era estranho ver alguém que sempre fez parte dos seus dias, pouco a pouco se retirar.Por outro lado, ela e Danilo estavam muito mais próximos a cada dia que se passava. Ele até havia deixado de sentar algumas fileiras atrás, onde ficava desde que havia chegado na escola, para sentar ao lado dela.
Na sexta-feira, enquanto esperavam o professor chegar para dar início à primeira aula, Ester anunciou:
- Vou procurar conversar com o Leandro hoje. - Falou muito confiante.
- Mesmo? - Júlia não pensou que seria logo tão rápido assim.
- Sim. Ontem ele me mandou uma mensagem. Disse que está muito arrependido da forma que se comportou enquanto namorava comigo. Ele perguntou se eu lhe daria outra chance. Quer fazer tudo diferente dessa vez.
"Ele se arrepende de ter me dado muita atenção, então. Meu Deus! Eu não consigo entender o Leandro, não consigo mesmo!"- Júlia pensou muito confusa.
- Ele disse isso mesmo? - perguntou ela.
- Falou sim. Eu não prometi nada a ele, mas disse que podíamos conversar. Não somos mais crianças para ficarmos de birra um com o outro. O tempo vai dizer se iremos voltar a namorar ou continuar com nossa boa amizade.
O que Júlia sentiu depois dessa informação foi estranho. Mesmo tendo desejado que eles voltassem e sabendo que não gostava mais de Leandro como antes, ainda se sentiu muito desconfortável com a ideia de eles retornarem ao namoro.
Pra piorar, Danilo havia faltado, e como prometido, Leandro e Ester passaram o intervalo conversando, enquanto ela permaneceu o tempo todo sozinha. Os minutos foram torturantes.
Retornou à classe bem antes do sinal bater, e quando Ester chegou, Júlia não tinha a mínima vontade de saber o que tinham conversado, mas perguntou para não levantar suspeitas:
- E aí?
- Estamos bem.
- Voltaram?
- Ainda não. Resolvi que é melhor dar um tempo antes. Não quero me precipitar dessa vez.
Ao chegar em casa naquele dia, Júlia tomou uma decisão: viu que era inútil continuar alimentando esperanças com o Leandro. Todo aquele tempo, aquele amor que sentia por ele lhe causara mais sofrimento do que alegria. Se bem que ele nem desconfiava de nada, mas ela percebeu que aquilo era um romance sem futuro. O que ainda sentia por ele, não era mais como antes. Então, com algum esforço, ela poderia deixar aquele sentimento de vez.
- Você PRECISA esquecer o Leandro e você VAI esquecê-lo! - Falou para si mesma em frente ao espelho.
Para aquilo funcionar, teria que ocupar a mente a ponto de não ter mais tempo de ficar fantasiando um futuro com ele, como sempre fazia quando demorava a dormir. Ler livros era algo que ela já estava fazendo com bastante frequência, mas tendo o sábado livre, teve vontade de fazer algo diferente naquele dia. Sempre costumava sair com Leandro para fazer qualquer coisa no final de semana, aquilo era um hábito entre eles. Mas desde quando ele começou a namorar, ela passava os sábados em casa. Com exceção do dia em que foi à igreja de Danilo. Foi aí que lembrou do convite dele para ir ao cinema. Pensando bem, parecia uma ótima ideia. Nunca mais havia ido ao cinema. Seria muito legal sair um pouco. Poderia até fazer novos amigos entre os jovens da igreja.
Mandou uma mensagem para Danilo:
Júlia: Aquele convite ainda está de pé?
Dois minutos depois ele respondeu:
Danilo: Infelizmente, eu desisti de ir. Achei que você não estava a fim. E os ingressos já se esgotaram.
"Ela desistiu porque eu não quis ir? Foi isso mesmo que li? " - Estranhou ela.
Júlia : Que pena!
Danilo: Mas a gente pode ir tomar um sorvete, se você quiser. Ou ver outro filme que esteja no cartaz. Você escolhe.
Júlia : Podemos tomar um açaí?
Danilo : O que você quiser.
Júlia : Vou falar com meus pais quando chegarem.
Quando eles chegaram já quase noite, ela mal deixou que seu pai colocasse os pés dentro de casa.
- Pai, posso tomar um açaí com o Danilo?
- Agora?
- Não. Amanhã.
- Volte dez horas em ponto. Nem um minuto a mais.
- Dez em ponto. Prometo.
Já ia saindo quando escutou:
-Ele já se declarou para você?
- Pai! Não tem nada a ver. Pára com isso!
- Pois eu dou a minha bênção.
- O senhor só viu o Danilo uma vez. Como pode ele ter lhe conquistado assim?
- Na verdade já vi mais vezes. Aqui acolá ele vai na empresa. E o André fala nos filhos vinte e quatro horas. Ele é um rapaz admirável, é um bom filho.
- E onde está o pai que disse: "namorado é um monstro muito mal que quer te fazer ficar longe do papai?" - Falou ela engrossando a voz.
Francisco deu uma gargalhada :
- Nossa! Ainda lembra disso? Você tinha seis anos.
- Por favor, o senhor não me mate de vergonha! Isso também vale para a senhora! - disse para sua mãe que assistia a cena com um sorriso nos lábios.
Apesar de Danilo ser um ótimo amigo, seu pai estava exagerando. Conhecia ele há pouco tempo ainda. Mas estava empolgada em sair com ele para tomar açaí na noite seguinte. Sentiu um friozinho na barriga mesmo não sendo a primeira vez que ele lhe convidava para ir a algum local. Era estranho ir a um lugar com Danilo que não fosse a igreja. Só os dois. Parecia um... encontro?
Foi aí que a ficha caiu:
- Ai meu Deus! Eu vou ter um encontro com o Danilo! - Falou um pouco alto demais. Tanto que foi abrir a porta do quarto para conferir se alguém havia escutado.
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Complicado Amor (LIVRO 1)
RomanceQuem já teve um amor platônico? É justamente isso que Júlia Beatriz está vivendo. E pior: pelo seu amigo de infância, que para complicar mais ainda é também seu primo. Leandro, sem desconfiar dos sentimentos da menina, começa a se interessar por Est...