Capítulo 26 - Papel amassado

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Aquilo não era pra ter acontecido. Em hipótese nenhuma!

" Como eu fui tão imprudente ao ponto de deixar essa carta exposta desse jeito? Pior que eu nem lembrava mais dela!"

- Me explica, Júlia! - Ester insistia.

- Não fui eu que escrevi! - Era a  desculpa mais esfarrapada que poderia dar.

- É a sua letra, e está no seu caderno. - Ester esclareceu.

O jeito era admitir:

- Tá, fui eu. - falou como se Ester ainda tivesse dúvida! - Mas já faz um tempinho, antes de vocês começarem a namorar.

- Como assim você gosta do Leandro e eu não percebi???

- Gostava, tá? Não gosto mais.

- É por isso que você não quer o Danilo?

- Não! Claro que não! Não tem nada a ver! E quem disse que o Danilo gosta de mim?

- Não mude de assunto!

- Eu não gosto mais dele, Ester, é verdade. Me esforcei para esquecê-lo quando vocês começaram a namorar. Vi que não era correto.

Ester ficou calada por alguns instantes. E do nada falou:

- Quer saber? Eu sempre achei que vocês seriam um casal!

- O QUÊ???

- Sim. Na verdade, eu me sentia... meio que intrusa entre vocês. Vocês sempre se deram tão bem! Pareciam viver em sintonia. Não era de admirar se acabassem sendo namorados. Era o que eu esperava que acontecesse.  Por isso, me admirei quando ele falou que gostava de mim.

Agora foi a vez de Júlia ficar calada.

- E agora eu descubro que você gostava dele. Porque não falou pra ele?

- Eu não sei... Não parecia a coisa certa a se fazer, sabe? Meu pai sempre disse que o homem que deve se declarar primeiro. Eu tenho isso como princípio. E sempre quando tive vontade de falar, eu lembrava desse conselho e perdia a coragem.

- Mas... você deve ter sofrido em ver a gente juntos... E você até me ajudou! - Ester estava com os olhos marejados.

- Vamos esquecer isso, Ester!

- Mas você sofreu!

- É, sofri. Mas já superei. Você gosta dele e ele gosta de você! É isso que importa.

- Não foi bem assim. Eu só comecei a gostar dele porque ele disse que gostava de mim.

- Mas vamos deixar isso pra lá.

Ester pareceu não ouvir e continuou a falar:

- Eu preciso te confessar uma coisa: eu senti ciúme de você. - falou um pouco envergonhada.

- Quê??? - Júlia foi uma verdadeira artista em fingir que não sabia de nada.

- O Leandro... ele...  estava sempre falando em você. Se preocupando contigo. Ele... até...  parecia gostar de você!

- Foi por isso que terminaram?

- Mais ou menos. Mas não precisa se sentir culpada. Ele pisou na bola em muitas outras coisas.

- Me desculpa! - O pedido de Júlia foi sincero.

- Não precisa se desculpar. Que saber? Acho que eu não estava pronta para namorar! E acho que não vou mais voltar para o Leandro.

- Você tomou essa decisão agora? Do nada?  Se foi porque descobriu...

- Não! Não foi por isso. Já vinha pensando nisso há alguns dias. E essa conversa só serviu para que eu visse... que o Leandro... acho que ele não é pra mim!

- E nem para mim! - Falou Júlia com convicção - Estou falando sério, Ester, não gosto mais do Leandro. Não precisa se preocupar. Eu posso até ser madrinha no casamento de vocês!

- Você está viajando! A gente não vai se casar!

- Tem certeza? Olha que isso pode acontecer.

- Não! Eu realmente acho que podemos continuar só como amigos. E se um dia vocês decidirem...

Júlia cortou:

- Isso NUNCA vai acontecer! - deixou bem claro sua posição - E por favor, promete não falar nada para o Leandro? 

- Prometo!

E o assunto foi encerrado ali mesmo. Ester ainda passou algumas horas com a amiga,  mas falaram sobre outras coisas, e o nome do Leandro não foi mais mencionado nenhuma vez. Até que ela se despediu e foi para casa. Mais uma vez, Júlia viu que Ester era uma amiga e tanto.

Depois que Ester foi embora, Júlia ficou repensando tudo que havia acontecido. E sentiu calafrios só em pensar se Ester e Leandro ainda estivessem namorando. Ou se o próprio Leandro tivesse descoberto aquela carta. Seria um desastre! Se levantou e arrancou a página do caderno, amassou e jogou no cesto de lixo. Os sentimentos escritos naquele papel, agora  amassado, haviam ficado no passado. E as palavras de Ester não a convenceram nem um pouquinho a pensar diferente.


Complicado Amor (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora