Capítulo 9 - Coincidência

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Era a segunda vez que Danilo se aproximava de Júlia e ele sempre se comportava daquela forma: como se fossem amigos de muito tempo. Ela pegou o livro, sem nem ao menos olhar a capa, e continuou admirada com aquela repentina aparição.

- Obrigada! - finalmente as palavras saíram.

- Estou começando a pensar que você gosta mesmo de ler. É a segunda vez nessa semana que vem à biblioteca.

"Mais vezes que no ano todo!"- admitiu Júlia para ela mesma.

- Não muito! Mas estou tentando pegar o jeito.

- Que ótimo! Não irá se arrepender.

Júlia continuava parada, em pé, sem saber muito bem o que fazer. Danilo falava naturalmente com ela, mas ela se sentia um pouco desconfortável com aquilo. Nunca foi muito boa em fazer amizade com alguém. Tinha gostado do primeiro contato que tiveram, principalmente porque naquele dia ela não estava nada bem, e conhecê-lo a havia deixado um pouco melhor. Mas, a sua natureza de pessoa solitária, tendia a afastar às pessoas, mesmo que involuntariamente. Como se soubesse o que ela estava pensando, ele perguntou:

- Eu estou lhe incomodando? Se preferir, posso lhe deixar sozinha.

Ela olhou para ele antes de responder, fitando os olhos castanhos-esverdeado pela primeira vez, e pensou que, já que precisaria fazer novos amigos, não seria nada mal começar com aquele rapaz simpático.

- Não, não está incomodando.

Ele se sentou na mesa ao lado como um convite para ela sentar também.

- Você não vai olhar o livro? - ele apontou para o mesmo.

Ela olhou. O livro se chamava A Tulipa Negra e o autor Alexandre Dumas. Folheou rapidamente.

- Parece ótimo. - as palavras foram sinceras. Parecia mesmo.

- E é sim. Fala de um homem chamado Cornelius Van Baerle que herdou uma magnífica riqueza depois da morte do pai. Ele resolveu investir todo esse dinheiro em algo que era apaixonado: o cultivo de tulipas. Mas essa paixão pelas tulipas acabou gerando inveja no seu vizinho Boxtel...

- Se vai contar contar a história toda acho melhor eu não ler.

- Me desculpe, eu me empolguei. Mas quero dizer que esse livro descreve um romance também. Eu sei que toda mulher gosta dessas coisas. - ele completou a fala com uma careta.

- Como assim, toda mulher? - Júlia se sentiu ofendida - Eu posso muito bem gostar de livro de piratas!

- Se gostasse não vivia grudada em um livro que tem o título O Primeiro Amor e outros perigos.

- Você está me espionando?

- Não. Mas não consigo evitar procurar ler o título dos livros alheios. Defeito de fábrica. - ele acrescentou com um pequeno sorriso.

Júlia estava achando seu novo amigo muito divertido. E ela estava se divertindo também. O fato de ele está muito à vontade com ela, como se a conhecesse há anos, a intrigava. Era um contraste e tanto com a timidez que ela exibia. Mas ele parecia não se importar.

- Já que estamos aqui, gostaria de te conhecer um pouco melhor, Júlia Beatriz. - era a primeira vez que ele mencionava o nome dela, e foi um tanto estranho - Se você está começando a ler agora, o que mais gosta de fazer? Desenhar? Cantar?

- Bom... acho que não tenho nenhum hobby...

- E o que faz para passar o tempo? - ele realmente parecia interessado.

- Ah... Eu gosto de assistir filmes, gosto também de assistir documentários...

- E rede sociais?

- Uso mais por necessidade mesmo. Não gosto de perder tempo com elas.

- Isso justifica porque você não aceitou minha solicitação?

Agora ela entendia o porquê de tantas perguntas!

- Você fez uma entrevista completa só para saber porque não aceitei seu convite de amizade?

- Talvez.

- Isso importa mesmo?

Ele não respondeu. Ao invés disso, mudou o assunto:

- Porque está evitando seus amigos?

- Estou sobrando agora. - ela diz desanimada.

- Eles estão namorando?

- Deu pra perceber, não é?

- Deu sim. - por um momento parecia que Danilo ia fazer mais uma pergunta, mas se calou. Júlia se admirou ao ver que o rapaz que se mostrara tão falante, agora estava em um silêncio completo. Como Júlia não era boa em puxar assunto, permaneceram assim por um curto espaço de tempo até o intervalo acabar. Foi um pouco constrangedor.
O diálogo dos dois havia se resumido em Danilo perguntar e ela responder.

Ia saindo da biblioteca quando deu de encontro com Ester.

- É aí o seu esconderijo? - Ester perguntou. - Você nem lanchou hoje. - ela entregou um toddynho para ela e um pacote pequeno de biscoito recheado - o Leandro pediu para te entregar.

Ouvir que Leandro havia lembrado - e cuidado! - dela, foi o suficiente para seu coração acelerar. Mesmo que tenha sido a própria namorada dele que se encarregou de levar o lanche.

- Obrigada. - murmurou ela enquanto recebia.

- Você tem consciência de que está um pouco estranha, não é? Para não dizer muuuito estranha! - Ester continuou.

Júlia nem respondeu. O que ela poderia dizer? "Estou evitando ver você e o meu amor juntos", não seria uma sábia resposta.

Continuando as mudanças, na volta para casa, Júlia desceu sozinha no ponto em que descia com Leandro. Ele iria acompanhar Ester até sua casa.

"Não sei porque as pessoas ficam tão bobas quando estão apaixonadas. Eu que não ia andar meio quilômetro sem necessidade só para deixar alguém em casa! Ah, alguém para fazer isso por mim! "

Ir sozinha à escola e voltar metade do caminho sozinha passaria a ser sua rotina. Ou não! No dia seguinte, quando saiu para ir à aula e chegou na primeira esquina, lá vinha Danilo.

- Nossa! Que coincidência! - disse ele com um sorriso.

Mas para Júlia aquilo não parecia ter sido coincidência!

Complicado Amor (LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora